quinta-feira, 13 de março de 2008

Carta aos Romanos - 9

Romanos 8:31-39

Os versículos finais de Romanos 8 representam o grande cântico de triunfo dos cristãos diante de todas as dúvidas a respeito da vida e da eternidade e de todas as adversidades do mundo. É, para mim, o ponto alto de toda a carta aos romanos, e um dos trechos mais lindos e mais citados de toda a Bíblia. É o cântico do infinito amor de Deus pela humanidade e pelos cristãos em particular. Quando Paulo escreveu essa carta, a perseguição aos cristãos ainda era praticamente inexistente no Império Romano, se podemos considerar como "quase inexistentes" algumas perseguições isoladas, de judeus contra cristãos, e da prisão do próprio Paulo. Para muitos estudiosos, a data mais provável para a carta aos romanos se situa entre o fim do ano 55 e o começo de 57. Em 64, Nero vai começar a perseguição aos cristãos, com o incêndio de Roma, perseguição esta que se estenderá até o ano de 68. Se culpou os cristãos em 64, era porque eles, de alguma maneira, já o incomodavam. Então, Paulo, consciente ou não, estava também profetizando, de alguma maneira, o que viria a acontecer alguns anos depois. Sabia ele no seu espírito que uma terrível nuvem carregada de sangue surgia no horizonte da igreja de Roma. Assim, este cântico de júbilo em meio ao sofrimento faz sentido para nós que o lemos agora, mas fez muito mais para os cristãos que o leram (e provavelmente cantaram) naquela época em que muitos iluminaram, como tochas humanas, as noites de Roma, e foram servidos aos leões. Eu gosto de destacar isto porque sou muito grato a Deus por todo esse povo que pagou com a própria vida por amor ao evangelho numa época tão difícil da humanidade e da igreja.

Já o v. 31 diz algo que soaria contraditório a quem não fosse cristão, mas serviria de conforto nos anos seguintes dos romanos... "se Deus é por nós, quem será contra nós?", ao qual se junta o v. 33 dizendo que "quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?" Paulo começa a fazer uma série de perguntas para, digamos, preparar e fortalecer o espírito cristão da igreja de Roma, dizendo ainda: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?" (v. 32). Dali a algum tempo, os cristãos sofreriam uma brutal oposição, seriam acusados injustamente pelo incêndio de Roma e condenados à morte, além de uma série de barbaridades que sofreriam nos anos seguintes, mas ali estava Paulo, dando-lhes a convicção de que haviam sido escolhidos por Deus para aquele momento, que mesmo que todos se levantassem contra eles, que eles não se preocupassem, pois Deus era por eles e os justificava. Se Deus não havia poupado o próprio Filho, como não lhes traria conforto e segurança numa hora tão sanguinária? Quem é que os condenaria, de fato? Os homens? Pouco importava isso... o que importava mesmo era que Deus não os condenava (v. 34) e ninguém poderia separá-los do amor de Deus em Cristo Jesus (v. 35).

Aí vem, então, a sucessão de tragédias que podiam abalá-los: "tribulação, ou a angústia, ou a PERSEGUIÇÃO, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?" (v. 35). Deve ter sido estranho para os cristãos lerem isso num período em que a perseguição ainda não era tão ferrenha, mas devia ser pressentida. Muito provavelmente, eles sabiam também, no seu espírito, e pelo Espírito (que, afinal, é o grande tema de Romanos 8 ), que as nuvens sombrias se aproximavam, e que tempos difíceis vinham pela frente. É interessante perceber que Paulo passava longe das atuais técnicas de pensamento positivo e programação neuro-lingüística... ele descrevia as coisas com as piores tintas possíveis, muito longe da atual teologia da confissão positiva, que muitas igrejas seguem. Não havia correntes da biga 0km, nem campanhas da prosperidade romana. O que ia acontecer adiante era horrível, e Paulo prepara seus leitores no v. 36: "Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro" (que mais tarde seria entendido também como "inocentes úteis para o incêndio de Roma por Nero"). Esta imagem não deixa de ser um grande chamado à unidade: a igreja romana era composta de judeus, prosélitos e pagãos convertidos a Cristo, mas a partir de então eles teriam que esquecer suas diferenças e, como ovelhas indo para o matadouro, vindas de diferentes lados, seguiriam um único caminho estreito, um único corredor da morte que os levaria ao golpe fatal. Que imagem violenta deve ter se formado na mente dos romanos que leram a carta de Paulo. Parecia que não dava mais para suportar a continuação da leitura da carta. Se o fim estava próximo, era melhor terminar por ali mesmo.

Entretanto, nos versos seguintes, Paulo dá o grande grito de vitória: "E daí? Somos mais que vencedores!!!" (v. 37) e vencedores por aquele que nos amou!!! O Coliseu não era o fim de tudo. Hoje, a maioria de nós lê este versículo com a cara triunfante, como se só pudéssemos ser vencedores na vitória abundante, mas no contexto original, eles estavam próximos de sofrer uma derrota humanamente terrível. Muitos deles morreriam nos anos seguintes, o próprio Paulo terminaria em Roma e seria martirizado no ano 66 ou 67, outros tantos teriam que fugir, e muitos se refugiariam nas catacumbas nas piores condições de vida, mas mesmo assim, eram mais que vencedores, porque tinham a garantia da plenitude da presença de Deus, pelo Espírito Santo, que certamente gemeria em seus lugares nos tempos vindouros e derramaria, como já estava derramando, o amor de Deus em seus corações. Lembram-se de Romanos 5?

Rom 5:3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
Rom 5:4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
Rom 5:5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Hoje, olhando em retrospectiva, entendemos muito mais tudo o que Paulo quis dizer, de sua ênfase na esperança em meio à tribulação, e no papel do Espírito Santo que os ajudaria. Entretanto, para os romanos de então deve ter sido um terrível presságio, mas o seu testemunho na capital do maior império que o mundo já havia visto seria decisivo para o crescimento e fortalecimento do cristianismo. O plano de Deus para a salvação da humanidade havia atingido seu ápice em Jerusalém alguns anos antes, mas era necessário passar por Roma para atingir o mundo. O preço seria alto, mas os versículos finais de Romanos 8 apontam para a grande glória que lhes estava reservada:

Rom 8:38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades,
Rom 8:39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

Paulo e muitos dos seus leitores pagariam com a própria vida, mas nada, absolutamente nada, poderia separá-los do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador.

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