quarta-feira, 12 de março de 2008

Gondim e a ortodoxia

A revista Ultimato publicou um artigo do Ricardo Gondim, em que ele fala sobre sua preocupação com as novas gerações de pastores, em como eles reagirão diante do evangelho fácil que é, muitas vezes, literalmente "vendido" hoje. 

Embora eu particularmente não seja um fã do Gondim, e respeite suas idéias, acho que o artigo está muito bem escrito e aponta problemas e soluções que podem ser implementadas. 

Gondim atribui a responsabilidade por essa guinada na formação de novos líderes aos reitores e professores de seminários, a quem caberia dar uma formação mais ética e humanista, sem perder o tom da graça do evangelho. 

Recomenda a leitura de livros da literatura brasileira, bem como poesia. Em outro ponto, dá um conselho que eu acho importante para todo cristão:

Aconselho o retorno da meditação bíblica, de aulas em que se leriam as Escrituras em silêncio. Aulas com o objetivo de inocular nos alunos o amor pela Palavra sem terem de tirar verdades práticas para um próximo sermão. Eles descobririam a riqueza de aquietar a alma e ouvir a inaudível bruma com a voz do Espírito Santo. Os professores incentivariam que suas classes se familiarizassem com os pais do deserto. Aconteceria uma revolução, pois teríamos preces menos utilitárias e jejuns sem tentar coagir a Deus.

Fazia tempo que eu não lia ou ouvia alguém se lembrando deste aspecto tão negligenciado da vida cristã, que é exatamente o silêncio e a meditação. Infelizmente, o "mundo" evangélico se tornou um "mercado" altamente competitivo, em que a pressa consome a perfeição, e os novos crentes e líderes simplesmente se esqueceram da importância da contemplação. É muito bom que os pais do deserto sejam relembrados num momento desses.

Gondim sugere, ainda, um contato mais próximo com os necessitados, no Brasil e no mundo, um estágio em lugares e países que permitiriam entrar em contato com a pobreza e a miséria do mundo. Infelizmente, acho que este conselho vai passar desapercebido, pois o exemplo de muitas igrejas mostra que, como o próprio autor do artigo lembra, "quem não tem competência não se estabelece". Vivemos na era do desempenho, e as igrejas protestantes, sejam elas tradicionais ou não, não estão livres desta praga que assola o mundo moderno.

Já perto do fim do artigo, Gondim afirma que "o cristianismo não precisa advogar tanto a ortodoxia. O mundo já não se interessa pela defesa de verdades, quaisquer que sejam elas. Existe um fastio quanto a dogmatismos — ideológicos ou religiosos. O anseio é por coerência entre discurso e vida". 

De fato, todos nós queremos que o discurso sempre se faça acompanhar da prática e do exemplo, mas eu acho que o cristianismo chegou a este triste ponto justamente por não advogar tanto a ortodoxia. 

Talvez um erro comum, seja confundir ortodoxia com fanatismo e dogmatismo, quando é justamente a segurança de se ter um caminho a trilhar, que já foi percorrido por outros grandes cristãos do passado. 

Defender os pontos de vista do cristianismo, mesmo que chamados de "dogmas", de maneira sábia e respeitosa, não pode ser visto como algo intrinsecamente mau. 

Pelo contrário, eu acho que o grande erro das igrejas evangélicas atuais é este desprezo pelo patrimônio comum de todos os cristãos, que é a ortodoxia. 

Certamente, não foi o pensamento ortodoxo que levou as igrejas ao seu estado atual, e o retorno à ortodoxia me parece o melhor remédio para todos os erros que tanto nos incomodam.

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