quarta-feira, 19 de março de 2008

Infância perdida

O caso da garota torturada em Goiânia (ver notícia aqui), em que a "empresária" Silvia Calabresi de Lima mantinha em cárcere privado uma menina de 12 anos, e a submetia constantemente a todo tipo de constrangimento e tortura, é um daqueles absurdos que somos obrigados a conviver no Brasil. Outro dia foi o caso da adolescente de 15 anos que era mantida como uma espécie de escrava sexual em uma cela com 20 presos homens, por mais de um mês, em Abaetetuba, no Pará. O desprezo pela vida humana neste país é impressionante. Aparentemente, não há maiores semelhanças entre os dois casos, a não ser o fato de ambas as garotas serem menores de idade. Entretanto, uma análise mais aprofundada mostra que o Brasil tem um descaso gigantesco com as crianças e adolescentes, tidas como algo descartável e que não necessitam de nenhum cuidado.

O caso do Pará desnuda uma série de desvios de comportamento de autoridades que se esquecem que são funcionários públicos, que é o povo que lhes paga, e que agem como se nada tivessem a ver com os destinos humanos. O caso de Goiás revela um pequeno retrato do Brasil, em que uma classe média - nem tão alta assim -, se julga acima do bem e do mal, e considera os mais pobres como escravos a quem pode explorar livremente. Eu fico imaginando a quantidade de garotas e adolescentes que, a título de um melhor cuidado do que teriam nas suas famílias desestruturadas, são destinadas a casas de classe média onde prestam serviços domésticos sem registro em carteira, sem receber nem salário nem educação, e ainda são submetidas a todo tipo de desmando e violência, como se lhes estivessem prestando um grande favor. Quantas infâncias são perdidas neste país por falta de uma maior atenção do Estado quanto à educação, segurança, trabalho e distribuição de renda, mas quantas crianças são exploradas por pessoas insuspeitas, que se escondem nos seus apartamentos para praticar o sadismo de torturar filhos dos outros. Tudo indica que este caso de Goiânia é uma aberração, mas eu não me surpreenderia se outras aberrações pululassem nas páginas dos jornais. Resta saber se este caso é mais um daqueles que concorrerão ao Troféu Impunidade do ano. Do Brasil (e de sua classe média) tudo se pode esperar.

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