quarta-feira, 26 de março de 2008

O evangelho de Lucas - parte 14

No capítulo 10 de Lucas, Jesus ainda se encontra indo para Jerusalém. Em sua caminhada, Jesus resolve novamente designar pregadores para pregarem. Desta vez Jesus manda setenta pessoas em grupos de 2. Os mesmos avisos dados aos apóstolos são dados por Jesus àqueles pregadores. Como a seara é grande, houve o aumento de pregadores.Jesus demonstra a preocupação de que ninguém faça qualquer saudação pelo caminho. Em seu livro Usos e costumes dos tempos bíblicos, Ralph Gower comenta os motivos:

Outro problema surpreendente era o tempo gasto em saudações. As saudações durante uma viagem tomavam tempo desmesurado. Não se considerava educado passar simplesmente pelas pessoas. Era necessário fazer e responder perguntas tais como: "Para onde está indo?... De onde vem?... Como se chama?... Quantos filhos tem?" E assim por diante. Jesus considerava essas saudações um problema tão grande que disse a seus discípulos: "A ninguém saudeis pelo caminho" (Lc 10:4). Ele também censurou o tempo que alguns dos líderes religiosos da época gastavam com as saudações (Lc 11:43; 20:46). Jesus certamente se impacientaria com as conversas fúteis nas reuniões convencionais de hoje. - página 235

Por outro lado, a "falta de educação" durante as viagens era compensada pela educação ao chegar em uma casa, como vemos no versículo 5, onde Jesus diz para eles falarem antes de mais nada "A paz seja nesta casa", cumprimento comum naquela época. É interessante que apesar de haver estalagens naquela época, Jesus não recomenda que seus discípulos se hospedem nelas. Acontece que em muitas destas estalagens havia muita prostituição, por isto geralmente se hospedava em casas. É desta forma que naquela época a hospitalidade teria se tornado tão importante.Como resposta a esta hospitalidade, o pregador deveria ficar na mesma casa. Ele não deveria se mudar o tempo inteiro, demonstrando insatisfação com a hospedagem. Devemos ter isto em mente, pois o cristão deve acima de tudo ser hospitaleiro e educado.
Então a pregação consistia sempre em dizer que o reino de Deus já havia vindo, que era uma realidade. Para quem atendesse de forma positiva à esta notícia, os discípulos curariam enfermos, talvez como demonstração desta realidade. Para os que rejeitassem esta mensagem, deveria-se mostrar da mesma forma uma rejeição deles, mostrando-se que até o pó daquela terra foi sacudido. Em todos os casos, porém, a realidade do Reino deveria ser pregada. Apenas para aqueles que creram, é que são dados sinais e milagres.
Indicando como o Juízo Final será justo, Jesus nos fala que cidades que não puderam ver seus milagres serão julgados com mais brandura que cidades que tiveram esta oportunidade.
Novamente no versículo 19, Jesus diz que deu poder a seus discípulos, mais uma vez nos confirmando sua divindade. Pois somente Deus poderia dar poder. Profetas devem sempre glorificar a Deus pelo seu poder.
E nossa alegria não deve ser por que recebemos um dom especial de Deus. Como Paulo disse, todos recebemos dons, e cabe a nós usá-los para o bem da comunidade. Nossa alegria deve ser primeiro por ter nossos nomes escritos no céu, pois aí sabemos que estamos em paz com Deus.
E a alegria dos discípulos era tanta que o próprio Cristo se alegrou. É quando nos diz que a sabedoria de Deus reside nos pequeninos. O paradoxo é algo muito presente nos discursos de Cristo, e sabemos mesmo que aqueles mais simples são os que mais se aproximam de Deus. Os pobres, os desabrigados, os que estão em dificuldades, eles são os que possuem uma relação melhor com Deus, pois eles acima de tudo conseguem transceder a dor e o sofrimento, mantendo acesa sua fé em Deus. Talvez por isto no capítulo anterior Cristo disse que para ser seu discípulo, deveria-se pegar a sua cruz. E este Deus que se encontra, Este é revelado por Cristo.
No versículo 23, alguns tentam criar uma contradição com João 20:29. Enquanto que o primeiro "bem-aventurados" significa grandemente favorecidos, enquanto que o segundo "bem-aventurados" indica "digno de ser aplaudido". De qualquer forma, mesmo que os sentidos fossem iguais, há uma diferença entre requerer a visão como base de fé, como no caso de Tomé, e fazer uso da visão no processo de exercício da fé, como os apóstolos.
No versículo 25, o doutor da lei desafia Jesus a falar qual a lei mais importante, certamente para medir o conhecimento de Cristo, testar se é mesmo aquilo que foi dito dele. Jesus pergunta sobre o que a Lei dizia, pois certamente tudo que era necessário para a vida Eterna era dito ali. O doutor da Lei respondeu corretamente, mas certamente quis parecer justo diante de todos, perguntando quem era o próximo dele. Jesus então inicia uma de suas parábolas mais conhecidas: a do bom Samaritano.
Era muito comum na época que os sacerdotes e levitas que trabalhavam no templo em Jerusalém morassem em Jericó, sendo esta uma rota muito comum na época. Assim, o viajante foi assaltado, outra coisa muito comum naquele tempo, principalmente naquele caminho. Assim, os representantes da Lei, sacerdotes e levitas, passaram por aquele homem, sem lhe dar socorro. É interessante como que da mesma forma, a Lei apenas assiste a pessoa de longe, sem no entanto ter compaixão por ela. Mas o samaritano, povo totalmente marginalizado pelos judeus, que como vimos no capítulo anterior habitavam naquela região que estava Cristo e que provavelmente aquele mestre da Lei evitava, aquele samaritano teve pena do viajante. Ele tratou do viajante da forma que se fazia antigamente, que era usando vinho para desinfetar o machucado, passando o óleo para cicatrização logo depois.
Logo depois o levou para uma estalagem, onde pagou pelos serviços até que o viajante ficasse melhor. Deixou 2 denários, que eram as moedas de prata, inferiores apenas ao áureo em valor (25 denários era igual a um áureo). Embora em teoria as estações de muda oferessessem acomodações gratuitas, a alimentação, forragem e outros serviços eram pagos.
Quem era o próximo daquele homem? Certamente era o samaritano, mostrando-nos que muitas vezes nossos conceitos podem estar errados, que mesmo aquelas pessoas que temos menos estima ou até mesmo que não gostamos, pode nos ser as melhores amigas. Devemos tratar todos igualmente.
O fim do capítulo nos fala de Marta e Maria, duas irmãs que receberam Cristo em uma aldeia, não nomeada, provavelmente Betânia. Se for este o caso, Lázaro seria irmão delas (Jo 11:1). Marta então reclama que sua irmã não está a ajudando. No entanto, Jesus a avisa que antes de tudo, Maria está com razão. Marta se deixou atribular por coisas materiais, como de qual forma receber seus convidados, enquanto que Maria estava ouvindo os ensinos de Cristo. Muitos deixam que seu trabalho e tarefas diárias tomem conta de sua vida, esquecendo-se de Deus. Sejamos coerentes e vamos dar mais atenção ao que Cristo tem para nos dizer.

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