terça-feira, 1 de abril de 2008

O evangelho de Lucas - parte 16

O capítulo 11 se inicia com um relato sobre a oração. Vendo que Jesus estava orando, seus discípulos se aproximaram e perguntaram como deveriam orar. A oração faz parte da vida de uma pessoa dedicada a Deus, como o próprio Salmo diz:

(Sl 109:4) Em paga do meu amor são meus adversários; mas eu me dedico à oração.

Dos evangelistas, Lucas é o que mais retrata Jesus em oração. Ele estava orando em seu batismo (Lc 3:21), retirou-se para o deserto em oração (Lc 5:16), passa toda a noite em oração (Lc 6:12), estava orando à parte (Lc 9:18), subiu ao monte para orar, e orava quando se transfigurou (Lc 9:28, 29), orava antes de sua prisão (Lc 22:41).

Seus discípulos o esperaram terminar de orar, para pedir a ele que os ensinasse. E, de fato, fizeram muito bem. É necessário ter humildade para orar (Lc 18:10-14). Além do mais, não sabemos o que pedir, por isto precisamos de instrução (Rm 8:26). Enquanto que hoje é o Espírito Santo que nos auxilia, naquela época Jesus fazia isto, fazendo o papel de Consolador (Jo 14:26). Por isto é sempre uma boa prática antes da oração, pedir auxílio para orar, demonstrando que sua vontade está entregue à Deus, que o que a pessoa deseja é algo agradável a Deus, e que mesmo que nossa oração não seja atendida, deixando-nos às vezes aflitos e desconsolados, nós entendemos que Deus sabe o que é melhor para nós. Quem sabe Deus envia um anjo ao menos para nos fortalecer (Lc 22:42).

Muitos comentaristas dizem que este relato é diferente do relato do sermão da montanha, tanto que Jesus apresenta uma versão mais resumida daquele ensino sobre a oração, e por que também os discípulos aqui mencionam João.

Quando orardes, dizei, é o que Jesus diz iniciando seu ensino. Muitos tomam a oração ensinada por Cristo apenas como um roteiro. Outros tomam esta oração sempre como uma forma fixa, como um mantra. Não devemos ser extremistas. Nada nos impede de orar com as palavras de Cristo, pois mesmo sendo um roteiro como alguns imaginam, se pronunciarmos as palavras de Cristo ainda estaremos seguindo este roteiro. Não devemos pronunciar de forma repetitiva esta oração, primeiro por que isto é proibido por Cristo (Mt 6:7), segundo, por que apesar de Cristo dizer "Quando orardes, dizei", Jesus não repete as palavras de Mateus, que ele ensinou antes, mas as resume, apresentando o principal. Devemos ser capazes de identificar o essencial, e identificando-o, podemos exprimí-lo com as palavras que o Espírito melhor nos instruir.

Então, Jesus inicia seu ensino, dizendo antes de tudo: "Pai, que Seu nome seja santificado". Devemos iniciar gloficando a Deus, antes de termos Sua graça e perdão, pois antes de tudo, Sua glória nos é muito cara. O que quer dizer santificar Seu nome? Segundo Barnes, é um pedido para que o nome de Deus seja celebrado, venerado, e tido como sagrado em todos os lugares, e receber honra devida de todos os homens. Hoje o nome de Deus é desconhecido por todos, já que a forma de pronunciá-lo foi perdida. Mas veja, Jesus diz "Pai, santificado seja o teu nome", Pai e não outro nome qualquer. Assim os cristãos devem conhecer seu Deus, pois é pela fé que se tornam seus filhos (Jo 1:12), tema central do Evangelho de Cristo. O filho que chama seu pai pelo nome próprio quer destacar a distância que tem de seu pai, o filho que chama seu pai de pai, quer mostrar a proximidade de seu pai. Assim, chamamos Deus de Pai por que Ele agora está próximo de nós, nos perdoou, e nos ama. Por isto, todos honram Seu nome, por isto todos o celebram. Assim devemos santificar o nome de Deus.

Que venha seu reino. Apesar de Cristo ter dito que este reino chegou, pedimos ainda a vinda do reino de Deus, pois o reino de Deus deve ainda vir de forma visível ao mundo, transformando-o no mundo que Deus planejou desde o princípio dos tempos. Devemos pedir sua vinda, pois é nesta vinda que teremos nossas promessas cumpridas, é nela que Deus será tudo em todos. Devemos orar pelo cumprimento das promessas feitas para nós, pois elas foram feitas para nos encorajar, e toda vez que nós oramos por elas, nos lembramos delas e de quem pode cumprí-las.

Depois de glorificarmos e lembrarmos de Deus e suas promessas, Jesus nos lembra que devemos pedir pelo nosso sustento. Não devemos nos inquietar por causa do alimento (Mt 6:31), mas devemos entregar esta preocupação a Deus. Por isto mesmo, pedindo a Deus nosso pão de hoje, entregamos nas Suas mãos esta inquietação, e confiamos em sua Providência.

Perdoa nossos pecados, assim como perdoamos aqueles que nos deve. Não devemos ter dois conceitos diferentes sobre perdão. Se pedimos perdão a Deus gratuitamente, devemos igualmente perdoar gratuitamente. Se perdoamos somente se nossos devedores nos pagam, então seremos perdoados apenas se pagarmos até o último ceitil (Mt 5:26). Alguns espíritas defensores da salvação por obras usam isto demonstrando que a obra de perdoar deve ser feita para se obter perdão, mas erram grandemente ao fazer isto. Eles desconhecem o conceito de "salvos, mas pecadores" que o apóstolo João nos apresenta (1Jo 1:7). É este apóstolo que nos explica as palavras de Cristo, indicando que aqui Ele ensina a confissão de pecados para a purificação, e não para a salvação. Pois a oração não está sendo ensinada para o salvo, aquele que creu em Jesus Cristo, o Filho de Deus? Pois no início da oração, Jesus não ensina que chamemos Deus de Pai, indicando assim que somos feitos filhos de Deus através da fé? (Jo 1:12).

Não nos deixe cair em tentação, é um pedido para que Deus nos auxilie sempre. Somos fracos, mas podemos tudo n'Ele (Fp 4:13). Por que não pedir força para não pecar?

Terminada a oração, Cristo ensina a persistência. Todo aquele que deseja algo, está sempre persistindo com aquilo. Por isto Cristo nos fala do homem que queria muito pão, e pedia para seu amigo. Sendo amigo, ou sendo importunado, aquela pessoa acabaria dando o que queremos. Se para homens, o pedido com persistência pode ser atendido, por que não o pedido para o Pai?

Depois, Lucas nos relata uma expulsão de demônios por parte de Cristo, onde os fariseus acusaram Cristo de expulsar Deus por poder de Belzebu. Mas Jesus mostra a incoerência de tal declaração, pois Satanás não deveria querer a destruição de seu próprio reino.

No meio da discussão, uma mulher declara bem-aventurada aquela que amamentou Cristo, ou seja, sua mãe. Apesar de Maria ter sido uma mulher exemplar, ela não é maior que aqueles que observam a palavra de Deus. Por isto católicos muito erram ao dar mais valor à Maria do que à palavra de Deus.Respondendo então aos sinais pedidos pelos fariseus, Jesus recorre então a esta mesma Palavra. Ele primeiro aponta Jonas como sinal. Jesus é como Jonas, que foi pregar aos ninivítas sobre arrependimento. Os ninivitas, porém, se arrependeram, os fariseus não. E Jesus é muito maior que Jonas. Jesus é muito maior que Salomão, mesmo assim, a rainha de Sabá veio ouví-lo, mas os fariseus não. Por isto os fariseus seriam julgados por eles, pois os fariseus recusaram ouvir maior sinal que aqueles que estavam na Palavra de Deus.

Como os olhos são o que iluminam o mundo para o corpo, o entendimento é o que ilumina a alma, e a guia. Portanto, deixemos nosso entendimento nos guiar a Deus, não vamos impedir nosso conhecimento de iluminar nossa alma, colocando-o debaixo da cama.

O capítulo termina com o almoço na casa do fariseu. Este se admirou de que Jesus não se lavava antes de almoçar. Por isto condenou Jesus todas as atitudes exteriores dos fariseus e doutores da lei. Pois mais importante que atos externos, são os atos internos. Estes inclusive são os que guiam de forma perfeita os atos externos.

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