sexta-feira, 11 de abril de 2008

O evangelho de Lucas - parte 21



O capítulo 14 de Lucas começa com a visita de Jesus à casa de um dos principais fariseus num sábado, para comer pão (v. 1). O sábado era um dia em que os fariseus mais abastados se esforçavam para dar banquetes a fim de demonstrar poder e a sua fidelidade às próprias tradições que haviam criado. Algumas delas diziam, por exemplo, que aquele que desse 3 banquetes num sábado, deduziria 3 punições no juízo final. Certamente Jesus havia sido convidado pelo fariseu rico para um banquete em sua casa, o que pode significar tanto o respeito pela sua autoridade espiritual como uma maneira de averiguá-lo (e vigiá-lo) mais de perto, para que os demais fariseus pudessem checar suas motivações. Ocorre que diante de Jesus estava um hidrópico (v. 2), um portador de uma doença rara chamada hidropisia, que é o acumulo de líquidos ou serosidade nas células ou em cavidades do corpo, geralmente no abdômen, causado por problemas renais, cardíacos ou circulatórios. Provavelmente, o problema do hidrópico era visível, dada a deformação física que pode acarretar, o que lhe causava profundo constrangimento, sobretudo diante de uma platéia de fariseus. Jesus aproveitou o momento para perguntar-lhes se era lícito curar aquele homem no sábado (v. 3). Como eles permaneceram em silêncio, Jesus simplesmente curou o hidrópico e o despediu (v. 4), não perdendo a oportunidade de ironizar os fariseus, dizendo que se um filho deles, ou mesmo um boi de seu gado, caísse num poço, eles não mediriam esforços para salvá-los, ainda que fosse no sábado (v. 5), o que deixou os seus ouvintes sem resposta (v. 6).

O ambiente era propício para que Jesus continuasse pensando na ceia e no banquete como alegorias para os ensinamentos que tinha para repartir com os que ali estavam presentes. Reparando na maneira como eles escolhiam os lugares à mesa, Jesus contou-lhes uma história (vv. 7-11), não propriamente uma parábola, já que era de fácil compreensão para quem o estava ouvindo naquele momento, aconselhando-os que, se fossem convidados a um casamento, não deveriam escolher os primeiros lugares, para não ocorrer que, chegando alguém mais importante, fossem convidados a sentar em lugares menos honrosos. Pelo contrário, deviam escolher os últimos lugares da mesa para que, se fosse o caso de trocarem de assento, poderem ir para um melhor. Como até hoje acontece em determinadas ocasiões especiais, em várias culturas do mundo, os lugares à mesa demonstram hierarquia ou importância das pessoas que ali se reúnem. Naquela época, não era diferente. Quanto mais próximo do anfitrião ou do homenageado do banquete, maior era o conceito e a influência da pessoa. Os fariseus davam especial atenção a esses detalhes, pois era uma maneira pública de demonstrar o quão importantes eram num determinado contexto social, o que implicava também no risco de ver a sua decadência quando fossem convidados a se sentarem em outro local que não aquele que cobiçavam ou que já se haviam acostumado. Jesus aproveita este hábito fariseu de dar festas, ainda, para dizer que não convidassem apenas os amigos e parentes, ou as pessoas importantes (v. 12), porque isso era apenas uma troca de favores e amabilidades, quando o que eles deveriam fazer mesmo era convidar os pobres e os rejeitados pela sociedade (v. 13), pois aí não haveria nenhuma recompensa, ou troca de favores (v. 14), e a única recompensa viria na ressurreição dos justos. Como Jesus já dissera no Sermão da Montanha:

Mat 5:46 Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo?
Mat 5:47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?
Mat 5:48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.

Fica claro, também, que Jesus está querendo dizer aos fariseus que os seus costumes e tradições, o seu desejo de serem os primeiros em tudo e dizer quem podia ter acesso a Deus (ou não), não correspondia à verdade do reino dos céus. Ele já havia dito pouco antes, que "há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos" (Lucas 13:30), e "todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado" (Lucas 14:11). Provavelmente, muitos fariseus presentes ao banquete estavam entendendo o que Jesus queria dizer, e talvez seja por isso que um deles tenha tentado desviar a conversa dizendo "Bem-aventurado aquele que comer pão no reino de Deus" (v. 15), ao que o Mestre não dá nenhuma atenção, mas aí passa a contar uma parábola para reforçar o que já vinha dizendo, não por acaso a parábola da ceia (vv. 16-24), que um "certo homem" promoveu, e convidou muitas pessoas (v. 16) na certeza de que elas compareceriam e festejariam com ele. Era uma ceia de graça e representava a graça de Deus. Entretanto, na data e horário em que o banquete estava preparado, seu servo foi avisar os convidados (v. 17), mas ninguém apareceu (v. 18). Todos tinham uma desculpa na ponta da língua (vv. 19-20), e o servo voltou ao seu senhor que, irado, mandou-o sair pelas ruas e convidar todos os rejeitados da cidade, os pobres, aleijados, cegos e coxos (v. 21), ou seja, toda aquela gente que os fariseus julgavam impuros e indignos das menores obrigações religiosas. Estes aceitaram o convite do senhor que, ainda não contente por haver lugares vazios, mandou o servo sair de novo para buscar mais gente nos lugares mais ermos e inóspitos (v. 23), garantindo que nenhum daqueles que haviam sido convidados primeiro teriam lugar à sua mesa. Jesus queria dizer, com isso, que a graça de Deus havia sido oferecida aos convidados mais importantes, aqueles que haviam primeiro ouvido o chamado do Senhor, os judeus, mas eles o haviam rejeitado. Assim, a graça de Deus deveria ser estendida a todos os outros povos, para que todos os "rejeitados" que aceitassem o convite de Jesus pudessem participar da mesa do Senhor, junto com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus (Mateus 8:11).

Há outra maneira de ser ler esta parábola, entretanto. Há muita gente que ouve o evangelho de Deus e por ele se interessa por anos a fio, mas nunca toma uma decisão verdadeira de segui-lo. Pelo contrário, vai sempre adiando, dando uma desculpa aqui, outra ali, de modo que nunca se compromete. Nunca é hora de converter-se a Cristo. Este tipo de gente certamente não chegará a bom porto algum, seja nesta vida, seja na próxima, pois a graça de Deus lhe concedeu várias oportunidades, mas nenhuma foi aceita. Em seguida, Lucas relata Jesus em outra situação, já com grandes multidões acompanhando-o (v. 25), em que Ele mostra os "custos" em que alguém incorreria se decidisse segui-lo, fosse com a família (v. 26), fosse com o carregamento da sua cruz (v. 27). Era preciso, portanto, pensar bem e avaliar tudo o que envolvia o fato de alguém se tornar cristão (vv. 28-33). Converter-se a Cristo envolve renúncia a uma série de situações e relacionamentos, e isto não pode ser feito levianamente. E, uma vez convertido, o crente é comparado ao sal, tem que temperar o mundo que o cerca, tem que dar-lhe sabor (v. 34), senão será lançado fora (v. 35).


Obs.: para acessar o estudo de Lucas 14 feito pelo Gustavo, clique aqui.

2 comentários:

  1. Gostei muito,muito, a forma como foi abordado( contado e explicado)o texto biblíco, o que o tornou compreensível para TODOS os que o buscam. PARABÉNS e obrigada!

    ResponderExcluir
  2. gostei muito como esta passagem foi abordada trzendo para nos um ensinamento de que deus nao nos permitira vivermos pelo resto dos nossos dias enbaixo de humilhaçao seja ela qual for

    ResponderExcluir

Obrigado por visitar O Contorno da Sombra!
A sua opinião é bem-vinda. Comentários anônimos serão aprovados desde que não apelem para palavras chulas ou calúnias contra quem quer que seja.
Como você já deve ter percebido, nosso blog encerrou suas atividades em fevereiro de 2018, por isso não estranhe se o seu comentário demorar um pouquinho só para ser publicado, ok!
Esforçaremo-nos ao máximo para passar por aqui e aprovar os seus comentários com a brevidade possível.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails