quarta-feira, 21 de maio de 2008

Carta aos Romanos - 21

OBS.: Os estudos anteriores de Romanos (partes 1 a 20) foram feitos pelo Hélio. A partir deste texto, a Carta aos Romanos será revisitada pelos estudos feitos pelo Gustavo.




Talvez uma das mais importantes epístolas do Novo Testamento, é aqui que muito da teologia de Paulo é tratada. Sua autoria é indiscutivelmente de Paulo. Sua autoridade nunca foi questionada na igreja. Segundo Barnes, apenas seitas consideradas heréticas questionam a autoridade desta epístola: Ebionitas, Encratitas e Cerintianos, apesar de não negarem que tenha sido escritas por Paulo. Muitos concordam que a epístola foi escrita em grego apesar de ser direcionada para pessoas de fala latina. Também não há debate sobre este ponto, pois segundo Barnes: 1. A epístola foi escrita para ser lida também em outras igrejas, compare com Colossenses 4:16. E como a língua grega era mais difundida do que a latina, ela serveria melhor para este propósito.

2. O grego era entendido naquela época em Roma. Os jovens romanos aprendiam grego. Quanto a isto, Cícero escreve (Pro. Arch.) "A linguagem grega é falada em quase todas as nações; o latim é confinado a nossas comparativamente limitadas fronteiras". Tácito dizia (Orat. 29) "Um bebê nascido agora é entregue a uma enfermeira grega". Juvenal (vi. 185) fala de ser indispensável para uma boa educação o conhecimento de grego.

3. Não era impossível para os judeus em Roma, que constituíam uma colônia separada, estarem mais acostumados com o grego do que com o latim. Eles tinham uma tradução grega das Escrituras, não latina. E é bem possível que eles usassem a linguagem que usavam nas Escrituras, e que eram amplamente usada pelos gentios de todo o império.

4. O próprio apóstolo provavelmente era mais familiar com o grego do que com o latim. Ele era nativo de Cilicia, onde sem dúvida era falado o grego. Muitas vezes citava poetas gregos em suas pregações e epístolas, como em Atos 21:37; 17:28; Tito 1:12; 1 Coríntios 15:33.

A epístola é colocada em primeiro lugar na Bíblia não por ter sido a primeira escrita, mas pelo tamanho e importância. Há razões para se acreditar que as epístolas aos Gálatas, Primeira aos Coríntios e talvez as duas aos Tessalonicenses foram escritas antes desta. Sobre quando foi escrita, há poucas dúvidas, que o próprio Barnes nos explica. No ano de 52 ou 54, o imperador Cláudio baniu todos os judeus de Roma. Em Atos 18:2 temos um relato do encontro de Paulo com um judeu chamado Áquila e Priscila, que partiram de Roma em consequência deste decreto, e que aconteceu em Corinto. Em Romanos 16:3,4, Paulo fala para a igreja saudar os dois, os quais expuseram seus pescoços por ele. Este ato deles deve ter sido portanto depois do ano 52. Em Atos 18:19, Paulo deixa Áquila e Priscila em Éfeso, enquanto pregava em regiões adjacentes. Em Atos 19:1 Paulo retorna a Éfeso, onde fica por dois anos (Atos 19:10). Provavelmente neste momento escreve sua primeira carta aos Coríntios, onde Paulo menciona Áquila e Priscila (1 Co 16:19). Assim, a epístola aos Romanos não poderia ser escrita enviando saudações para Áquila e Priscila até que eles deixassem Éfeso e fossem novamente para Roma. Prosseguindo, quando Paulo escreveu esta epístola, ele estava prestes a ir para Jerusalém por causa da coleta para os pobres santos de lá (Romanos 15:25,26). Depois de concluir isto, ele pretendia ir a Roma (Romanos 15:28). Olhando o livro de Atos, podemos determinar quando foi isto. Em Atos 19:21 temos uma descrição exata desta ocasião. Neste tempo ele manda Timóteo e Erasmo para a Macedônia enquanto fica nas igrejas da Ásia por algum tempo (Atos 19:22). Depois disto, ele mesmo foi para a Macedônia (Atos 20:1,2) passando pela Grécia, e ficou ali três meses (Atos 20:3). Nesta jornada é quase certo que ele foi para Corinto (2 Coríntios 1:15,16), onde se supõe que a epístola tenha sido escrita. Depois disto, ele foi para Jerusalém, onde ficou preso por dois anos (Atos 24:27). Ele foi mandado a Roma por volta do ano 60. Adicionando o tempo de viagem e o aprisionamento, podemos concluir que Paulo deve ter escrito esta epístola em torno do ano de 57 D.C. Também está claro que a epístola deve ter sido escrita de Corinto. Em Romanos 16:1, Paulo menciona Febe, membro da igreja de Cencréia. Ela deveria estar responsável pela epístola. Cencréia era a cidade portuária de Corinto, e Corinto foi manifestamente sua residência (2 Coríntios 1:15,16). Também é mencionado Erasto como tesoureiro da igreja presente nesta cidade (Romanos 16:23), enquanto que se fala que ele ficou em Corinto (2 Timóteo 4:20). Tudo isto indica que a carta foi escrita em Corinto no ano 57 D.C. Sobre a fundação desta igreja, muito foi discutido sobre o assunto. Para católicos, a fundação dela se deve aos apóstolos, talvez baseando-se na citação de Ireneu:

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-no-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, sereúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos.

Ireneu, Contra as Heresias, capítulo 3, livro 3.

Porém podemos perceber que Ireneu não estava correto nesta informação. O próprio Paulo escreve para uma igreja em Roma, dizendo que pedia em orações para ter uma ocasião de estar com aquela igreja (Rm 1:10), pois muitas vezes ele se propôs a visitá-los, sendo impedido até aquele momento (Rm 1:13). Se Paulo foi impedido de ir àquela igreja até aquele momento, ele não poderia tê-la fundado. Resta saber quem teria fundado aquela igreja. Por outro lado, se Pedro estivesse em Roma, certamente seria mencionado nas saudações de Paulo àquela igreja. O mais provável é que a igreja tenha surgido sem a fundação de nenhum apóstolo. Em Atos 2:10 há a menção de forasteiros romanos, o que pode levar a crer que estes após sua pregação, onde foram convertidos quase três mil pessoas (At 2:41).


Rembrandt, "O Apóstolo Paulo na Prisão"




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