terça-feira, 27 de maio de 2008

O elefante e a formiga

No programa Canal Livre do último domingo, na Band, o entrevistado foi o governador de Roraima, José de Anchieta Junior. Para quem imaginava que somente a Globo e a Veja estivessem se esforçando para promover a visão dos índios como os novos vilões que permitam à imprensa golpista correr para as quarteladas, o programa foi uma triste surpresa. Lá pelas tantas, o jornalista Antônio Teles perguntou ao governador como ele encarava a organização dos indígenas para enfrentar o problema, mostrando claramente que estavam preocupados com a ajuda de terceiros aos indígenas nas mobilizações e negociações com o governo. Aí eu fiquei pensando cá com os meus botões: a direita deste país está tão desavergonhada que eles não querem nem que os indígenas se organizem. Devem estar com saudade dos primeiros colonizadores, que não tiveram interlocutores com os índios, apenas chegaram e os dizimaram. Será que eles querem que os índios se organizem eles mesmos para "dialogar" com os brancos em nível de igualdade? Ora, no genocídio dos índios nas Américas, os milhões que foram exterminados estão devidamente enterrados para comprovar que não há "organização" indígena que resista à força dos canhões. Alguém precisa avisar nossos preocupados jornalistas que o princípio da igualdade, inserido na Constituição, significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Logo, é necessário um interlocutor institucional que faça a mediação (e o nivelamento) entre culturas tão distintas. Afinal, o elefante só dialoga diretamente com a formiga nas fábulas de Esopo, ou nos gibis da Mônica.

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