quarta-feira, 21 de maio de 2008

Trindade - antecedentes históricos

Entre os anos de 325 e 332, exatamente quando Atanásio estava assumindo seus deveres como bispo de Alexandria, o imperador Constantino começou a mudar de partido no assunto, sob a pressão de bispos e conselheiros que secretamente simpatizavam com Ário e dos dois bispos que o apoiaram e foram depostos e exilados. A força da animosidade que se seguiu ao concílio foi intensa. As discussões e o tumulto não tinham cessado. Alguns que tinham assinado o credo e os anátemas contra os arianos ficaram horrorizados com a interpretação sabeliana distorcida aplicada ao credo por Marcelo e outros. Conseguiram conquistar a confiança do imperador e este começou paulatinamente a pensar em mudar o credo e até mesmo a restaurar Ário e os bispos de Nicomédia e Nicéia.
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Enquanto Atanásio estava no exílio em Tréveris, Ário morreu, na véspera do dia em que seria restaurado como um presbítero cristão numa cerimônia especial em Constantinopla. Alguns estudiosos especulam que tenha sido envenenado por seus inimigos. Seja como for, sua morte em 336 ocorreu poucos meses antes da morte do próprio Constantino em 22 de maio de 337. Constantino viveu como pagão e morreu como ariano. Semelhante currículo para "o primeiro imperador cristão" não é muito admirável! Mesmo assim, a sua morte foi o término de um grandioso capítulo na história cristã. A partir de então, com apenas uma breve exceção, os imperadores romanos se considerariam cristãos em certo sentido, e interfeririam constantemente nas questões eclesiásticas e teológicas.

("História da Teologia Cristã", 2001, Roger C. Olson, Ed. Vida, págs. 167/168)


“Em resumo, podemos dizer que durante o período que vai de 330 d.C. até a morte de Constantino sete anos depois, os defensores do “Grande Concílio” foram reiteradamente derrotados. O interesse principal do imperador era mais político que teológico, e isto combinava muito bem com as habilidades políticas de Eusébio de Nicomédia para dar supremacia ao arianismo. Essa situação se tornou muito mais difícil em função da inabilidade de alguns dos principais defensores de Nicéia de mostrar como sua doutrina diferia do sabelianismo. Ao mesmo tempo, os arianos se abstiveram de atacar abertamente o Concílio que Constantino convocara. Para o grupo niceno, a derrota final durante este período, embora mais simbólica do que real, foi o fato do próprio Constantino ser batizado em seu leito de morte por Eusébio de Nicomédia.

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A derrota do arianismo foi devida em parte à superioridade intelectual de seus adversários; em parte ao fato de que, durante a prolongada controvérsia, o Ocidente sempre esteve a favor do grupo niceno; e em parte porque, enquanto as divisões entre os arianos eram causadas por distinções mais sutis, seus oponentes tendiam a se unir e formar alianças sempre mais amplas. Mas pode-se vislumbrar também na natureza interior do arianismo uma das principais causas de sua derrota. O arianismo pode ser interpretado como uma maneira de introduzir para dentro do Cristianismo o costume da adoração de seres que, embora não sendo o Deus absoluto, eram divinos de uma forma relativa. A consciência cristã geral reagiu violentamente contra este entendimento limitado da divindade do salvador, expressado a cada momento que os arianos expunham sua doutrina de um modo mais extremo. A fé nicena, embora menos estritamente racional que o arianismo, e embora requeresse mais da metade de um século para esclarecer seu sentido real, foi capaz de afirmar um modo mais claro e radical a doutrina cristã fundamental de que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”.


(“Uma História do Pensamento Cristão”, Justo L. González. Ed. Cultura Cristã, 2004, págs. 269 e 280/1)

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