sexta-feira, 24 de abril de 2009

As crônicas de Marvin - 07

Auto-destruição

A congregação estava inquieta. A simples menção de pessoas suspeitas na congregação era motivo de preocupação. Acostumados a acreditar que não fazem parte do mundo, eles nunca pararam para pensar que no fundo são imperfeitos. Qualquer um ali poderia cair agora. Este era o motivo de tanto alarde. Resolvi então tomar uma atitude. Fui até a frente, e avisei:
- Irmãos, com a autoridade concedida a mim, tenho o dever de organizar tudo isto. Façamos o seguinte: se alguém conhecer pessoas que apresentaram o comportamento descrito na carta, me enviem, ou me telefonem. No dia primeiro nos reuniremos à noite para decidirmos algumas coisas, e falarmos sobre este tema.
Pronto. Agora eles teriam tempo para listar todos os que eles conheciam e que apresentaram tais dúvidas.
Naquela mesma noite recebi uma ligação. Eu havia acabado de chegar em casa, e me preparava para dormir, quando o telefone tocou.
- Alô.
- Marvin, aqui é o Estêvão. Por acaso você perdeu o juízo?
- Olá, irmão. Como vai você, como tem passado?
- Deixa disto. Eu quero saber por que você está usando nossa “arma final”. Você não deveria usá-la até nós aproveitarmos um pouco nosso tempo como manda-chuvas. O que houve?
- Estêvão, eu simplesmente perdi a minha paciência. Não poderia ver pessoas sofrendo por causa daqueles lunáticos mais... Eu tinha que fazer alguma coisa...
Estêvão estava nervoso com a situação, e não sem motivos. Ele estava adorando ser bajulado pelos seus irmãos de fé. Ele não ligava muito para questões morais não, na verdade ele achava aquilo mais do que justo pelo que ele teve que passar, depois de perder a irmã.
Nosso plano era perfeito. Dividimos ele em duas partes. Primeiro, pretendíamos colocar todas as testemunhas de Jeová como pessoas que defendiam qualquer coisa que fosse pregada pela Torre de Vigia, mesmo que fosse ridículo ou que fosse contraditório aos ensinos anteriores. A verdade é que nossa experiência havia levantado uma pergunta muito séria: Se considerarmos a Torre como a única referência da Verdade®, como distinguir se ela ainda se mantém na Verdade® ou não? Nós estávamos controlando o Corpo Governante, de forma a inserir as doutrinas que queríamos, e ninguém falava nada... Queríamos mostrar também que eles nunca checavam as fontes passadas pela Torre, ou suas declarações. Este seria um prato cheio para todos os grupos de ex-testemunhas existentes, pois daria mais e mais material para que eles construíssem uma resposta efetiva contra a Torre. Assim, estaríamos fortalecendo estes grupos, quase patrocinando eles. Todo mundo sabe que o pior inimigo da Torre é ela mesma. Ela tem um grande histórico de mudanças doutrinais, que já era bem explorado pelos grupos dissidentes. Só precisávamos deixar estas mudanças mais aparentes, destacando os erros que antigamente eram muito sutis para que uma testemunha normal pudesse perceber.
Mas isto não era suficiente. As testemunhas de Jeová já existiam há pelo menos 150 anos e uma coisa já havia ficado bem claro: simplesmente mostrar contradições não faria ninguém cair em si, e se voltar contra a Torre de Vigia. Muita gente já havia tentado isto durante estes anos, e os resultados não foram muito significativos. Isto porque a Torre se aproveita de conceitos que as pessoas geralmente possuem, para construir um raciocínio bem sólido entre seus fiéis. Um bom exemplo é usar o conceito de que todo mundo na igreja deve ser um santo, livre de qualquer defeito. Com base neste conceito, eles constroem uma definição de santidade que somente eles seguem, uma definição feita sob encomenda. Para provar que a definição está errada, você teria que primeiro se enquadrar nela, para se tornar uma pessoa confiável. Depois você teria que demonstrar seus argumentos contra esta definição, mas aí você seria contraditório, por ter adotado o padrão de santidade que tenta destruir. Até hoje, somente uma coisa conseguiu quebrar este raciocínio circular de forma eficaz: a desilusão.
É difícil encontrar uma ex-testemunha que deixou de ser testemunha por que resolveu estudar a Bíblia e descobriu as contradições doutrinárias da Torre. Sempre o “gatilho” para que a pessoa resolva estudar realmente suas doutrinas foi alguma desilusão com a Torre, ou com seus adeptos. Pessoas que foram proibídas de amar alguém de fora da Torre ficaram desiludidas com a atitude segregária da Torre. Pessoas que foram humilhadas por outras testemunhas ficaram desiludidas com tal atitude vinda de irmãos “santos”. Pessoas que perderam parentes ficaram desiludidas com as decisões malucas da Torre. Tudo foi desilusão. A desilusão é um sentimento muito poderoso, capaz de colocar as mentes mais acomodadas para trabalhar, embora não se saiba qual o resultado final de uma desilusão. E aí entra a segunda parte de nosso plano: causar uma desilusão coletiva nas testemunhas mais sinceras.
De fato, não criamos nada que já não existisse entre as testemunhas de Jeová. Ali dentro sempre há os grupinhos de testemunhas, sempre há aqueles que não se dão bem com alguém, aqueles que no fundo se acham mais conhecedores da Bíblia... E estes estão sempre buscando nas regras da Torre, algo para diminuir o papel de seus “rivais”. Traição seria algo a se lembrar aqui. Sempre havia aqueles que estavam prontos a trair suas amizades, esperando apenas uma justificativa moral para isto. Todo mundo espera justificativas morais para cometer os atos mais insanos. Afinal de contas, foi Deus quem declarou que o mundo era pecador. Nada mais justo (na visão deles) que Deus abrisse alguma exceção para eles, talvez por que em suas mentes insanas, eles achassem que eram mais santos do que os outros. Assim houve guerras e assassinatos, roubos, inveja, egoísmo, discriminação... Tudo permitido por um deus criado por eles mesmos... Então tudo o que fizemos foi criar uma regra clara que resultasse em desassociação rápida, permitindo que eles justificassem moralmente a traição. Foi o perfeccionismo que os levou à Torre, o mesmo perfeccionismo faria eles se excluírem. Todo mundo tentou destruir a Torre de fora, mas é muito mais simples destruí-la por dentro... Fizemos seus próprios membros se desassociarem.
Certamente os mais sinceros serão os primeiros desassociados. Eles possuem a sinceridade suficiente para confessar que possuem dúvidas. E os que não confessam dúvida nenhuma são aqueles que se consideram mais evoluídos espiritualmente. Escolhemos então o tema mais polêmico entre as testemunhas de Jeová, e lançamos um artigo muito ambíguo, que causasse dúvidas em todos. Deixaríamos então as dúvidas se firmarem, então lançaríamos a carta que tornasse estas dúvidas motivos de desassociação.
Então, testemunhas sinceras seriam desassociadas por sua sinceridade, sinceridade sobre um tema polêmico entre as testemunhas. Não seria muito difícil nestas condições ver como seus irmãos são pessoas em quem não se pode confiar, pessoas que estão sempre dispostas a mostrar sua santidade, até mesmo às custas dos outros. Eles verão a injustiça e a injustiça produzirá neles a desilusão. Desiludidos, eles finalmente estarão em condição de analisar os argumentos contrários à Torre sem pensamentos pré-concebidos. E aí, eles encontrarão todas as ex-testemunhas e seus argumentos enriquecidos pela nossa primeira parte do plano.
- Marvin, eu sei que eles são uns canalhas... Mas não podemos nos apavorar. Você mesmo que elaborou todo o plano, você deveria segui-lo mais à risca.
- Eu sei. Mas não pude me conter mais. Agora, o que está feito, está feito. Não há mais volta, Estêvão... Nós queríamos acabar com a Torre de uma vez por todas, e vamos fazer isto. Acho que qualquer plano de vingança só poderá ser bem-sucedido, se conseguirmos isto. Não podemos mais enrolar, temos que acabar logo com isto... Vidas humanas estão em jogo. Pense em sua irmã, e pense que muitas pessoas estão passando pelo mesmo que ela agora.
De certa forma, consegui fazer Estêvão se contentar com o que estava acontecendo. Era difícil para ele, ele estava gostando muito de ser o centro das atenções. Mas nosso plano deveria continuar. E se demorássemos muito, o efeito do artigo sobre o Mediador passaria. Era aquela a hora certa, apesar de tudo.

1 de setembro de 2051, 19:00

Estávamos novamente reunídos no Salão do Reino. Eu me sentia mais malvado que o próprio the Punisher, e estava preparado para usar todo o poder que consegui nos últimos meses.
A maioria dos irmãos estava sentada em seus lugares, somente alguns conversavam em pé, espalhados pelo salão. Minha chegada causou olhares desconfiados, como vítimas olhando para seu carrasco.
Peguei uma cadeira, e me sentei na frente, pedindo para todos se sentarem também. Então fiz o anúncio:
- Irmãs e irmãos, como todos vocês sabem, estamos nos aproximando do dia de Jeová, e estamos passando por tempos complicados. Estive por algum tempo observando a congregação, e avaliando a capacidade de orientação dos anciãos. Como todos sabem, nos primeiros dias muitos me procuraram para ser orientados, mas tive que redirecioná-los para os anciãos. Agora todos podem saber que eu estava os avaliando como anciãos.
Todos se entreolharam, assustados.
- Bem, irmãos, estou com a lista de pessoas que apresentaram comportamento suspeito. Estes nomes foram obtidos através de conversas com os irmãos, pessoalmente ou por telefone. E a lista é preocupante, o que reflete bastante a atitude de nossos anciãos. Afinal de contas, todos os irmãos foram denunciados aqui. Inclusive a irmã Mariana...
Uma voz assustada falou lá no fundo:
- Mas a Marianinha só tem 4 anos....
Eu também me assustei ao ver isto. Como disse antes, eu pensava que somente os mais sinceros seriam atacados... Mas me enganei. Na verdade, o que aconteceu é que os irmãos se aproveitaram do fato que não foi mencionado em momento algum, a exigência de provas para a denúncia. Eu mesmo não tinha me dado conta disto, a Torre geralmente não pede provas concretas. Ela simplesmente acredita. Como as investigações da Inteligência da Torre de Vigia eram conduzidas em segredo, ficava muito mais simples deixar a pessoa como culpada ou inocente, baseando-se apenas em simpatia. Provas só atrapalham nestes casos.
- Isto mesmo, até ela. É por isto que há muito para se fazer aqui. Não vou tomar as devidas atitudes ainda, prefiro trabalhar um pouco com vocês, para melhorar a situação por aqui. Em primeiro lugar, gostaria de falar ao irmão Marcos, que com muito pesar, terei que tratar de sua falta de humildade. Irmão, graças a esta falta de humildade, os irmãos viveram até o momento em dúvidas e sem direção. Por isto, você vai receber tarefas consideradas mais degradantes, para aprender o verdadeiro significado da humildade.
O irmão Marcos prontamente me respondeu:
- Degradantes?
- Sim. Você vai limpar a congregação. Quero ver os banheiros tinindo.
- Mas irmão...
- Não discuta comigo, eu sei o que é melhor para minhas ovelhas.
Ele baixou a cabeça...
- Ah, não se esqueça, você tem a obrigação de vir à congregação vestindo suas melhores roupas. Não pagamos mais o dízimo, mas devemos dedicar sempre a melhor parte a Jeová.
- O que você quer dizer com isto?
- Venha trabalhar aqui com seu terno.
- Mas onde já se viu fazer limpeza com terno?
- Deixe-me ver se entendi bem, irmão... Você está querendo definir nossos costumes segundo os hábitos do mundo?
- Eh... mas... Hummm....
- Não é por que as pessoas do mundo fazem a limpeza de suas casas e trabalhos com as piores roupas, que você fará o mesmo. Você tem que dar o exemplo. Mais uma coisa, venha aqui e pegue uma...
Tirei de minha pasta uma caixinha, e a abri. O irmão Marcos veio a meu encontro, e olhou com uma cara atônita. Estendeu a mão, e tirou de lá uma escova de dentes.
- Uma escova de dentes? Por quê?
- Você vai usar esta escova para fazer a limpeza da Congregação. Eu quero muita dedicação sua nesta tarefa.
Ele olhou assustado para a escova, e deu uma boa olhada para o Salão, medindo a área das paredes e do chão... É isto iria demorar muito. Enquanto isto, o irmão Jonas segurava-se para não rir.
- Irmão Jonas... A outra escova é sua.
Ele deu um salto da cadeira, e engoliu o riso.
- Eu??
- Sim, você. Você também é ancião aqui, e o tamanho desta lista também é culpa sua... Além do mais, eu sei que você tem alguns problemas de relacionamento com o irmão Marcos... Um pouco de trabalho em equipe irá aproximar os dois.
Certamente aproximou. Os dois agora me odiavam.
Enquanto o irmão Jonas pegava sua escova, continuei:
- Bem, tenho visto também que alguns jovens correm o risco de ir para o caminho do mundanismo. É por isto que eu resolvi tomar algumas medidas mais severas. Por favor, me entendam, é para o próprio bem de vocês. Pois bem, o caso mais sério é o do irmão Sérgio. Gostaria que ele desempenhasse um papel especial dentro da Congregação, que o fará se sentir mais próximo de Jeová.
Ele arregalou os olhos para mim.
- Bem, acho que não é o momento para ele se casar agora, pois ele tem muito o que dedicar a Jeová. Eu gostaria que ele, como filho de um dos anciãos, prestasse o serviço de cuidar de nossas viúvas e idosas, pois como Tiago mesmo diz, a verdadeira religião faz isto. Por isto, gostaria que ele evitasse namoros por este período, para ter mais tempo para a tarefa, como Paulo mesmo orientou.
Todos ficaram surpresos com a decisão. O Sérgio logo exclamou:
- O quê!?!?
Ficaram todos calados. Quem quebrou o silêncio foi a irmã Solange, a mais provável candidata à esposa do Sérgio:
- Mas isto não é justo!
Todos olharam para ela, certamente concordando com ela... Podia-se perceber o olhar triste das outras irmãs que faziam parte do fã-clube não oficial do Sérgio. De repente, o silêncio foi novamente quebrado, desta vez pelo irmão Júlio:
- Droga, isto é uma sacanagem!!
Imediatamente todos olharam para o Júlio com aquela cara assustada, como se dissesse “como assim?”. Até eu fiquei sem palavras... Ele percebeu a besteira que fez, enquanto olhava para todo mundo pensando no que iria falar.
- Ehrr, quer dizer... Bem, eu na verdade... Tipo, isto pode acontecer comigo também, não é? Eu tenho que falar algo antes que aconteça...
Percebi nesta hora que uns três afastaram um pouco suas cadeiras dele. A situação estava ficando meio estranha, então resolvi retomar o assunto antes que ficasse pior.
- Ehrr, irmãos, voltando ao assunto, como nossos dois anciãos estarão ocupados com as tarefas propostas aqui, resolvi anunciar outro ancião para ser o responsável por nossa congregação, durante este tempo.
Todos voltaram sua atenção novamente para mim... Consegui o que queria.
- Bem, devido a seu histórico como um irmão zeloso, gostaria de chamar o irmão Benedito para esta posição.
Todos ficaram sem entender mais nada... A conversa paralela foi inevitável, até que um irmão mais corajoso resolveu perguntar:
- Mas irmão, o irmão Benedito é surdo-mudo...
- Sábia observação, irmão! – Respondi com um sorriso...
- Mas ninguém aqui sabe a linguagem de sinais... Só o irmão Tiago, que ministrou seus estudos... E ele nem é tão bom assim...
- Oh, muito bem. Então eu acho que vocês terão uma grande oportunidade de aprendê-la aqui, não? Além do mais, o nome dele está na lista também, como é que vocês não entendem a linguagem de sinais, e dizem que ele apresentou aquelas dúvidas apresentadas na carta do Escravo?
Eu pelo menos já sabia que o nome do irmão Benedito estava ali naquela lista por que ele era muito próximo do irmão Jonas.
- Mas nem tudo que vim falar aqui hoje são críticas, irmãos... Tenho realmente muito apreço pela fé que algumas irmãs tem demonstrado, por isto, gostaria de destacá-las, dando uma melhor participação na congregação. É por isto que eu estou pedindo para a irmã Rosa fazer nossas leituras durante as Reuniões.
Todos estranharam a decisão, principalmente o irmão Osvaldo:
- Mas irmão, não nos é dito para que as mulheres fiquem caladas durante as reuniões?
- Irmão, seja qual for a interpretação daqueles versículos, isto nunca impediu que as irmãs respondessem as perguntas feitas na hora do estudo. Portanto, recomendo que estude melhor a passagem, para entender o que ela realmente quer dizer.
O irmão Osvaldo ficou envergonhado e acenou com a cabeça, consentindo com minha recomendação. Eu sei que fazer a leitura nas reuniões não é algo muito grandioso, mas já é o começo. Eu sinceramente nunca achei que as mulheres estavam ali apenas para aumentar os números nas estatísticas da Torre.
- É por isto também, que quero nomear duas mulheres para monitorar o trabalho de todos aqui, e me fazer um relatório sobre isto. Elas também poderão transmitir quaisquer instruções adicionais minhas que eu elaborar posteriormente. Primeiro gostaria de chamar a irmã Priscila...
Já estava olhando para ela quando ela sorriu. Tentei disfarçar qualquer tipo de sentimento comprometedor, e fiquei o mais frio possível. Eu havia escolhido ela, por que gostava da companhia dela, de sua alegria... Não me levem a mal... Está bem, ela é bonita, por isto escolhi ela. Seus cabelos cacheados e loiros eram muito bonitos...
Nem ia escolher outra pessoa, mas me lembrei que havia alguém que merecia algum reconhecimento... Alguém que como eu foi ignorado, mas que o episódio com a irmã Ana Clara me fez ver que era uma grande pessoa, preocupada com aquelas pessoas mais necessitadas.
- A outra irmã que gostaria de convidar é a irmã Amanda.
Ela estava com uma cara bem depressiva quando a chamei. De certa forma, eu consegui vê-la sorrir com aquele convite. Espero conseguir fazer algo por ela, já que ela fazia tanto pelos outros... Seus olhos verdes brilhavam agora, com o convite, enquanto ela me olhava, um pouco envergonhada.
- Gostaria de passar para as duas as intruções necessárias depois desta nossa reunião. Acho que por enquanto é só. Peço que os irmãos, em minha falta, comuniquem-se com uma das duas irmãs, que elas me repassarão os problemas. Infelizmente sou apenas um, por isto preciso de ajuda. Estão todos dispensados.
Todos se levantaram, talvez imaginando se aquilo era um pesadelo. Eu não tinha pensado ainda nas várias formas de tortura psicológica que eu poderia fazer. Há muito tempo que eu queria imitar meu personagem de filme brasileiro preferido e dizer “Pede pra sair, pede pra sair”, “Você é um fanfarrão”, e coisas do gênero. Claro, eu teria que adaptar para a linguagem tejotina, algo do tipo “Pede pra voltar (pro mundo), pede pra voltar (pro mundo)”, “Você faz parte do mundo”... Acho que está chegando a hora...
As duas moças estavam em minha frente, então. A Priscila, alegre como nunca. A Amanda, tímida como sempre.
- Ei, Amanda não fique tão tímida. Agora fomos escolhidas para fazer algo importante! – dizia a Priscila.
- Hummm, eu sei, desculpa...
- Bem, senhoritas, o que vou passar para vocês é bem simples. Aqui está meu telefone, me liguem em qualquer emergência. Vamos organizar visitas domiciliares. O importante é identificar os problemas existentes na família que vocês visitarem. Vamos fazer uma lista das famílias aqui na congregação, e dividí-las em três. Cada um visitará uma família, e buscará seus problemas...
Assim, discutimos todos os detalhes sobre aquela vistoria... Enquanto isto, corria a notícia de que pelo menos 40% das testemunhas de Jeová já haviam sido desassociadas por todo o mundo. Um bom número, mas que não foi maior por causa do receio das pessoas. Bom sinal, isto significa que eles não estavam tão dispostos a trair uns aos outros como eu pensava. Quanto à minha congregação, vou dar um choque neles primeiro, antes de permitir as desassociações.
Bem, voltei tranquilamente para casa. Tinha descarregado um pouco da minha raiva nos outros. Foi até legal.
Chegando em minha casa, avistei uma figura parada em meu portão. Seria um ladrão? Me aproximei, e no entanto, percebi que era uma pessoa bem conhecida...- Estêvão, o que você está fazendo por aqui?

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