quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Deus é o Baú da Felicidade?

Acordei cedo hoje, liguei a TV e lá estava pregando um daqueles pastores convidados pelo Silas Malafaia pra rechear sua madrugada com devaneios "cóspel". 

O seu nome eu nem me lembro, porque fiquei tão aturdido com o que ouvi que fiz questão de ignorá-lo, mas foi o suficiente para prestar atenção na sua "exegese" curiosa do Salmo 37:4 ("Deleita-te no Senhor e Ele concederá o que deseja teu coração"), dizendo que, num "paralelo profético" com este versículo, "Deus financia o seu sonho". 

Ele repetiu várias vezes a expressão "Deus financia o seu sonho", como se fosse (mais) uma espécie de mantra evangélico para adquirir bens materiais, o que termina por reduzir Deus a um vendedor de consórcio ou carnê do Baú da Felicidade. 

Isso quando você não é sorteado para ir lá e rodar o pião. 

Talvez — na visão desse povo — Deus tenha se tornado uma espécie de CDC - Crédito Direto ao Consumidor, com a vantagem de que não precisa pagar nada, é só ter fé na fé que eles pregam e — shazam! — tudo fica bem. 

Para eles não existem leis básicas na economia, de que o dinheiro que chega numa ponta tem que necessariamente sair do bolso de alguém, ou ainda que "criar" dinheiro significa aumentar artificialmente a moeda em circulação, o que necessariamente gera inflação, com seus efeitos danosos especialmente à parcela mais pobre da população. 

Pinçar um versículo fora de contexto é — para eles — uma atitude banal, um reforço ao mantra, uma motivação fictícia de comportamento sugestionado. 

É a famosa técnica homilética ancorada no dito popular "se colar, colou", frase curiosamente também muito utilizada por estelionatários. 

Pouco importa se o versículo 7 do mesmo salmo diz: "descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa maus desígnios". 

Ora, se é pra forçar a adequação da Bíblia — com este salmo — à teologia da prosperidade, o versículo diz que quem prospera é o ímpio, e o justo não deve se preocupar com isso, mas em — ô glória! — descansar no Senhor

Obviamente, dentro da atual conjuntura pagã genérica que impera no meio evangélico brasileiro, esta comparação teria que ir para debaixo do tapete, lugar para onde já deve ter ido o senso de ridículo de muita gente. 

E os crentes decentes e honestos? 

Destes eles esperam somente que continuem pagando o carnê em dia... graças a Deus que vai chegar o dia dEle rodar o peão...

2 comentários:

  1. helio, o pior de tudo e que eu ja cheguei a acreditar em tais coisas tipo estas..... falta de conhecimento meu.

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