sábado, 4 de dezembro de 2010

A catedral dos cristais quebrados


Robert H. Schuller, hoje com 84 anos de idade, foi um dos primeiros televangelistas norteamericanos. Fundou seu ministério Garden Grove, na localidade de mesmo nome no exclusivo Condado de Orange (mais conhecido pela sigla O.C.) na Califórnia. 

Foi também um dos pioneiros a pregar a teologia da prosperidade e do pensamento positivo, essa vertente perigosa do "humanismo religioso", por assim dizer, lançando no mercado a auto-ajuda religiosa "express" e os títulos dos livros dele publicados no Brasil dão uma dimensão disso: "Você Pode Ser Quem Deseja", "Floresça onde Está Plantado", "Atitudes para Ser Feliz", "Auto-Estima, A Nova Reforma", além da série "Descubra" ("Suas Oportunidades", Como Acertar Suas Prioridades", "a Liberdade", "o Amor"). 

Nada diferente, portanto, de tanta lenga-lenga gospel que a cristandade tem ouvido da boca de "eminentes" líderes nacionais e internacionais, infelizmente. Essa baboseira gospel se tornou uma verdadeira praga que tem substituído a boa, antiga e - paradoxalmente - sempre moderna pregação bíblica nas últimas décadas.

Schuller construiu um grande império eclesiástico, talvez marcado mais pela beleza arquitetônica de seus templos. O primeiro, finalizado em 1961, tinha como inovação o fato de ser uma espécie de "drive-in church", em que os fiéis podiam assistir os cultos sentados confortavelmente em seus próprios automóveis.



Já o segundo templo ficou conhecido como a Catedral de Cristal, projetada pelo arquiteto Philip Johnson e finalizada em 1980, que se tornou um ponto turístico e uma referência em projeto arquitetônico de templos.


Considerando sua idade avançada, Robert Schuller se afastou da liderança do ministério em 2006, deixando seu filho Robert A. Schuller no seu lugar, mas - descontente com os rumos que o filho havia dado à organização - em 2008 o pai o destituiu e o substituiu por sua outra filha, Sheila Schuller Coleman. 

Parece que, apesar de toda a pregação da prosperidade, da ostentação do templo e dos membros da exclusiva região em que se localiza, os problemas se avolumaram e se agravaram, levando a Catedral de Cristal a pedir falência no último mês de outubro, o que surpreendeu a todos. 

Maior surpresa causou, entretanto, a reportagem de ontem (03/12/10) do jornal americano Los Angeles Times, que informa que - nos 12 meses anteriores ao pedido de falência - a igreja distribuiu cerca de 1,8 milhões de dólares em bônus e benefícios a 23 membros e agregados da família Schuller, enquanto outros ministros, empregados e associados estão com seus salários e pagamentos atrasados. 

Aparentemente a crise econômica norteamericana atingiu em cheio as megaigrejas, e aquelas dirigidas como organizações familiares trataram de proteger os seus.

É um triste episódio que revela, mais uma vez, que muitas igrejas e denominações são criadas e dirigidas, ainda que dissimuladamente, como verdadeiras empresas familiares, restritas a um pequeno clã que utiliza a religião como meio de ganhar a vida. 

Nada muito diferente do que - lamentavelmente - ocorre no mundo afora e no Brasil em particular. A pregação da teologia da prosperidade é um câncer que infesta muitas igrejas ditas "evangélicas", e não deixa de ser emblemática a bancarrota da Catedral de Cristal e a louca tentativa de se preservar os seus resultados familiares, humanos e falíveis. 

A ênfase nos "frutos" materiais da pregação tira o foco dos verdadeiros frutos espirituais (que ela não produz), e se esquece mais ainda de que Jesus disse que não basta dar frutos, mas eles devem permanecer (João 15:16), algo que - ao que tudo indica - não ocorrerá com o ministério fundado por Robert H. Schuller décadas atrás.


Um comentário:

  1. Que coisa!
    Interessante a parte sobre a crise econômica mundial e o paralelo que vc fez com as igrejas de "sobrenome".

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