domingo, 11 de setembro de 2011

Padre Marcelo Rossi e o Itaquerão da fé

Artigo publicado na Folha de S. Paulo de hoje:

PADRE MARCELO S.A.

Com 6 milhões de livros vendidos em 13 meses e CD recém-lançado, sacerdote é seu próprio empresário e adota jargão executivo

MORRIS KACHANI 
DE SÃO PAULO

Embalado por "Sunday Bloody Sunday", do U2, padre Marcelo corria a 9 km/hora na esteira de sua casa em 29 de abril do ano passado quando deu um passo em falso e se acidentou. Foi uma lesão séria no tornozelo.

"Chorei uma semana inteira. Até pensei que foi por inveja", diz. Três dias antes ele havia sido convidado para uma palestra particular com o papa Bento 16 no Vaticano.

Quando o papa passou pelo Brasil, os dois mal se conheceram -muito por conta da má-fé dos organizadores, segundo o padre Marcelo.

Entre fazer uma cirurgia -e não ir a Roma- ou tentar a recuperação com medicação pesada, o padre optou pelo segundo caminho. Inchou 12 quilos, desafiou o estômago, mas visitou o papa.

A vida na cadeira de rodas lhe trouxe uma nova perspectiva. "Fiquei com princípio de depressão. Primeiro eu tentei jogar Playstation 'pra' passar o tempo, mas desisti. Busquei escrever, o que jamais faria porque sou muito agitado."

Assim nasceu o livro "Ágape", espécie de diário escrito em dois meses, e que em 13 vendeu 6 milhões de cópias a R$ 19,90 segundo Mauro Palermo, diretor da editora Globo, responsável pelo título.

Editores de best-sellers ouvidos pela Folha acreditam que nenhum livro lançado no país atingiu esse número em um período tão curto.

"O livro traz uma linguagem de fácil compreensão, situações do cotidiano e sugestões de orações. É quase um manual de instruções assinado por uma figura carismática", diz Palermo.

O padre usa o livro na missa dominical transmitida ao vivo pela TV Globo e no programa matinal diário que mantém na rádio Globo AM.

A turnê por 42 cidades do país também ajudou. Padre Marcelo contabiliza 400 mil dedicatórias nesses eventos.

Considera que metade de seu público é da emergente classe C. O valor dos royalties ele não divulga -diz que ganhou "milhões e milhões". Mas é consenso no mercado de que menos do que 10% a 15% do valor de capa -ou seja, de R$ 12 milhões a R$ 18 milhões- certamente não foi.

Todo esse dinheiro de acordo com o padre é revertido para a construção de um santuário com capacidade para 100 mil pessoas, que está sendo erguido em Interlagos. "São milhões que poderiam ficar comigo, mas é o sonho de minha vida", afirma.

ELEFANTE BRANCO

"O livro foi fundamental nesse sentido. Imagine o Itaquerão, veja o preço que é a obra. Somente nosso terreno valeu R$ 6 milhões, hoje vale R$ 40 milhões". E afirma: "Nossa atividade não pode mesmo ser tributada. Só nos custos de manutenção você teria um elefante branco".

O santuário ocupa 6.000 m² de área construída e 25 mil de externa. Será o maior templo da Igreja Católica no Brasil, superando Aparecida. Só de vagas de estacionamento, haverá 5.000. O projeto prevê uma cripta embaixo do altar, onde o padre pretende ser sepultado (com seus companheiros de diocese).

A inauguração está prevista para dezembro, quando cerca de 60% da obra estiver concluída. Até lá, padre Marcelo trabalha duro na divulgação do novo CD, que acaba de ser lançado com 430 mil cópias pela gravadora Sony.

O CD consiste em uma extensão do livro e por isso leva o mesmo título. "É um CD contemplativo. Você o coloca para tocar e ele leva você ao ágape, que em grego antigo significa amor divino", diz.

Mais de 30 músicas foram testadas no "fantástico laboratório humano" (sic) de sua missa semanal para 60 mil pessoas. "Pretendo atingir os 'católicos à toa'", diz.

Sobre a pirataria, o padre é direto: "Piratear é crime. E crime é pecado. É por isso que as gravadoras investem no gospel, porque ninguém vai comprar pirata".

Recentemente, padre Marcelo acidentou-se novamente na esteira. Quase teve que operar o menisco. No momento usa bengala. Não se sabe se Deus lhe concederá a graça de escrever "Ágape 2".

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