sábado, 15 de outubro de 2011

Pesquisador de Harvard critica suposto tratamento alternativo do câncer de Steve Jobs

Ramzi Amri é um conceituado pesquisador da Faculdade de Medicina da prestigiosa Universidade de Harvard, que veio a público fazer uma crítica inusual e inesperada ao suposto tratamento alternativo a que Steve Jobs, teria se submetido para enfrentar o câncer de pâncreas de que sofria. Diz-se "suposto" porque não há nenhuma confirmação oficial de que Jobs realmente tenha feito isto, o que deixa a manifestação do Dr. Amri ainda mais surpreendente, já que ele estaria se imiscuindo na (ou pelo menos arranhando a) confidencialidade que tipifica e garante a relação médico-paciente. Num artigo bastante detalhado publicado no site Quora, o pesquisador de Harvard chama a atenção para o fato do tipo de câncer - que se revelou fatal a Jobs - ser relativamente bem tratável segundo os procedimentos e protocolos universalmente aceitos para o caso. Sempre frisando que não conhece a fundo o tratamento aplicado ao fundador da Apple, e que se baseia em informações secundárias de outras pessoas e da própria mídia, Ramzi Amri compara os dados públicos do tratamento com a sua vasta experiência na pesquisa científica com outro médicos e pacientes que enfrentaram o mesmo problema. O que surpreende o cientista é que o caso de Jobs evoluiu de maneira completamente diferente - no sentido negativo - da imensa maioria de tumores similares tratados segundo os protocolos convencionais. Este ponto fora da curva, segundo Amri, se deveria ao fato de que Steve Jobs - supostamente - ter procurado várias formas de terapias alternativas antes de, vencido pela ineficácia delas, render-se ao tratamento prescrito pelos médicos com formação e capacitação para cuidar deste tipo de câncer pancreático. O Dr. Amri relembra, ainda, o período em que Steve Jobs aparecia - nos eventos de lançamentos de novos produtos da Apple - desfilando uma magreza extrema e preocupante, dizendo que isto indica que o megaempresário não estava fazendo ou dando a devida atenção à quimioterapia recomendada para aquele estágio da doença.

De fato, a revista Fortune publicou um artigo, em 2008, dizendo que Jobs tinha procurado - por 9 meses - "métodos alternativos para tratar o seu câncer pancreático, esperando evitar a cirurgia mediante uma dieta especial". Como ele era budista e vegetariano, tentou seguir este caminho desde o diagnóstico em outubro de 2003 até o fim de julho de 2004, quando não houve mais saída que não fosse a cirurgia realizada no Centro Médico da Universidade de Stanford. É neste período que Ramzi Amri concentra sua crítica, afirmando que àquela época o câncer de Jobs era perfeitamente tratável e estava muito longe da possibilidade dele vir a perder seu pâncreas e o duodeno na intervenção cirúrgica conhecida pelo nome de "procedimento de Whipple", e foi aí também que o câncer se espalhou para extensas áreas do seu fígado. Em suma, para o pesquisador de Harvard, tanto o procedimento de Whipple como o transplante de fígado que foi realizado depois, são claros sinais de que a escolha temerária de Jobs por um tratamento alternativo fizeram com que o tumor ficasse totalmente fora de controle, o que terminou levando-o à morte no último dia 5 de outubro.

Não deixa de ser um alerta a todos aqueles que, movidos por hábitos e/ou pressões culturais ou religiosos, evitam o tratamento médico prescrito e eficazmente comprovado ao longo de décadas de pesquisa das mais variadas formas de câncer. É compreensível, portanto, a crítica pelo Dr. Ramzi Amri, pois é muito delicada (e potencialmente desconfortável) a situação do médico que trata de um paciente que acrescenta "terapias alternativas" na sua busca pessoal pela cura. Podem ser elas naturais ou religiosas (como a "cirurgia espiritual" de Reynaldo Gianecchini), e o "terapeuta alternativo" fica numa posição muito cômoda, na base do "ganha-ganha perpétuo": se o tratamento falhar, a culpa é do paciente (que não teve "fé" suficiente ou não seguiu rigorosamente as práticas prescritas, ainda que por um mililitro de chá) ou do médico (que interferiu na "terapia"). Agora, se der certo, todo o mérito vai para o, digamos, "curandeiro" e pouco ou nenhum crédito é dado ao médico, que será sempre o "derrotado" nesta bizarra relação. E o risco é que há uma enorme chance de que o "terapeuta" ou "curandeiro" seja, na verdade, só mais um charlatão sortudo...

Fontes: Quora - Gawker - CNN Money



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