sábado, 11 de maio de 2013

Três questões sobre o tempo


Sabadão, dia de refletir sobre o tempo (não o clima, que está bom, obrigado).

Para tanto, abaixo seguem três artigos interessantes sobre essa misteriosa grandeza chamada "tempo", publicados no ótimo portal HypeScience nos links indicados pelos respectivos títulos.

São três questões inconclusivas, é verdade, mas nem por isso desnecessárias ou menos instigantes:


Guilherme Souza

Em resposta a uma pergunta feita pela leitora Michelle Meyers, os autores da página Across the Universe: from quarks to quasars publicaram um pequeno texto reflexão sobre o tempo, assinado por Rawy Shaaban.

A ideia de que o tempo é uma linha ligando o passado, o presente e o futuro traz um questionamento: seria o tempo uma “direção”? “Nós parecemos estar nos movendo para frente no tempo, mas podemos apenas ver eventos que já ocorreram”, diz Shaaban.

Ao invés de prosseguir com a noção de “linha”, ele aborda a questão da medição da passagem do tempo, feita com base na movimentação da Terra ao redor do sol. “Manhã, tarde e noite estão relacionadas à presença ou ausência do sol no céu”, lembra. O próprio deslocamento dos ponteiros de um relógio analógico resgata esse movimento radial.

Medimos a passagem do tempo com base em movimento, mas também fazemos o inverso: dizemos que um carro levou horas para fazer um percurso, ou que o coração de uma pessoa bate um determinado número de vezes por minuto. “O tempo pode ser apenas uma ‘moeda comum’ ou uma unidade de movimento com a qual todos os outros movimentos são medidos, tornando mais fácil a descrição do mundo, mas sem ter uma existência independente”, sugere o autor. “Medir processos (de movimento) usando tempo é como usar dinheiro ao invés de troca direta de mercadorias”.

Curiosamente, o presente não pode ser restrito a uma medida de tempo. Quanto dura o “agora”? Um segundo? Um milésimo de segundo? Vivemos nesse pequeno (e, ao mesmo tempo, imensurável) intervalo entre o passado e o futuro – que podem ser medidos, mas não acessados.

“Isso sugere que nossa percepção do tempo como passado, presente e futuro pode ser apenas uma ilusão criada por nossa mente em uma tentativa de entender o mundo em transformação que nos cerca”, afirma. Nesse caso, como as mudanças do mundo ocorreriam se não existisse o tempo? E a pergunta inicial permanece.[Across the Universe; from quarks to quasars]





Guilherme Souza

Contrariando a visão a respeito do tempo mais aceita entre cientistas, o físico teórico Lee Smolin defende que ele não é uma “ilusão”, mas sim algo “real”. Em seu livro recém-lançado, “Time Reborn” (“Tempo Renascido”, em português), Smolin explica como o tempo seria necessário para a existência das leis do universo, e portanto mais do que apenas uma ilusão.

“O tempo é supremo, e a experiência que todos nós temos de que a realidade é o momento presente não é ilusão, mas a mais profunda pista que temos sobre a natureza fundamental da realidade”, explica. De início, como a maioria de seus colegas físicos, Smolin pensava no tempo como algo subjetivo – de acordo com a Teoria da Relatividade de Einstein, ele é apenas mais uma dimensão, e a percepção de que está “passando” está em nossa mente.

Aos poucos, contudo, Smolin sentiu como se, diante das leis do universo, essa ideia de “ilusão” não fosse suficiente. “Se leis estão fora do tempo, elas são inexplicáveis. Se uma lei apenas ‘é’, não há explicação (…) Elas precisam evoluir, mudar, devem estar sujeitas ao tempo”, reflete o físico. “As leis, então, vêm do tempo e estão sujeitas a ele, e não o contrário”.

Apesar de defender essa tese com firmeza, o próprio autor reconhece que há objeções, especialmente o que ele chama de “dilema da meta-lei”: se as leis do universo mudam e evoluem, é preciso que algo direcione essas mudanças, algo maior; mas, nesse caso, esse “algo” deveria ser maior que o tempo e, portanto, estar “fora” dele.

Admitindo que o problema existe, Smolin não deixa de acreditar que encontraremos uma resposta para ele. “Creio que a direção da cosmologia do século 21 vai depender da maneira correta de resolvermos o ‘dilema da meta-lei’”, diz.[LiveScience]






Bernardo Staut

Esqueça os filmes de ficção científica. De um ponto de vista puramente físico, a viagem para o futuro não somente é possível, como acontece sempre. Entretanto, viajar para o passado é um problema um pouco maior.

“Nós podemos viajar em diferentes níveis para o futuro”, afirma Seth Lloyd, professor de engenharia mecânica quântica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “Mas viajar para o passado, e mudar as coisas, é mais controverso”.

Meu relógio ou o seu?

Para um exemplo de viagem no tempo bem palpável, pense nos satélites de GPS. Se não fossem construídos para serem calibrados, eles revelariam o tempo com uma diferença de 38 microssegundos todos os dias. “Os relógios na Terra andam um pouco mais devagar do que os satélites no espaço”, afirma Lloyd.

A justificativa é a relatividade, descrita por Einstein. Um objeto que se move mais rápido em relação a outro experimenta uma passagem de tempo mais lenta. Imagine satélites se movendo a 14 mil quilômetros por hora.

A segunda justificativa tem a ver com a gravidade. Relógios mais próximos de uma massa gravitacional, como a Terra, se movem mais devagar do que os mais distantes. Os satélites orbitam 20.100 quilômetros da superfície da Terra.

Futuro, aqui vamos nós

Ambos os casos de dilatação – espaço ou gravidade – permitem viajar para o futuro.

Fazer tal feito é questão de investimento e tecnologia. “Fazer uma viagem via relatividade vai exigir soluções de engenharia para construir coisas como motores de foguete com combustível suficiente para viagens muito longas”, afirma o professor de física Jeff Tollaksen.

Ir e vir até uma estrela distante nem seria necessário. O efeito seria atingido se simplesmente ficássemos em uma centrífuga gigante a quase a velocidade da luz (apesar da morte iminente).

A segunda tentativa, da gravidade, também seria letal. Digamos que você possa ficar em uma estrela de nêutrons por alguns anos, e uma década teria passado na Terra. Mas, é claro, você não sobreviveria à super gravidade do corpo celeste.

E o passado?

De acordo com a relatividade geral, um buraco negro rotatório pode modificar o espaço e tempo, formando caminhos para momentos antigos. Entretanto, a ideia comum de viajar no tempo parece um pouco “além” demais.

Lloyd conduziu experimentos quânticos que sugerem que as linhas do tempo se mantém consistentes. “A ideia foi enviar um fóton alguns bilionésimos de segundo até o passado e tentar fazer com que ele destruísse seu antigo ser”, afirma.

Mas conforme os fótons chegavam mais perto de interferir em si mesmos, a probabilidade do experimento dar certo ficava menor. “Nossa teoria tem uma censura automática de coisas que são completamente inconsistentes. Quando você volta no tempo, não importa o quanto tente, não consegue mudar o que quer mudar”.

Existem outras formas de viajar ao passado, como viajar na velocidade da luz ou os teóricos “buracos de minhoca”, que conectam diferentes regiões do cosmos.

Mas nenhuma dessas alternativas parece muito palpável. Temos simplesmente que admitir os erros do passado e conviver com eles. “Mesmo que as leis da física nos permitissem visitar o passado, não é claro ainda como isso aconteceria em nosso universo”, finaliza Lloyd. [LiveScience, Foto]



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