terça-feira, 25 de junho de 2013

Kanye West quer ser Jesus

Tem sempre alguém na cena pop querendo chamar a atenção na base da apelação. o rapper Kanye West é "o" bola da vez, segundo a Folha de S. Paulo publicou em 24/06/13:

Só Yeezus salva

THALES DE MENEZES

Na década de 1960, John Lennon levou pancada de todos os lados quando disse que os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo.

Em 2013, o rapper americano Kanye West, 36, talvez seja a coisa mais próxima dos Beatles inserida na cena pop.

Não por seus estilos musicais, bem diferentes, mas pela popularidade entre o público jovem. Nestes tempos, West não se acha mais popular do que Jesus Cristo. Ele se considera o próprio.

"Yeezus", o nome de seu sexto álbum, denomina um alter ego divino que o cantor assume em um álbum curto, direto, cru. Em uma das faixas, "I'm a God", ele -Yeezus- conversa com Jesus. Como sempre, cheio de marra.

O disco transcende o hip-hop. Ao contrário do anterior, "My Beautiful Dark Twisted Fantasy", de 2010, exagerado, megalomaníaco, este é enxuto, quase monolítico.

West e o produtor Rick Rubin mexeram nas faixas até poucos dias antes do lançamento de "Yeezus". Segundo o cantor, Rubin não "produziu" o disco, ele o "reduziu", tirando todos os excessos.

Com apenas dez faixas e 40 minutos de duração, passa em vários momentos a sensação de que o ouvinte só tem a voz do rapper e a percussão eletrônica para escutar.

Esse percussão é pesada, metálica, estridente, agressiva até, como no rock industrial de um Nine Inch Nails.

O mistério de West é como ele consegue, com tão pouco, exibir tantas referências. As músicas vão do house oitentista de Chicago ao dancehall, passando pelo estilo robótico das fases anteriores do Daft Punk -não por acaso, a dupla francesa produz três faixas de "Yeezus".

SEM CAPA

A opção minimalista do projeto não fica restrita ao som. O disco não tem capa nem encarte. É vendido numa caixa de acrílico transparente, dessas comuns de CD.

Tem, na frente da caixinha, um adesivo vermelho que serve para fechar a embalagem e, atrás, outro adesivo com a relação de samples usados no disco -West é obrigado por lei a exibir essa informação.

Nas letras, a prepotência continua, mas o discurso é amargurado e angustiado. "On Sight", "Sent It Up" e "Black Skinhead" são exemplos de faixas que jogam os ouvintes longe de qualquer zona de conforto.

"Yeezus" é experimental, tão instigante que chega a incomodar. É um disco hostil.

O impacto sonoro provocado por "Yeezus" ofusca a vida louca do artista, colecionador de desafetos. Nos dias após o lançamento do álbum, as pessoas estão mais ocupadas em destrinchar suas letras do que conferir a última briga do astro na internet.

Poucas vezes um disco tão perturbador chega ao mercado. Parece que West pegou o que tinha mostrado em outros álbuns e cortou fora tudo que soava bem resolvido, acessível ao grande público.

E, mesmo assim, ainda é capaz de arrebatar fãs -eis a grande magia do cara que leva o hip-hop a um patamar completamente novo.



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