quarta-feira, 31 de julho de 2013

Padre Beto vai à Justiça comum contra pena de excomunhão

Vai um holofote aí,
padre Beto?
Ai que dó! O ex-padre Beto de Bauru não consegue ficar fora da mídia. Querer aparecer parece ser o seu ofício, com o perdão da redundância.

Depois das declarações polêmicas que o levaram a ser excomungado pelo bispo de Bauru, com direito a passeata a seu favor, além da entrevista à Marília Gabriela e a outros programas menores em busca de holofote, padre Beto volta à carga, agora recorrendo à Justiça comum para reverter a pena de excomunhão.

Padre Beto ainda tenta justificar o injustificável dizendo que não move ação contra a Igreja Católica, mas contra a Diocese de Bauru, como se houvesse diferença entre as duas. A quem ele pensa que engana?

Afinal, não precisa ser um gênio jurídico para adivinhar que a ação não vai dar em nada, a não ser - obviamente - repercussão na imprensa para mais um xororô do ex-padre. 

Desapega, Beto, desapega!

Já que o ex-sacerdote não se conforma com o ostracismo que lhe foi imposto, quem sabe alguma escola de samba do Rio de Janeiro lhe ofereça o cargo de carnavalesco e assim amaine o seu desejo mórbido de aparecer na mídia, pelo menos em fevereiro.

Siga a vida, padre Beto! Seja feliz em outro lugar! Oportunidades não vão lhe faltar.

A notícia é da Folha de S. Paulo de 30/07/13:

Após declaração do papa, padre excomungado por defender gays vai à Justiça contra punição

CRISTINA CAMARGO

Impulsionado pelas declarações do papa Francisco sobre homossexuais, o padre Beto, excomungado em abril deste ano após declarações de apoio a gays, decidiu recorrer à Justiça para tentar anular sua exclusão da Igreja Católica.

Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como padre Beto, contratou advogados e protocolou na segunda-feira uma medida cautelar contra a Diocese de Bauru (329 km de São Paulo). Questiona a forma como foi expulso da igreja, num tribunal em que, segundo ele, compareceu sem saber do que se tratava e sem direito à defesa.

Ele estudava a possibilidade de ir à Justiça desde a época do excomunhão, mas diz que a postura do papa Francisco o estimulou ainda mais. No final de sua visita ao Brasil, o papa fez a mais ousada declaração de um pontífice sobre o homossexualismo. "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse.

A ação judicial tramita na 6ª Vara Cível de Bauru. O religioso alega que tratado assinado entre o Vaticano e o governo brasileiro determina que o sistema constitucional e as leis brasileiras sejam seguidos pela igreja. Beto afirma que, além de não ter tido direito de defesa, a decisão foi publicada no mesmo dia em que foi tomada, no site da diocese.

"Fui tratado como um adolescente. Fui exposto publicamente", diz. "Essa ação judicial é também para que todo brasileiro entenda que nenhuma instituição pode fazer isso com uma pessoa".

O ex-padre disse que acreditava que seu processo de excomunhão não estivesse encerrado e ainda teria de ser assinado pelo Vaticano. Ao estudar o caso, descobriu que a decisão da Diocese de Bauru é definitiva na igreja. Por isso resolveu tentar revertê-la na Justiça.

"Não movo uma ação contra a Igreja Católica. Existe igreja e igreja. A ação é contra a diocese", ressalta.

Antes da excomunhão, Beto havia decidido pedir um afastamento temporário de suas funções. Isso aconteceu depois que o bispo de Bauru, Dom Caetano Ferrari, 70, determinou uma retratação por causa de entrevistas em que o religioso falava sobre os homossexuais e questionava o conservadorismo da Igreja Católica.

A Diocese de Bauru ainda não se manifestou sobre a ação judicial. O argumento oficial para a excomunhão foi que Beto "negou categoricamente a cumprir o que prometera em sua ordenação sacerdotal: fidelidade ao Magistério da Igreja e obediência aos seus legítimos pastores".

Depois da excomunhão, Beto seguiu dando aulas em universidades, concedeu entrevistas para programas de TV e escreveu o livro "Verdades Proibidas - ideias do padre que a igreja não conseguiu calar", lançado esta semana.



terça-feira, 30 de julho de 2013

O último adeus canino

Hoje faz uma semana que meu fiel cachorro da raça samoieda se foi.

Tempo ainda não suficiente para nos acostumarmos à dor de sua ausência, mas é chegado o momento de lhe prestar uma homenagem, a exemplo do que já foi feito aqui com seus irmãos das raças golden retriever (o River) e kuvasz (o Jordan).

O nome de pedigree dele era Yerik, e nós passamos a chamá-lo de Erick. Para quem não conhece a raça, os samoiedas são originários da Sibéria, terra de seus amigos huskies, mas com um temperamento muito mais carinhoso e dependente do que seus conterrâneos de olhos azuis.

Ambas as raças são exímias puxadoras de trenó, o que obviamente não lhes traz nenhum serviço ou benefício num país tropical. O Erick, entretanto, sempre fazia questão de ir à frente puxando a guia quando saíamos para passear. O instinto mandava.

Lá pelas tantas, depois de um belo passeio, fazia questão de pedir colo, e apesar dos seus 25 - 30 kg de peso, eu fazia questão de carregá-lo por alguns metros, para que ele se sentisse importante e protegido.

Foi um amigo fiel por quase 13 anos de vida. Nos últimos 3 anos, quando já era o último sobrevivente dos cães da casa, usufruiu de todas as regalias de morar num lar onde era o centro das atenções, e sabia retribuir todo o carinho que lhe era dedicado.

Que saudade enorme deixou esse "ursinho" branco com a língua de fora sempre sorridente. A foto abaixo conseguiu capturar muito do seu comportamento dócil.



Inteligente ao extremo para um cão, sabia se comunicar com todos, revelando-nos as suas mais estranhas vontades e entendendo tudo o que lhe era dito, mantendo acesa minha suspeita empírica de que os cães só não aprendem a se comunicar com os humanos de uma maneira muito mais eficaz porque a sua expectativa de vida é relativa e comparativamente baixa.

Se pudessem viver uns 40 a 50 anos com qualidade, talvez descobríssemos uma nova forma de comunicação inter-espécies.

De qualquer maneira, com o Erick, despeço-me também da espécie canina. Aos 50 anos de idade recém-completados, tive o privilégio de sempre ter um cão ao lado, com a consciência tranquila de que todos foram muito bem tratados.

Agora, devo admitir que não tenho mais condições de cuidar deles com a atenção que eles sempre mereceram. É preciso saber decidir quando por fim a um grande prazer.

Chegou a hora, portanto. Com o Erick digo adeus também, em grande estilo, à espécie canina, na esperança de que cães e humanos sejam os melhores amigos para sempre.






Jovens católicos divergem de Roma em questões essenciais


É o que aponta pesquisa do Ibope divulgada pelo Estadão:

Jovens católicos têm visões opostas às da Igreja, diz Ibope

Pesquisa mostra que 82% defendem o uso da pílula do dia seguinte e 56% apoiam a união entre pessoas do mesmo sexo

Giovana Girardi

SÃO PAULO - Ao se reunir com os participantes da Jornada Mundial da Juventude no Rio, onde chega nesta segunda-feira, 22, o papa Francisco verá que os jovens fiéis têm opiniões cada vez mais diferentes das defendidas pela Igreja. É o que sugere pesquisa Ibope encomendada pelo grupo Católicas pelo Direito de Decidir divulgada nesta segunda.

O levantamento, que ouviu a opinião de 4.004 brasileiros, sendo 62% deles católicos, observou concordância com temas como uso da pílula do dia seguinte (82% dos jovens católicos apoiariam total ou parcialmente a Igreja se ela resolvesse permitir seu uso) e união entre pessoas do mesmo sexo (apoio de 56% dos jovens).

A maioria de jovens católicos (62%) discorda totalmente ou em parte também da prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto, independente de renda, escolaridade e região do País.

Jovens católicos também revelam apoio (total ou parcial) a mudanças na política interna da Igreja: 90% defendem a punição de religiosos envolvidos em crimes de pedofilia e corrupção, 72% aprovam o fim do celibato para os padres e 62%, a ordenação de mulheres.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Apresentadora de TV desenha pênis na tela (acidentalmente, supõe-se!)


Você, minha amiga, meu amigo, a quem o destino reservou a glamourosa profissão de apresentador(a) de TV, tome muito cuidado com as novas tecnologias, especialmente aquela que permite que você desenhe ao vivo e a cores numa tela sensível ao toque.

O resultado pode ser tragicômico, como você pode conferir no vídeo abaixo:




Papa Francisco 10 x 0 Falastrões Gospel

O papa Francisco já foi embora depois de uma semana agitada no Brasil, e muitas conclusões já foram e continuarão sendo feitas a respeito de sua estada entre nós.

Limitaremos nossa análise preliminar, entretanto, a um quesito apenas: sua notória capacidade de se comunicar com os mais diferentes estratos da sociedade.

Nesse aspecto, o papa Francisco deu um show de comunicação, simpatia, empatia e simplicidade.

Sem abrir mão do dogmatismo católico inerente à fala do trono do Vaticano, o pontífice romano conseguiu fazer-se ouvir e ouviu com mansidão e brilhantismo.

Fez a sua mensagem compassiva ser recebida mesmo através do silêncio de seu olhar contemplativo.

Foi fiel, portanto, a pelo menos três preceitos neotestamentários (e paulinos) sobre como dialogar com um mundo não cristão:
Filipenses 4:5 Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.

Colossenses 4:6 A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.

Tito 2:7-8 Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra integridade, sobriedade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se confunda, não tendo nenhum mal que dizer de nós.
Aos quais podemos acrescentar o sempre bem-vindo conselho de Pedro:
1ª Pedro 3:15 antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós;
Sem querer entrar nas diferenças doutrinárias aparentemente irreconciliáveis entre católicos e protestantes, foi inevitável comparar a postura papal com aquela de alguns expoentes evangélicos que usam e abusam cotidianamente de todas as formas de mídia.

Os nomes desses nem precisam ser citados, pois a sua verborragia e seus interesses monetários invadem os lares brasileiros todos os dias pelas ondas do rádio e da TV.

Outra maneira pela qual os falastrões gospel são conhecidos é pela sua falta de compaixão e sua contundência em atacar os adversários e rebater as críticas, desqualificando os oponentes e partindo para a agressão verbal sem o menor pudor.

Qualquer pessoa minimamente versada na Bíblia já identificaria que lhes falta não só humildade e simplicidade, mas a moderação que deve caracterizar qualquer pessoa que diz professar o evangelho.

A julgar apenas por este critério, o papa Francisco deu de 10 x 0 nos pugilistas verbais que se dizem “evangélicos” e infestam nossos rádios e televisões.

Conclusão óbvia: considerando os líderes que aparecem na mídia, os católicos estão muito melhores de papa do que os evangélicos.



domingo, 28 de julho de 2013

Mentirinhas cotidianas

Interessante artigo publicado no Valor Econômico de 19/07/13:

Pra que mentir?

Marsílea Gombata

"Desculpe o atraso, peguei um engarrafamento terrível." "Perdão por não ter ido ao seu aniversário, mas tive de trabalhar o sábado todo." Atire a primeira pedra quem nunca desrespeitou o oitavo mandamento - "Não levantarás falso testemunho" - e não lançou mão de mentiras para acobertar uma verdade possivelmente danosa às relações sociais se revelada - como a preguiça de levantar cedo da cama ou mesmo de ir a uma festa nem tão legal assim.

Ferramenta necessária à vida humana, a mentira que ajuda a conviver em sociedade e burlar regras sem (tanta) culpa tem origem no contexto do pecado original. Desde que Adão jogou a culpa em Eva e esta jogou a culpa na serpente por terem comido o fruto proibido, como lembra o sociólogo Alexandre Werneck no recentemente lançado "Desculpa - As Circunstâncias e a Moral das Relações Sociais", passamos a recorrer a desculpas em nome do desejo de não ofender nossos semelhantes, da preservação das relações estabelecidas e, portanto, da manutenção da paz. Assim, seja ao justificar um atraso, aprovar o figurino desconexo de uma amiga ou elogiar a comida sem gosto, mentimos e enganamos quem nos cerca de forma corriqueira.

"A vida social requer desonestidade. Uma pessoa que sempre disser a verdade será banida socialmente, viverá e morrerá sozinha", afirma David Smith, professor de filosofia da Universidade de New England, nos Estados Unidos, e autor de "Less Than Human: Why We Demean, Enslave, and Exterminate Others". E mais: "Alguém que sempre falasse a verdade a si mesmo possivelmente ficaria louco. A vida é difícil, e o autoengano nos ajuda a levá-la".

Recorremos a tal prática, segundo o psiquiatra e presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, Alvaro Ancona, para preservar nossa "máscara social", aquilo que Carl Jung denominava persona. Ele diferencia, no entanto, a mentira social da patológica. "Enquanto a primeira busca um ganho afetivo explícito, a segunda ocorre quando se escondem aspectos da identidade ou propósitos. Assim, mentir para evitar que alguém se chateie é bem diferente de tentar vender um terreno que não existe."

A mentira patológica, Ancona acrescenta, pode ocorrer quando há um quadro de transtorno de personalidade antissocial, mais comumente conhecido por psicopatia. Seriam pessoas com maior facilidade para mentir, pois não têm empatia e não conseguem se colocar no lugar do outro, como geralmente fazemos.

No âmbito geopolítico, líderes engajados na difusão do medo, lembra John J. Mearsheimer no livro "Por que os Líderes Mentem", também lançaram mão de mentiras "para criar na mente da população uma ameaça quase inexistente". Como as inverdades entoadas pelo governo de George W. Bush para justificar a necessidade da guerra no Iraque. "Indivíduos-chave no governo Bush que pressionaram para que os EUA invadissem o Iraque antes de 19 de março de 2003 afirmavam estarem certos de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa", o que mais tarde acabou se mostrando mentira. Segundo o cientista político americano, Bush seguiu os passos de predecessores como Franklin D. Roosevelt, que mentiu sobre um incidente naval de 1941 com o intuito de envolver os EUA na Segunda Guerra. Um exemplo de versão oficial envolta em nebulosidade fundamental para a edificação do país como potência, na visão do jornalista britânico Jeremy Campbell, que escreveu "A Saga do Mentiroso: Uma História da Falsidade" (2001). "Os EUA se tornaram um império graças, em parte, ao fato de ninguém poder definir exatamente o significado da palavra verdade. James K. Polk, seu 11º presidente [cuja administração foi marcada pelo expansionismo territorial], por exemplo, era mestre em semiverdades enigmáticas, que até hoje lhe rendem defensores."

Mas, mesmo cientes da existência de versões nem tão verdadeiras, estaríamos dispostos a abrir mão da mentira? Possivelmente não, arrisca dizer Smith, ao denunciar artifícios e dissimulações na vida cotidiana, tais como maquiagem e cirurgias estéticas, que seriam versões amplificadas da mentira. "A mentira nos ajuda a conseguir o que queremos, a sermos mais populares, [a parecer] mais ricos e mais sexualmente desejáveis. Mentir é um passaporte para o sucesso."

Ao fazê-lo, afirma a psicóloga Mônica Portella, deixamos vazar pistas no campo comportamental, como gestos e reações não verbais que vão desde variações de intensidade da voz e pausas mais frequentes no discurso até sons que não fazem parte da língua, como risadas e suspiros. "Não existe um padrão. Alguns apresentam vários sinais denunciantes e outros conseguem mentir mantendo contato ocular", diz a autora de "Como Identificar a Mentira - Sinais Não Verbais da Dissimulação".

Enquanto pesquisas britânicas do Museu da Ciência de Londres chegaram à conclusão de que o homem mente, em média, três vezes por dia - o equivalente a 1.095 mentiras por ano - contra duas mentiras diárias das mulheres - cerca de 730 anuais - e estudos americanos apontaram que mentimos em cerca de 25% das interações que fazemos, a realidade brasileira mostrou que as mulheres percebem melhor a mentira, enquanto os homens mentem melhor, ou seja, sem deixar tantas pistas. "A mulher tem uma percepção mais global e consegue notar vários aspectos ao mesmo tempo. O homem se prende a uma característica de cada vez", explica Mônica ao sublinhar atributos femininos como intuição e sensibilidade.

Como, então, identificar quando uma desculpa é mentirosa ou genuína? Segundo Smith, enquanto desculpas seriam razões que damos para explicar determinado comportamento, mentiras fariam um falso retrato da realidade. A distinção também é contemplada por Werneck, para quem a desculpa funciona como "um operador linguístico usado quando admitimos que fizemos algo errado, mas dizemos que não somos responsáveis por aquilo".

Mas, atenção: vínculos afetivos e altos níveis de intimidade são avessos à detecção de inverdades. Quanto maior o envolvimento emocional com o interlocutor, menor a capacidade de descobrir mentiras. Assim, explica Mônica, se um especialista em comportamento não verbal tem 80% de chance de identificar quando alguém está mentindo, quando existe envolvimento afetivo essa capacidade de detecção cai para 20%, porcentagem equivalente à taxa de chute. "Ou seja: o especialista consegue saber se uma pessoa no trabalho está mentindo, mas não a mulher dele."

Estamos, portanto, mais cercados de mentiras do que supõe nossa ingênua percepção. A mentira é tão parte do universo humano quanto a verdade.



sábado, 27 de julho de 2013

Profissionais do sexo são ecumênicas no Rio de Janeiro

Crônica de Mário Magalhães para o UOL:

Elas também são filhas de Deus

Na missa das seis horas do domingo, quando a noite caíra sobre a Baixada Fluminense, Sabrina rezou a Ave-Maria e o Pai Nosso numa igreja local. Como não fez a primeira comunhão, embora tenha sido batizada, a moça de 25 anos não comungou nem se confessou.

Já na madrugada de hoje, segunda-feira, a universitária aluna de Letras perambula por Copacabana, a poucas centenas de metros do palco de onde o papa Francisco abençoará os fiéis na sexta. Com área de 3.115 metros quadrados e oito metros acima da areia da praia, o tablado se colore com o azul das luzes artificiais, que só não brilham mais porque a lua cheia ilumina generosamente a semana que começa.

Mais perto ainda de Sabrina, a menos de cem metros, ergue-se a décima estação da Via-Sacra que será encenada diante do papa e uma multidão de católicos e curiosos. Ainda mais pertinho, na mesma calçada, está fechada a loja de souvenires da Jornada Mundial da Juventude.

Devota de Santo Antônio, de quem espera de presente um casamento para toda a vida, a exuberante mulata Sabrina não serpenteia entre as mesas do Bar Balcony atrás de marido ou de graças divinas. Garota de programa, ela procura um cliente.

Foi para o Balcony que migrou parte das mulheres de vida árdua depois que o Estado do Rio liquidou a Help, em janeiro de 2010. Templo da prostituição na zona sul carioca, a boate dará lugar à nova sede do Museu da Imagem e do Som. “Vamos recuperar uma área degradada da cidade”, anunciou na época o governador Sérgio Cabral, com dicção puritana.

Além do Balcony, com suas mesas e cadeiras espalhadas pela calçada da avenida Atlântica, dois estabelecimentos vizinhos atraem clientela com cacife para desembolsar centenas de reais por uma horinha de saliência. A Dolce Vita Disco promete: “Venha curtir uma noite inesquecível no melhor ponto de Copacabana”. O Kalabria Club fulmina eufemismos: “Suas noites com mais prazer”.

As três casas situam-se ou são grudadas à praça do Lido, escancarada para o mar. Ali fica a churrascaria Carretão, mas, com o perdão da vulgaridade, são outras as carnes que seduzem as legiões de turistas que acorrem até lá. Moradores dos edifícios protestam contra a gritaria das brigas noite adentro que lhes perturbam o sono. Sem contar a assuada decorrente das batidas policiais em busca de menores de idade e drogas ilícitas.

O Balcony não descansa: está aberto 24 horas por dia. O “breakfast buffet”, com panquecas, xaropes, bacon, ovos mexidos e outras comidas do gosto de estrangeiros, inicia às quatro horas da manhã e termina às dez.

Sexo ecumênico

“Sei que vivo em pecado”, murmura a mineira Mel, sobre saltos arranha-céu, ao lado do bar. Evangélica, ela imagina que seria feliz se vivesse como freira católica. Na virada do sábado para o domingo, quando se deitou com um angolano, um chinês e um paulista, um de cada vez, embolsou R$ 750.

Nos seus tempos de atendente de telemarketing, amargava um salário mínimo mensal. O marido, que acalenta gays em uma sauna, fatura R$ 70 a cada 15 minutos de ereção. Ela tem 20 anos, ele 22.

“Se o papa passar e olhar para mim, eu vou gritar ‘come on’”, brinca Mel, estampando o sorriso enfeitado por aparelhos nos dentes e fazendo com um dedo indicador o sinal de quem chama Chico para conhecê-la melhor.

Duas décadas atrás, outra evangélica labutava nas madrugadas do Lido, antes mesmo do ocaso da Help. “Cheguei a sair com o primeiro-ministro de certo país”, testemunhou Wilma Ribeiro em livro. Hoje a antiga prostituta é pastora da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte.

O pastor Marcos Feliciano, igualmente evangélico, foi filmado pregando que os católicos adoram Satanás e têm o corpo “entregue à prostituição”. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados talvez mudasse de opinião se passeasse pelo ecumenismo do sexo pago em Copacabana.

A balzaquiana Júlia, uma tentadora mistura de sangue alemão, africano e indígena, filiou-se à Igreja Católica por 15 anos, à Assembleia de Deus por seis e no momento flerta com o ateísmo. “Ou é céu ou o inferno”, ela contrapõe. “Não dá para servir a dois deuses ao mesmo tempo. Agora, estou no inferno.”

Mas seu inferno está longe do vermelho, pois não morre no prejuízo quem exige R$ 500 antes de subir com os clientes a um quarto dos dois hotéis do Lido onde eles deixam mais R$ 80 ou R$ 100 pela hospedagem: “Sou como o cinema, cobro antes”. Como as outras, jura não pagar um centavo para gigolô.

Com o desembarque do hermano Francisco, Júlia sumirá de Copa. Teme que manifestantes tementes a Deus se voltem contra o pecado que mora ao lado do palco do papa. “Podem confundir as coisas e haver um protesto contra nós.” Ela ignora que o cardeal Jorge Mario Bergoglio celebrou missa com prostitutas e ex-prostitutas em Buenos Aires. Nada lhe falei porque só vim a saber há pouco, informado pelo meu velho chapa Rodrigo Bertolotto.

Júlia se lembra de que há dois meses um táxi parou, e o passageiro mandou o motorista convocar uma garota de cabelo curtinho e seios mirrados, “que mais parece um menininho de 12 anos”, mas é mulher e maior. Mais tarde, a jovem rameira confidenciou: o freguês era um padre. “Eu é que ainda quero ‘fazer’ um padre”, fantasia Júlia.

Ela e as companheiras de ofício, em meio aos perfumes adocicados que exalam, gargalham da recomendação do Vaticano contra camisinha. “Iria morrer todo mundo”, Júlia prevê.

‘De dia, é papa. De noite, é puta’

Seu nome de batismo, como o de todas as personagens mencionadas, é outro. Júlia é mãe de quatro filhos. Bruna, uma magrinha espelicute de 23 anos, de dois. Bruna se enfureceu com a visita do papa, que estaria afugentando o macharéu. Como ela também roda sua bolsa na pista, isto é, batalha na rua calçada com pedras portuguesas, queixa-se das grades que isolarão a avenida: “Vão me prejudicar. Quero que o papa se…”.

Sabrina, a mulata que não está no mapa, não tem do que lamentar. Fisgou um freguês que veio ao Rio para a jornada. Algumas garotas contam que os peregrinos passam pelo Balcony, olham demoradamente para elas, mas não sucumbem à tentação. Logo um taxista diria temer os próximos dias, porque os forasteiros têm pouco dinheiro e andam de transporte coletivo.

Uma prostituta aparentada da Dona Redonda confirma que desde a quinta-feira o movimento murchou. Mas o baixote leão-de-chácara da Dolce Vita nega, contrariado: “É que estamos na baixa temporada. Em agosto, com as férias na Europa, esquenta. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. De dia, é papa. De noite, é puta”.

Por volta da uma e meia da manhã, elas são mais de 50 no Balcony. Chamam muito mais a atenção do que as TVs exibindo rugbi, baseball, lutas e futebol para a gringolândia. As mais formosas aguardam a abordagem, pois “se for em cima deles já se desvaloriza”, ensina Júlia. Ao redor da mesa onde bebemos Coca-Cola, sentam-se libaneses, americanos, noruegueses e brasileiros.

Milena, 28, veio de metrô para o batente. Ela viajava no vagão de um grupo de homens participantes da Jornada Mundial da Juventude. Quando entraram duas mulheres de short curtinho, os marmanjos contorceram os pescoços para admirar os traseiros.

“Hipócritas”, esperneou Milena, ameaçando um barraco.

Besteira dela. Afinal, como as garotas de programa, os peregrinos também são filhos de Deus.



sexta-feira, 26 de julho de 2013

Jovens creem menos em políticos e religiosos

Artigo publicado no Opera Mundi:

Instituições políticas e religiosas são as que têm menos credibilidade entre jovens

Pesquisa feita em 20 países ibero-americanos e com mais de 20 mil pessoas colocou as universidades como a instituição mais próxima da juventude

As instituições religiosas e políticas são as que contam com menos credibilidade entre os jovens ibero-americanos, de acordo com pesquisa realizada pela OIJ (Organização Ibero-Americana da Juventude) que será divulgada nesta segunda-feira (22/07). O estudo, obtido com exclusividade por Opera Mundi, foi feito em 20 países, com mais de 20 mil entrevistas de pessoas entre 15 e 29 anos.

Dos oito itens avaliados, apenas os governos, as organizações religiosas e a classe política têm confiança inferior a 25% dos entrevistados.

"Há uma distância muito grande entre política e juventude na atualidade. O recente desenvolvimento econômico e social da América Latina não conseguiu mudar isso. Por outro lado, você vê a universidade como líder absoluta em termos de imagem entre os jovens", analisa o secretário-geral da OIJ, Alejo Ramírez, fazendo referência à instituição com melhor índice de avaliação. Além das universidades, os meios de comunicação e a polícia também obtiveram boas notas.

Para Bruno Vanhoni, assessor de relações internacionais da Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, há um outro aspecto que contribui para a descrença com as organizações religiosas. "A juventude tem uma opinião diferente sobre a liberdade, que muitas vezes não se encaixa nas religiões mais ortodoxas".

Uma diferença importante entre os jovens sul-americanos e os da península ibérica é como eles veem a melhor forma para se conseguir um bom emprego. Para portugueses e espanhóis, a fórmula ideal ocorre por meio de contatos sociais. Na América Latina, com exceção do México, a educação é vista como prioritária.

"É bem diferente se você acha que o melhor jeito para obter emprego é estudando ou tendo contatos. Mostra o jeito da sociedade como um todo, não só dos jovens. Achar que ter contatos é melhor mostra uma sociedade que está se equivocando, não há meritocracia. No caso da Europa, isso pode estar ligado à falta de boas perspectivas com a crise econômica", afirma o argentino Ramírez.

Excepcionalidades brasileiras

Em relação aos brasileiros, há dois traços importantes. Na comparação com os outros países, eles aparecerem como progressistas, dando suporte ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à legalização da maconha, mas também são mais resistentes à integração regional.

"É uma contradição. Talvez mostre que os brasileiros jogam um jogo diferente dos demais. Se a região ibero-americana fosse um time, vocês seriam o goleio, que pode usar a mão", brinca Ramírez. Vanhoni concorda com o argumento do secretário-geral da OIJ e acrescenta que o governo brasileiro tem se dedicado ao tema. "Os outros países têm uma identidade comum devido ao idioma. Mas o Brasil está diminuindo isso aos poucos. Principalmente nas fronteiras, já há um sentimento maior de ser latino-americano".



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Preso pastor que circuncidava fiéis com tesoura na Costa Rica

Essa estranha mistura que alguns judaizantes fazem entre cristianismo e judaísmo continua produzindo loucuras mundo afora.

É uma profusão de arcas, shofares, bandeiras, vestes e danças hebraicas, que apenas revelam que para certos "cristãos" o sacrifício de Cristo já não é mais suficiente.

Tente imaginar a trágica cena: um tarado travestido de pastor inventa um rito de circuncisão para tocar nos pênis dos homens adultos (no caso costarriquenho também um menor de idade) de sua congregação.

Isto tem outro nome: fetiche! Assim como não deixa de ser fetiche os usos e costumes judaicos que alguns hereges tentam introduzir naquilo que entendem por "cristianismo".

Como já dizia o profeta Oseias (4:6), "o meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento".

No fundo, é uma falta de respeito com ambas as religiões e com a singeleza e singularidade das revelações, tradições e rituais que são próprios de cada uma delas. 

Ao judaísmo o que é do judaísmo, e ao cristianismo o que é do cristianismo, e que todos convivamos tolerantemente bem com nossas semelhanças e diferenças. Simples assim.

A notícia é do Terra:

Pastor é preso por circuncidar fiéis com tesouras na Costa Rica

As autoridades judiciais da Costa Rica detiveram nesta quarta-feira um pastor de uma igreja evangélica que foi denunciado por abusos sexuais e por circuncidar fiéis com tesouras.

O pastor de sobrenome Gutiérrez e de 44 anos de idade foi interrogado hoje pelas autoridades e está preso na comunidade de Santa Cruz, província de Guanacaste, a 280 quilômetros de San José, informou hoje a imprensa local.

Segundo os depoimentos dos litigantes, divulgados pelo jornal Diario Extra e o Canal 7 da televisão local, o pastor abusou sexualmente de pelo menos quatro pessoas, uma delas menor de idade, com a justificativa de expulsar o demônio de seus corpos através da unção de seus genitais.

Além disso, um homem, identificado somente pelo seu sobrenome Arroliga, denunciou que teve seu órgão sexual mutilado durante uma circuncisão feita pelo pastor com tesouras, analgésicos e gaze.

"Ele anestesiou minha genitália e, utilizando tesouras, fez dois cortes no meu prepúcio, o que provocou muito sangramento, depois fez um curativo com uma gaze", declarou Arroliga ao Diario Extra.

O homem relatou que ficou sem poder andar por três dias e que a intervenção lhe trouxe problemas de saúde e na relação com sua companheira.

José Flores, supervisor nacional da igreja evangélica, disse ao jornal que o sacerdote foi suspenso após reconhecer que ele tinha realizado uma circuncisão sem ser médico. O caso está sendo investigado pelas autoridades e o pastor pode ser acusado por abuso sexual e lesão corporal.



quarta-feira, 24 de julho de 2013

Vladimir Putin diz que foi batizado às escondidas do pai comunista

A notícia é do Terra:

Vladimir Putin revela que foi batizado às escondidas do pai comunista

O chefe do Kremlin fez estas afirmações em um documentário transmitido pela televisão pública russa nesta segunda-feira

O presidente russo, Vladimir Putin, revelou nesta segunda-feira que foi batizado às escondidas de seu pai, um membro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

"Minha mãe me batizou às escondidas do meu pai, que era membro do Partido Comunista. Ele não era nenhum funcionário, trabalhava na fábrica, mas era um ativista de base do partido na organização da fábrica", disse Putin, citado pelas agências locais.

Putin, um crente confesso, acrescentou: "portanto, isso (o batismo) me comoveu, pessoalmente, e a nossa família".

Segundo a imprensa local, o líder russo foi batizado na catedral da Santa Transfiguração de São Petersburgo, onde nasceu em 1952, um ano antes da morte do dirigente soviético, Josef Stalin.

O chefe do Kremlin fez estas afirmações no documentário "O segundo batismo da Rússia", que foi transmitido pela televisão pública russa e mostrou a perseguição dos crentes durante a era soviética. "A Igreja é parceiro natural do Estado" na Rússia, afirmou o presidente.

Putin ordenou a devolução à Igreja Ortodoxa de muitas das propriedades confiscadas pelas autoridades soviéticas, o que foi criticado pela oposição, que a acusa de conivência com o poder comunista.

Em janeiro de 2012 Putin recebeu a bênção do ícone de Nossa Senhora de Tíjvin, na região de Leningrado, da mesma forma que todos os czares desde Ivan o Terrível (1530-84), com exceção do último, Nicolau II, que foi fuzilado pelos bolcheviques em 1918.





terça-feira, 23 de julho de 2013

Ortodoxos russos se unem para proteger Snowden


A notícia é do Terra:

Organização ortodoxa russa cria fundo para financiar Snowden

A organização ortodoxa russa "Pchiolki" (As abelhas) anunciou nesta segunda-feira a criação de um fundo para ajudar Edward Snowden, o ex-analista da CIA procurado pela Justiça dos Estados Unidos que está há quatro semanas no aeroporto internacional de Moscou.

"Nosso povo sempre foi misericordioso com aqueles que são injustamente perseguidos e maltratados. Por vontade de Deus, Edward Snowden recebeu refúgio temporário na Rússia", informou o grupo em comunicado.

A organização critica a hipocrisia dos funcionários da CIA que perseguem o homem que mais teria feito em defesa dos ideais de liberdade e democracia que eles (os americanos) dizem promover. "Snowden, cuja vida está sob verdadeira ameaça em sua própria pátria, se vê obrigado a perambular pelo mundo", diz a nota, que ressalta que o fugitivo americano "precisa de dinheiro para pagar casa, alimentação e transporte".

"Pchiolkí" pede para que os russos enviem dinheiro para ajudar Snowden, com a promessa de que o grupo divulgará em seu site informações sobre os valores arrecadados e sua destinação.

O advogado russo Anatoli Kucherena, assessor legal de Snowden, reconheceu que o ex-analista tem recebido várias propostas de casamento, casa e assistência material. Além disso, Kucherena explicou que Snowden está à espera do Serviço Federal de Migração confirmar o recebimento da solicitação de asilo temporário na Rússia para que, no máximo nesta semana, Snowden possa abandonar a zona de trânsito no aeroporto.

Caso receba asilo temporário, uma espécie de status humanitário de refugiado que é concedido por um ano, Snowden terá quase os mesmos direitos de um cidadão russo, incluindo a licença de trabalho.



segunda-feira, 22 de julho de 2013

Papa vem ao Brasil em busca do rebanho perdido


O excelente artigo abaixo, escrito por João Luiz Rosa e publicado no Valor Econômico de 19 de julho de 2013, é longo, mas vale a pena a sua leitura por todos aqueles que querem se aprofundar na análise do fenômeno religioso brasileiro e suas ramificações mundiais:

Em busca do rebanho perdido

João Luiz Rosa

Ter o Brasil como destino da primeira grande viagem internacional do papa Francisco parece tão adequado para a Igreja de Roma que até os descrentes poderiam suspeitar de uma pequena ajuda dos céus. O cardeal argentino Jorge Bergoglio deixou Buenos Aires para se tornar o primeiro pontífice do Hemisfério Sul, para onde tem se deslocado o eixo do cristianismo mundial nos últimos anos, e o único até agora a ter origem na América Latina, terra de boa parte do rebanho católico atualmente. Francisco, 266º papa da história, virá ao maior país católico do mundo na semana que vem e vai falar a um público que desperta a atenção de qualquer credo religioso: os jovens.

Sob esse mar de conveniências, no entanto, se acumulam indícios de que está em curso uma transformação radical no cenário religioso brasileiro, que transborda os limites da fé e tem implicações em todas as outras áreas da vida, da política à economia. Parte dessas mudanças ainda é difícil de distinguir e afeta diversas confissões religiosas, mas parece inegável que o traço mais emblemático desse processo seja a diminuição da influência católica.

Em quase um século, o número de católicos no Brasil caiu apenas 8%. Em 1872, ainda na época do império, 100% da população brasileira se declarava fiel aos princípios de Roma. Em 1970, sob o regime militar, essa porcentagem era de 91,8%. Foi quando a tendência começou a se acelerar. E muito. De 1980 a 2010, os católicos passaram de 89% da população para 65%, uma queda de 24 pontos percentuais em apenas 30 anos. Enquanto isso, os evangélicos tiveram um aumento de 15,5 pontos percentuais, passando de 6,6% para 22,2% dos brasileiros. O impulso veio principalmente das igrejas pentecostais - grupos evangélicos mais recentes, com ênfase em habilidades especiais, como a capacidade de curar doentes. De 1980 a 2000, o número de pentecostais dobrou a cada década, de 3,9 milhões para 17,6 milhões de fiéis. Em 2010, eles já eram 25,4 milhões. Ou seja, o papa também vai pregar naquele que provavelmente também é o maior país pentecostal do planeta.

"O Brasil entrou definitivamente na era do pluralismo religioso. Passou de uma posição de hegemonia católica para uma de maioria católica", diz o professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Mas a perda de espaço dos católicos para os pentecostais - e para os que se declaram sem religião, outro grupo em crescimento - não ocorre da mesma maneira em todo o país, ressalva Jacob. "Há lugares onde a Igreja Católica perde muito e outros onde perde pouco ou quase nada."

Parece misterioso, mas a redução mais acentuada ocorre em dois cenários muito distintos entre si: na chamada fronteira agrícola, formada por Estados como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da região amazônica, e nas periferias das maiores metrópoles, como São Paulo e Rio. "O que há de comum entre esses dois mundos?", pergunta o professor. "O migrante", responde.

Migrações não são um fenômeno novo no país e, necessariamente, não implicam uma mudança da matriz religiosa, mas alterações historicamente recentes no processo migratório acabaram induzindo uma transformação no quadro confessional do país, diz Jacob. Da Primeira Guerra até 1974, o primeiro choque do petróleo, muita gente mudou do interior para as capitais sem trocar de religião. O que aconteceu a partir daí, afirma o estudioso, é que sucessivas crises econômicas empobreceram tanto a população que a motivação dos migrantes passou do sonho de buscar uma vida melhor para a sobrevivência pura e simples.

Sem emprego e com o Estado quebrado, essas pessoas se viram reunidas em áreas que tinham pouco a ver com sua região original, sem o apoio da família e de amigos e com quase nenhuma infraestrutura para dar conta das necessidades mais básicas. Como a Igreja Católica também não estava presente nessas áreas, pelo menos de maneira maciça, esses grupos passaram a prestar mais atenção em uma pregação que muitos nunca tinham ouvido antes - a dos pentecostais. Estavam abertas as portas para o fluxo de conversões que se veria a seguir.

A Igreja Católica bem que tentou se aproximar dessa parcela da população mais pobre, em um esforço que abriu um dos capítulos mais polêmicos da história recente do catolicismo na América Latina. Foram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que se disseminaram entre os anos 60 e 80. Muito influenciadas por adeptos da Teologia da Libertação, que tentava aproximar o evangelho da teoria marxista, as CEBs não conseguiram a adesão massiva dos mais pobres e acabaram se tornando alvo das animosidades entre as diferentes facções da hierarquia romana, opondo bispos e religiosos mais conservadores aos progressistas.

"Imagine que você é uma mulher pobre, nos anos 70 ou 80, com um marido que está desempregado e fica violento quando bebe", diz o professor Rodrigo Franklin de Sousa, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. "Você vai a uma CEB, onde encontra um padre altamente intelectualizado, falando sobre a estrutura do capitalismo. Em seguida, vai a uma igreja pentecostal, na qual o pastor diz que vai orar para seu marido parar de beber cachaça e proporcionar a você uma vida melhor. Em que lugar você ficaria?"

Com o tempo, esse descompasso acabou ficando tão evidente que os estudiosos da religião criaram uma frase para resumir aquele período. "A Teologia da Libertação fez uma opção preferencial pelos pobres, mas os pobres fizeram uma opção pelo pentecostalismo", repete Sousa.

Na prática, a polarização na Igreja Católica deixou, de um lado, uma instituição formal e dogmática, defendida pelos mais conservadores e distante da população; de outro, as CEBS, que passaram a ser bombardeadas internamente, principalmente a partir do pontificado de João Paulo II, e também não se mostraram hábeis em atrair fiéis. No vácuo, os pentecostais iniciaram sua escalada, que se revelaria muito mais bem-sucedida do que parecia a princípio.

O avanço pentecostal não é a única preocupação da Igreja Católica. O próprio perfil de quem permanece fiel à instituição mudou muito. "Se no passado havia uma pressão para ser religioso, hoje existe uma força contrária, para não ser. Curiosamente, o que se vê é que muitos católicos, principalmente entre os jovens, têm sido mais engajados. São religiosos por opção", afirma Sousa, do Mackenzie. O enunciado da equação é que, se há menos católicos no total, existe entre eles um número maior de praticantes.

Isso, porém, não quer dizer obediência cega aos preceitos da Igreja Romana. A maioria dos católicos ignora solenemente alguns princípios preconizados por padres, bispos e cardeais. É o caso da proibição do sexo antes do casamento e do uso de métodos contraceptivos como a pílula anticoncepcional. O aumento do número de adolescentes grávidas e solteiras - algumas no segundo ou terceiro filhos - mostra isso. O divórcio, um ponto nunca digerido totalmente por Roma, também se tornou comum, apesar de o matrimônio ser um sacramento para os católicos e, portanto, considerado indissolúvel.

"O católico brasileiro ama ser católico, mas quer construir identidade própria, independentemente do dogma. Ele se identifica com a religiosidade, mas nos seus termos, o que também vale para outras religiões", diz o professor Sousa.

Essa liberdade se soma a fenômenos culturais com raízes mais antigas, que fomentaram uma fé sincrética, que toma emprestados aspectos de diferentes religiões para criar uma expressão individual muito particular de religiosidade. No Brasil, todo mundo conhece alguém que se define como católico, mas acredita em reencarnação, joga velas para Iemanjá no réveillon e mantém uma estátua de Buda na estante para dar sorte - elementos que não têm nada a ver com a fé católica.

A pergunta é como esse católico pouco tradicional, a despeito de um perfil eventualmente mais interessado na vida eclesiástica, vai responder a outras questões de ordem prática, sobre as quais a Igreja Católica tem posições claras, nem sempre em sintonia com o desejo da maioria. O casamento gay está longe de um consenso, mas já foi legalizado em países tradicionalmente católicos e vem sendo discutido em muitos outros lugares. O aborto, outro tema explosivo, também suscita discussões recorrentes, assim como as pesquisa com células-tronco. A influência da Igreja Católica será proporcionalmente maior à medida que conseguir convencer seus fiéis de que seus argumentos estão corretos. A alternativa é pregar ao vento, sem ninguém para ouvir.

É a esse jovem, que tomou parte ou no mínimo acompanhou os protestos recentes no país, que o papa Francisco vai falar no Rio, durante a Jornada Mundial da Juventude, instituída por João Paulo II em 1984. "Será a abertura de seu pontificado em termos estratégicos", diz o professor Fernando Altemeyer, do Departamento de Teologia da PUC-SP. "Questões relativas à moral sexual, como o uso da camisinha e o casamento gay, provavelmente não serão tratados na viagem. Os temas ficarão concentrados em pontos estratégicos da vida do jovem", afirma o teólogo.

A expectativa de Altemeyer é que cerca de 320 mil jovens participem das atividades da semana, um número que pode chegar a 500 mil, já que ainda há vagas a preencher. "A última missa pode reunir os 2 milhões de pessoas esperadas, mas não dá para dizer que todos eles terão participado da Jornada. [Na missa] vai estar lotado de protestante, pentecostal, gente da umbanda e do candomblé... Todo mundo quer ver o papa", diz o professor da PUC-SP. "Vai ser uma apoteose."

A figura de Francisco, a começar do nome escolhido - uma referência ao santo pobre e amigo dos animais -, ajuda a capturar a atenção do público. Nas redes de TV e no noticiário em geral voltou à moda um bordão retirado de um rock nacional dos anos 80: "O papa é pop". O caráter midiático do chefe da Igreja Católica não pode ser subestimado. Principalmente porque ele sucede à imagem severa do envelhecido papa Bento XVI, anteriormente cardeal Ratzinger e hoje papa emérito. "Bento XVI era um intelectual, era cérebro. Francisco é estômago, é visceral", observa Altemeyer.

Com a visita ao Brasil, será a hora de saber quanto a imagem risonha e amigável de Francisco será capaz de contribuir para a recuperação de parte do rebanho perdido no Brasil. Sob qualquer aspecto, não é uma tarefa fácil. Muitos estudiosos da religião observam uma forte alteração de rota, na direção do conservadorismo, a partir de João Paulo II, com desdobramentos ainda mais profundos sob a direção de Bento XVI. A avaliação geral é que a Igreja Católica tornou-se "teológica" demais, muito preocupada com a preservação dos dogmas, mas distante das questões do dia a dia que afetam a vida dos seus fiéis.

O clamor por uma abordagem cotidiana e temperada com uma flexibilidade maior parece legítimo, mas acertar a dose não é coisa simples, como mostram os exemplos de outras igrejas cristãs.

Nos Estados Unidos, as grandes denominações protestantes que dominaram a cena desde o Mayflower até pelo menos a década de 50 - luteranos, presbiterianos, episcopais e metodistas, entre outros grupos - deram uma guinada em direção ao liberalismo, com consequências desapontadoras sob muitos aspectos. Reconhecidas por um chapéu comum, o das "mainline protestants", essas igrejas partiram para uma ação social mais engajada e fizeram, internamente, mudanças que pareciam identificadas com o senso comum, incluindo a ordenação de mulheres. Mais recentemente, algumas passaram a aceitar casais gays não apenas entre os membros como em seu corpo de ministros. O resultado é que muitos fiéis deixaram seus bancos, trocando-os por igrejas evangélicas que fazem uma interpretação mais literal das Escrituras. É esse segmento religioso o que mais cresce nos EUA. A diferença é que muitas igrejas evangélicas americanas mantêm um perfil tradicional, bem diferente do ramo pentecostal de rápido crescimento no Brasil.

"O problema das 'mainline' é que, apesar de ter se preocupado com questões contemporâneas, elas esvaziaram o sentido espiritual. No domingo, as pessoas passaram a ouvir do púlpito que os milagres relatados na 'Bíblia' têm explicações naturais, eliminando o místico e o sobrenatural", diz Sousa. A decisão, mais propensa ao mundo acadêmico do que à busca dos fiéis pela transcendência, foi dos teólogos e não das pessoas comuns, o que ocasionou o desencontro, afirma o professor do Mackenzie.

No Brasil, quem vai participar da Jornada da Juventude, no Rio, faria bem se observasse com mais cuidado os lugares onde ficarão concentradas as maiores manifestações: Copacabana, na zona sul da cidade, e Guaratiba, na zona oeste, duas áreas que, segundo o professor Jacob, exemplificam as diferenças religiosas que ganharam corpo no país nos últimos tempos.

O pentecostalismo cresce principalmente na miséria e na segregação, afirma o pesquisador, com base em trabalhos iniciados há dez anos. Aparentemente, segundo a tese, todas favelas seriam um terreno propício à pregação pentecostal. Mas os trabalhos de Jacob e sua equipe - o mais recente deles intitulado "Religião e Território no Brasil" e lançado na forma de um e-book gratuito - mostram variações: enquanto as favelas da zona sul do Rio, como a Rocinha, permanecem católicas, as da parte pobre da zona oeste, incluindo as de Guaratiba, mostram grande número de pentecostais.

A diferença é que como a Rocinha fica próxima a Copacabana seus moradores podem se aproveitar, mesmo que parcialmente, da infraestrutura existente no bairro, um dos mais tradicionais da cidade. Já em Guaratiba, de ocupação mais recente, o acesso à rede de serviços públicos é muito menor. A sutileza, conclui o professor, é que só um dos elementos da combinação mortal pobreza-desagregação pode não ser suficiente para estimular uma debandada religiosa em direção a uma fé diferente. Isso ocorreria mais facilmente quando as duas condições estão juntas.

Isso adquire um caráter importante porque as gestões dos três últimos presidentes da República - Fernando Henrique, Lula e Dilma - contribuíram para a estabilidade econômica e o aumento da renda média dos brasileiros, o que elimina ou pelo menos reduz fortemente o impacto das condições econômicas no comportamento religioso da população. "Isso não quer dizer que o pentecostalismo vá deixar de crescer ou o catolicismo parar de cair, mas o crescimento das igrejas vai depender muito mais da organização e da ação pastoral de cada grupo religioso", diz Jacob.

As relações econômicas não são as únicas a interferir no perfil religioso do país. Há também um reflexo político. As igrejas reformadas históricas, criadas sob os princípios da Reforma Protestante do século XVI na Europa, sempre evitaram a tentação de misturar as clássicas esferas da igreja e do Estado, o que significa não dizer a seus membros em quem votar ou apoiar oficialmente um ou outro partido político. A natureza da relação entre a Igreja Católica e a política no Brasil é complexa, considerando que até o fim do império essa era a religião oficial do país. A maioria dos políticos é católica, um reflexo da composição religiosa da população, mas dificilmente eles agem como um bloco. O dado novo é que muitas igrejas pentecostais não têm o refinamento dos grupos tradicionais e partem para uma luta pelo poder, sem dogmas a defender, diz Sousa, do Mackenzie.

Complexo sob vários aspectos, esse cenário torna ainda mais relevante saber o que o papa vai dizer em sua peregrinação ao Brasil, já que se espera que esse seja o tom de seu pontificado. Recentemente, o discurso de Francisco na ilha de Lampedusa, no sul da Itália, perto da costa africana, causou furor por causa da veemência em condenar o que classificou de globalização da indiferença, em uma crítica ao fechamento da Europa a populações mais pobres.

Outras duas medidas deram indicações dos caminhos que o papa pode seguir: uma nova encíclica, que já vinha sendo desenhada por seu antecessor, e mudanças no código penal do Vaticano, que não propõem nenhum movimento radical, mas de alguma maneira mostram uma disposição da nova administração em ser mais rigorosa quanto a um dos problemas mais sensíveis da Igreja de Roma: a série de casos de pedofilia envolvendo religiosos.

Em novembro, diz o professor Altemeyer, da PUC-SP, é esperada uma grande reforma administrativa na Igreja Católica. Como bispo de Roma, caberá ao papa definir cargos importantes, como o de secretário de Estado do Vaticano, e anunciar um aguardado enxugamento da máquina. Mas a reformulação terá a gestão como alvo.

Questões mais nervosas, como o celibato e a ordenação de mulheres, podem até entrar em discussão no futuro, afirmam especialistas, mas a maioria deles não prevê nenhuma reforma radical nessas áreas. A previsão é que o papa poderá até imprimir uma tônica progressista às suas críticas à política econômica global ou às desigualdades sociais, como já provou em Lampedusa, mas será mais conservador no que tiver de fazer dentro de casa.

No Rio, afirma Altemeyer, não se deve esperar nenhuma crítica contundente aos pentecostais. "Eles também são cristãos. O problema, hoje, é o número de jovens que estão se tornando agnósticos", afirma.

Quando ao celibato, o que pode levar a uma discussão mais intensa não é questão sexual ou os direitos do padre de constituir família, diz Altemeyer. "O problema é que faltam padres no Brasil. Hoje são 22 mil sacerdotes em todo o país para cerca de 50 mil lugares de culto católico, incluindo igrejas, capelas, hospitais etc." A maioria dos sacerdotes está no Centro-Sul, o que deixa desassistidas áreas como o Nordeste e a Amazônia.

O celibato não é um dogma da Igreja Católica, o que significa que o processo formal para alterá-lo não é tão complexo, mas uma carga cultural de séculos não é fácil de abandonar e há uma série de questões decorrentes para organizar uma estrutura em que padres casados, acompanhados de família, passariam a assumir paróquias. Nessa, como em outras questões, caberá a Francisco equilibrar dois lados: as mudanças e a tradição.



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