sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Salmodiando nos tempos da discothèque


Ah... os anos 1970, que época incrível e polêmica. O mundo acabava de sair da revolução dos costumes dos anos 1960 e a sociedade ainda tentava encontrar o seu rumo.

As roupas esquisitas daquela geração, com calças de veludo bordô e boca de sino, sapatos de salto alto e cacharrel amarela (isso para homens), se tornariam anedotas nas décadas seguintes, mas só quem viveu os anos 70 tem ideia de como foram felizes mesmo assim.

Em meio à febre disco, que invadiu as telas e os salões com "Os Embalos de Sábado à Noite" de John Travolta, estava o Boney M., um grupo musical europeu que foi responsável por vários dos maiores sucessos daqueles conturbados e dançantes anos.

O Boney M. foi formado pelo produtor alemão Frank Farian, que reuniu cantores oriundos das possessões holandesas no Caribe e que moravam na Inglaterra, na Holanda e na Alemanha.

Pouca gente se lembra que um de seus maiores sucessos foi "Rivers of Babylon" (1978), que junta na sua letra os versículos 1 a 4 do Salmo 137 com o verso 14 do Salmo 19, conforme você pode ver no vídeo abaixo, com legendas em inglês e português:


Outra canção do Boney M. que fez muito sucesso foi "Ma Baker", uma espécie de "homenagem" à conhecida criminosa Kate Baker (1873-1935), que ficou famosa pelo apelido de "Ma Baker", e sua história foi exaustivamente explorada pela mídia norteamericana da época, a exemplo de outros criminosos como Bonnie & Clyde, que também se tornaram lendários.


Ma Baker: procurada!

Criada numa família cristã conservadora, Ma Baker se casou com George Baker em 1892, com quem teve quatro filhos: Herman, Lloyd, Arthur e Fred.

Após o nascimento deste último, George a abandonou e Ma Baker trabalhou duro para sustentar a família, mas seus filhos preferiram o caminho do crime.

Há muita controvérsia sobre a versão de que Ma Baker teria auxiliado o banditismo dos filhos, mas a lenda já havia sido criada em torno de seu nome.

Alguns pesquisadores sugerem que o próprio FBI criou essa lenda sobre Ma Baker para justificar a morte dela num confronto com a polícia em janeiro de 1935.

De qualquer maneira, vale a pena entrar no túnel do tempo e conferir o vídeo abaixo do Boney M. cantando uma versão glamorizada de "Ma Baker" (com tradução sofrível mas compreensível em português):


A incursão do Boney M. no terreno religioso não parou, entretanto, em "Rivers of Babylon". 

Um ano antes, eles foram mais fundo e emplacaram em 1977 o sucesso "Belfast", alusão à capital da Irlanda do Norte que enfrentava então o auge da guerra civil entre católicos e protestantes, o que os levou a apelar para a paz entre os simpatizantes do Reino Unido (protestantes) e da República da Irlanda (católicos).

Afinal, como acontece em muitas regiões do globo até hoje, a denominação religiosa era apenas uma fachada para encobrir os interesses políticos de cada lado.


As aventuras religiosas de Boney M. não pararam por aí, acreditem!

Confirmando o seu, digamos, ecletismo, chegaram a flertar com ritmos russos, isso na época em que o mundo vivia uma plena guerra fria entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), eles gravaram "Rasputin", uma suposta "homenagem" ao monge ortodoxo russo que, segundo a letra da canção, teria sido "amante da rainha (czarina)" Alexandra:




E aí, não conseguiu chegar ainda a um veredito sobre os anos 70 e Boney M?

Se ainda tiver fôlego, tente então com "Daddy Cool" e "Hooray! Hooray!"



Em 2010, o vocalista Bobby Farrell ainda fazia turnês um tanto quanto decadentes e constrangedoras tentando reviver o Boney M, como você percebe pelo medley abaixo, gravado num programa da TV France 2 naquele ano, mas ele viria a falecer dois dias antes que pudesse ver a chegada de 2011, aos 61 anos de idade.



Queira Deus que, semanas após a performance acima, ele tenha conseguido atravessar os rios da Babilônia em paz...



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