sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Voto religioso influiu pouco no 1º turno das eleições 2014

É a conclusão a que chega o jornal Valor Econômico, em matéria assinada por César Felício, publicada na edição de 08/10/14.

Interessante a análise que ele faz, de que boa parte dos deputados evangélicos eleitos por São Paulo conseguiram suas cadeiras na esteira do tsunami de votos do católico Celso Russomanno, candidato televisivo que chegou ao topo dos mais votados do Brasil por obra e graça de Edir Macedo.

Talvez os coronéis, caciques e pajés evangélicos não sejam tão poderosos como dizem ser ou queiram que você acredite que eles são:

Religião teve influência reduzida no voto

Nas eleições deste ano, marcadas por duas candidaturas presidenciais de evangélicos, o fator religioso pesou menos na hora do voto. Nos 60 municípios com maior contingente proporcional de evangélicos pentecostais no Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT) teve uma votação média acima de seu padrão nacional: 46,58%, cinco pontos percentuais a mais do que obteve nas urnas. A ex-senadora Marina Silva (PSB), integrante da Assembleia de Deus, ficou próxima ao que obteve no país: teve um percentual médio de 21,7%. Já o tucano Aécio Neves ficou com 29,8%, uma média abaixo do que obteve nacionalmente.

Nas eleições locais, embora essa disputa tenha colocado no segundo turno pelo governo do Rio de Janeiro o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), da Igreja Universal do Reino de Deus, os balanços preliminares mostram que a bancada evangélica da Câmara ficou muito aquém dos 100 parlamentares imaginados no início da campanha. As primeiras informações indicam que pode ter havido redução: o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) identificou por enquanto apenas 52 deputados federais evangélicos.

Portais de notícias evangélicas listam 63 nomes, ou sete a menos que a bancada atual. Predominam São Paulo, com 13 evangélicos, favorecidos pela votação alta obtida por Celso Russomanno, um católico abrigado no PRB; e Rio de Janeiro, com dez eleitos, entre eles o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, reeleito. Ainda figuram cinco eleitos pela Bahia, cinco em Minas Gerais e três no Rio Grande do Sul.

Segundo um especialista no tema, o cientista político César Romero Jacob, da PUC do Rio de Janeiro, o aumento da presença de programas sociais do governo federal e divisões entre evangélicos podem explicar porque Marina não teve uma votação de destaque neste segmento. "Entre a religião e o bolso, o bolso falou mais alto na hora do voto", comentou.

Nos dois municípios recordistas de pentecostais no Brasil, Guaraíta (GO) e São Pedro dos Crentes (MA), ambos com maioria absoluta de população evangélica, os indicadores sociais são ruins. Na cidade maranhense, 54,5% dos domicílios contam com Bolsa Família. Em Guaraíta, com prefeito do PSB, a proporção é de 30,7%. Da população da cidade goiana, 65,3% dos habitantes têm rendimento médio inferior a um salário mínimo e 36% da população tem ensino fundamental incompleto. Em São Pedro dos Crentes, onde a prefeita é do PSDB, 68% estão na faixa mais baixa de renda. Dilma ganhou em ambas as cidades.

A votação de Marina foi mais expressiva nas cidades mais pentecostais do Norte e Nordeste, onde a Assembleia de Deus predomina, e caiu em São Paulo e no Paraná. Em Doutor Ulysses (PR), por exemplo, na região metropolitana de Curitiba, sua votação não passou de 10%, a quarta parte do contingente populacional pentecostal. "Uma possível explicação é que nessas regiões predomina entre os pentecostais a Congregação Cristã do Brasil, que nada tem a ver com a Assembleia de Deus", disse Jacob.

O cientista político ressalvou a limitação que um estudo com base no censo de 2010 representa para analisar um cenário eleitoral. Além da defasagem de tempo e da possibilidade do eleitorado não reproduzir o retrato da população, o contingente de católicos e pessoas sem religião é grande nestas cidades. O levantamento incluiu cidades onde a população evangélica é de pelo menos 29%. Os pentecostais somam 13,3% da população.

A votação de Marina foi significativamente maior do que a de seu padrão nacional onde tinha aliados locais fortes, como nas pernambucanas Tamandaré, Barreiros, Sirinhaém, Ribeirão, Rio Formoso, Abreu e Lima e São José da Coroa Grande e a alagoana Maragogi. Foram estas as oito cidades da relação em que a candidata do PSB ficou em primeiro lugar. Aécio ganhou em 14 cidades e Dilma, nas 38 restantes.

Em termos estaduais, o voto de Marina também não se destacou nos Estados com maior incidência pentecostal. Em Rondônia, onde 33,8% da população se declarou pentecostal no censo de 2010, Aécio ganhou com 45% dos votos, Dilma teve 42% e Marina não passou de 11%. No Espírito Santo, segundo Estado mais pentecostal, com 33,1% da população adepta desta vertente do protestantismo, Marina conseguiu uma votação alta, cerca de 29%, mas contou com a ajuda do governador Renato Casagrande (PSB) e ainda assim ficou em terceiro lugar, atrás de Dilma (33%) e Aécio (35%). A candidata do PSB ganhou a eleição no terceiro Estado mais pentecostal, mas aí se trata do Acre, sua terra natal, onde 32,6% da população tem esta orientação religiosa.





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