quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Esperança para 2016


Já que "esperança" é uma das palavras-chave para o Ano Novo, que tal encerrarmos 2015 ouvindo a linda canção "Esperança" d'Os Arrais:




quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Fofoca no trabalho gera indenização por danos morais



MULHER DEVERÁ INDENIZAR COLEGA POR DISSEMINAR INFORMAÇÃO INVERÍDICA EM AMBIENTE DE TRABALHO

Juiz do 1º Juizado Especial Cível de Brasília julgou procedente o pedido de indenização feito por uma profissional de saúde que passou por abalo psicológico após uma colega divulgar no ambiente de trabalho que a autora estaria viciada em um medicamento.

A autora afirma que recentemente teve de fazer uso do remédio dolantina, após indicação médica, em razão de problemas de saúde. Acrescenta que a colega divulgou no ambiente de trabalho das partes que a autora estaria viciada no referido medicamento, o que lhe causou profundo abalo psicológico. Assim, a autora pediu a condenação da ré em obrigação de não fazer e no pagamento de indenização pelos danos extrapatrimoniais suportados.

A ré, devidamente citada e intimada, não compareceu à audiência, motivo pelo qual foi decretada sua revelia, e os fatos narrados foram considerados verdadeiros.

De acordo com o juiz, a presunção de veracidade decorrente da revelia está confirmada pela vasta documentação adicionada aos autos pela autora, que denotam o encaminhamento médico da requerente ao especialista clínico, para emissão de parecer, em razão do estado emocional decorrente dos fatos narrados na inicial.

Para o magistrado, a situação vivida pela autora não pode ser interpretada como mero desconforto ou aborrecimento incapaz de gerar abalo psíquico a repercutir intimamente na sua honra e dignidade e, consequentemente, caracterizar um dano moral. Para ele, a disseminação de informação inverídica sobre a autora, profissional de saúde, a quem foi atribuída a pecha de viciada em medicamento, no seu ambiente de trabalho, sem sobra de dúvida, gera ansiedade, aflição e desconforto. Não há dúvida de que o constrangimento causado à autora sai do campo do mero aborrecimento para invadir a esfera do desgaste psicológico e abalo emocional, capazes de efetivamente gerar dano de natureza moral.

Assim, levando em conta esses fatores, o juiz fixou a indenização no montante de R$ 1.000,00, quantia que considerou suficiente para cumprir a dupla função de compensar o prejuízo suportado pela vítima e penalizar o ato ilícito praticado pela ré, levando em conta a repercussão do dano e a dimensão do constrangimento. Ainda condenou a ré na obrigação de não tecer qualquer comentário a respeito da requerente, sob pena de multa.

Cabe recurso.

PJe: 0718968-95.2015.8.07.0016



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Eduardo Cunha vira marchinha de Carnaval

O deputado Eduardo Cunha, autointitulado "evangélico" e amigo do Malafaia, finalmente conseguiu a glória de ser levado ao altar do Rei Momo, segundo noticia o Estadão:

‘Deu na cara deu na vista, mas a pose eu não perco’,
Cunha ganha marchinha de carnaval

POR MATEUS COUTINHO

Denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, presidente da Câmara é 'homenageado' em composição que disputa concurso carnavalesco

Um dos principais políticos na mira da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também ganhou uma marchinha em sua homenagem para o carnaval de 2016.

Com o nome “Taxi Bandeiroso”, a composição faz referência ao automóvel encontrado pela Polícia Federal estacionado na residência do peemedebista no Rio durante a operação Catilinárias, desdobramento da Lava Jato no STF que realizou buscas nas casas de Cunha em Brasília e no Rio de Janeiro. O veículo pertence a um motorista apontado como um dos responsáveis por receber propina para o parlamentar no esquema de corrupção na Petrobrás.

“Qual o problema?/ Qual é o mau?/ Eu tenho um táxi no meu quintal/Não sou de dar bobeira/Mas dei bandeira e não foi bandeira 2″, diz a letra inscrita no concurso de marchinhas carnavalescas da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, pelo advogado e compositor Thiago Souza, que também fez músicas em homenagem ao agente da Polícia Federal Newton Ishii, conhecido como “japonês da federal” e até à presidente Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer .

“Tentei explicar só piorou/E o povo se ligou/ /Perco só a condução/ E pra contornar a situação faço as entregas de charrete ou de busão, pra não ter reclamação”, segue a música.

Suspeita. Em delação premiada, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB, disse ter entregue a Altair Alves Pinto, dono do táxi encontrado na residência de Cunha, dinheiro destinado a Cunha. O presidente da Câmara sempre negou participação no esquema de corrupção da Petrobrás e se diz vítima de perseguição do governo e da Procuradoria-Geral da República.

Em depoimentos à Lava Jato, Baiano disse que entregou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em espécie no escritório de Cunha no centro carioca, a um homem chamado Altair.

O táxi placa LSM 1530 encontrado na casa de Cunha é um Volkswagen Touareg modelo 2014, fabricado na Eslováquia. Um veículo zero quilômetro deste modelo é avaliado em torno de R$ 200 mil.

Altair Alves Pinto, de 67 anos, é desde 2003 funcionário do gabinete do deputado estadual Fábio Silva (PMDB), aliado de Cunha, onde trabalha como consultor especial para assuntos parlamentares. Antes, trabalhou também no gabinete de Cunha na Assembleia Legislativa, quando o atual presidente da Câmara era deputado estadual.

Além de funcionário da Assembleia, Alves Pinto é sócio de uma marmoraria em Muqui, cidade capixaba onde nasceu, a 175 km de Vitória. Sua mulher e filha são sócias em uma segunda marmoraria. Ele também é dono de uma fazenda. Muqui é um município com 15 mil habitantes. O prefeito da cidade, Aluisio Filgueiras (PSDB) foi colega de turma de Alves Pinto no ginásio do Colégio Estadual de Muqui. Segundo Filgueiras, Alves Pinto é “apolítico”. “Nunca trabalhou em campanha nenhuma, nunca custeou financeiramente nenhuma campanha”, afirma.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O presente que o filho autista de Marcos Mion pediu no Natal

A surpreendente lição de vida no belo depoimento que Marcos Mion publicou em sua página no facebook:

LIÇÕES QUE APRENDI 
COM MEU FILHO AUTISTA

Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.

Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.

Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.

Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.

O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.

(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)

Todos ja me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.

Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender pq aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.

Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?

Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.

Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.

Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os tres para fazer a carta do Papai Noel.

- “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano.

- “Calma que ja tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tenis da Nike, alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.

Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensacão, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!

Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.

“Uma escova de dentes azul”.

E agora chegamos no ponto crucial desse texto.

Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.

Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.

O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornado-se um lembrete vivo e constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.

Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.

Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de pelucia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel”.

Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.

Não preciso dizer que 5:00 am ja ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.

Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.

“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.

Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!

Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emocão!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.

Sim, ele chorou.

Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.

Tão pouco…um presente tão simples…e ai me deu o estalo. Mestre!

Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.

Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.



domingo, 27 de dezembro de 2015

Mosteiros são oásis de fé e silêncio em São Paulo


Artigo de Edison Veiga no seu blog no Estadão:

Fé faz centenas buscarem 
clausura em mosteiros de SP

Casas religiosas já receberam papas e duas foram residências de figuras que depois se tornaram santos: Madre Paulina e Frei Galvão

São oásis de tradição e tranquilidade dentro da barulhenta, caótica e estressante São Paulo. Dentro das várias casas religiosas que existem na capital paulista, no total, algumas poucas centenas de paulistanos vivem, em menor ou maior rigidez de clausura. As histórias delas são únicas – duas já receberam papas da Igreja Católica, João Paulo II e Bento XVI; duas foram residências de figuras que depois se tornaram santos da Igreja Católica: Madre Paulina e Frei Galvão.

Desde 1598, sempre um monge badala um sino às 5h05 da manhã no centro de São Paulo. É o começo da rotina do Mosteiro de São Bento, instituição encravada no coração da cidade. O repique tem a função de despertar os outros 41 religiosos que vivem no claustro. Em 25 minutos eles devem estar a postos no altar da ainda fechada Basílica de Nossa Senhora da Assunção, onde irão entoar o Ofício Divino, primeira das cinco orações do gênero celebradas diariamente.

O dia a dia dos beneditinos segue as orientações contidas nos 73 capítulos da Regra de São Bento, conjunto de normas cuja autoria é atribuída ao santo católico que viveu entre os anos 480 e 550.

Os monges de São Bento têm liberdade para entrar e sair da clausura, desde que com consciência. “Não há uma pré-definição de tempo. O mosteiro é um complexo. A clausura é um espaço físico dentro do mosteiro. O importante é o equilíbrio. Em via de regra o monge deve ter consciência deste transito e movimentação que há no mosteiro”, explica o monge João Baptista. “Temos um colégio e uma faculdade aqui. Há um teatro com eventos diversos. A Igreja é uma das mais visitadas de São Paulo. Nosso mosteiro é bem diferente dos demais, por conta de todos este contexto. Há, portanto, o desafio com o silêncio dentro desta cidade barulhenta. Estamos no centrão de São Paulo – a maior cidade do país – ao lado das ruas 25 de março e Santa Ifigênia. Há o metrô que passa em baixo e diversos helicópteros que sobrevoam nosso céu. Temos todo um diálogo com esta cidade e com o povo que circula e nos procura em busca de palavras espirituais.”

Dentro do mosteiro, as funções internas são distribuídas de acordo com a vocação. “Cargos e funções vão desde o administrativo, sacristia, formação interna dos monges e aulas na faculdade e colégio, padaria, cozinha, biblioteca…”, enumera Baptista. “Os cargos são distribuídos conforme aptidão de cada um. Se entra alguém com outra formação no mosteiro, como da área da saúde, geralmente trabalhará na enfermaria cuidando dos irmãos mais idosos e doentes ou ações do tipo. Se é um advogado trabalhará na área jurídica e assim por diante.”

Um dos pontos altos da história de mais de 400 anos dos beneditinos em São Paulo foi a visita do papa Bento XVI – coincidentemente, um papa chamado Bento, como o fundador da ordem – a São Paulo, em 2007. Ocasião esta em que foram eles os anfitriões do sumo pontífice. O quarto onde ele ficou hospedado se tornou um memorial, preservado exatamente como naqueles dias.

Vinte e sete anos antes, em 1980, quando o papa João Paulo II foi o primeiro líder máximo da Igreja Católica a visitar São Paulo, a honraria coube a outra abadia beneditina que existe em São Paulo: o Mosteiro São Geraldo, fundado em 1950 por monges beneditinos húngaros na região do Morumbi. Os aposentos que hospedaram João Paulo II também foram mantidos como um pequeno museu – uma relíquia que muito orgulha os 17 monges que vivem ali.

Além de papas, instituições religiosas do tipo também se tornaram conhecidas por serem residências de personalidades católicas que depois se tornaram santas reconhecidas pelo Vaticano. É o caso da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, onde viveu a religiosa Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), mais conhecida como Madre Paulina, canonizada em 2002. Fundadora da congregação, o quarto onde ela morreu é preservado como um memorial. Atualmente, a casa abriga 12 religiosas.

“Em nossa organização interna, temos os momentos comuns para orações, celebrações, refeições, estudos, lazer, atividades diversas, onde todas são evolvidas. No que se refere a missão específica, cada Irmã tem uma área de atuação: coordenação da Congregação, animação missionária, evangelização, administração, serviços domésticos, acompanhamento as unidades educativas, centros de hospitalidade, centros de terapias naturais, santuário, serviço de assistência social e as comunidades da Congregação.”, explica Rosacy Soares Costa, vice-coordenadora geral da instituição.

Ali não há uma clausura. “Temos sim nossa privacidade, mas vivemos em uma casa normal”, conta a religiosa. “Nosso contato com o mundo se dar de várias formas, nos diversos espaços onde realizamos nossa missão tanto interna quanto externa. Também participamos de eventos sociais, como teatro, cinema, celebração de aniversário e outros. Administramos o tempo, tendo em vista os momentos comuns e as atividades individuais por meio do planejamento mensal e cronograma para facilitar a vivência comunitária e a realização da missão.”

Já no Mosteiro da Luz, no bairro da Luz, casa fundada e construída por Antônio de Sant’Ana Galvão (1739-1822), o Frei Galvão, franciscano de Guaratinguetá que se tornou santo em 2007, o silêncio e o isolamento são regra. As 14 religiosas que vivem ali só saem por três razões: saúde – consultas médicas e exames -, compras e um período de férias – geralmente 10 dias a cada dois anos. Mesmo assim, tudo somente sob autorização da abadessa e, geralmente, em duplas. “Também acabam sendo liberadas para participar de festas muito especiais da Igreja, como a procissão de Corpus Christi”, exemplifica o capelão do Mosteiro, padre José Arnaldo Juliano dos Santos.

E são pouquíssimas as pessoas, além das religiosas, que podem, eventualmente, entrar na clausura. “Autoridades religiosas, como o arcebispo, além do capelão e de um padre nomeado para auxiliá-las nas questões administrativas”, enumera padre Santos. “Outras pessoas, um médico por exemplo, apenas com autorização da abadessa.”

Mesmo o padre confessor das religiosas não entra ali. Elas são atendidas em uma sala chamada parlatório, onde ficam separadas do interlocutor por grades.

Natal. As monjas da Luz reforçam o momento de silêncio nos dias que antecedem as festas mais importantes da Igreja Católica, a Páscoa e o Natal. Elas costumam fazer um retiro por duas ou três semanas, com jejum e muita oração, como preparação para tais datas. “Elas têm uma espiritualidade própria, fruto da ordem monástica”, diz o capelão. A ordem, no caso, é a Imaculada Conceição – por isso elas são chamadas de monjas concepcionistas -, fundada na Europa pela Santa Beatriz da Silva (1424-1492).

No São Bento, o Natal é marcado pelas antífonas especiais, entre os dias 17 e 23. “São antífonas do Hino Evangélico do Magnificat, que sempre inicia com a exclamação ‘O’, louvando a realeza de Deus que irá nascer como homem”, afirma o monge João Baptista. “No dia 24, acontece a bênção de nosso presépio que fica exposto aos fiéis até o dia 6. A missa da noite é belíssima e muito concorrida, assim como a do Dia de Natal, às 10h.”

“Internamente temos nossa ceia só com os monges”, relata ele. “No dia 26 fazemos sempre uma confraternização. Ocasião em que todos podemos nos reunir.”

Por São Paulo, já passaram cinco santos

Ainda não há nenhum paulistano que tenha se tornado santo para a Igreja Católica. Mas alguns canonizados viveram ou pelo menos passaram pela cidade. É o caso do padre José de Anchieta (1534-1597), jesuíta espanhol que foi reconhecido como santo pelo Vaticano em 2014. Com outros religiosos, Anchieta subiu ao então Planalto de Piratininga em 1554 e, onde hoje é o Pátio do Colégio, fundou a vila que daria origem a São Paulo.

Outro muito ligado à capital foi Antônio de Sant’Ana Galvão (1739-1822), o Frei Galvão, franciscano de Guaratinguetá que se tornou o primeiro santo nascido no Brasil. Em São Paulo, onde passou boa parte da vida, ele construiu o Mosteiro da Luz – em cuja igreja, aliás, está sepultado.

Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), mais conhecida como Madre Paulina, nasceu na Itália mas veio para o Brasil com 10 anos. Em 1903, mudou-se para São Paulo, onde ficaria até o fim da vida, no bairro do Ipiranga, cuidando de crianças órfãs e ex-escravos abandonados.

A capital paulista também recebeu a visita dos santos Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), padre espanhol fundador do Opus Dei, em 1974; e do papa João Paulo II (1920-2005), em 1980.

São Paulo já recebeu dois papas

João Paulo II visitou a cidade em 1980, na primeira das três viagens que fez ao Brasil. E Bento XVI veio para São Paulo em 2007. Papa Francisco limitou sua primeira viagem ao País, em 2013, ao Rio de Janeiro e Aparecida.



sábado, 26 de dezembro de 2015

Onde é proibido comemorar o Natal?

Matéria publicada na BBC Brasil:

Quais são os países que proíbem o Natal?

O Natal é uma das celebrações mais difundidas no mundo, mas não é vista com bons olhos em todos os lugares.

Em alguns países, as celebrações natalinas são reguladas ou totalmente proibidas.

Em outros lugares a compra e venda de certos produtos e até as reuniões familiares são limitadas.

O país que mais recentemente entrou na lista dos que proíbem a festividade é o Tajiquistão, na Ásia central. Nesta semana autoridades do país anunciaram que endurecerão as restrições para a celebração do Natal.

O Tajiquistão é uma república faz fronteira com o Afeganistão ao sul, com a China ao leste, com o Quirguistão ao norte e com o Uzbequistão a oeste. O governo proibiu as seguintes tradições natalinas:

  • Árvores de Natal (naturais ou artificiais)
  • Fogos de artifício
  • Comidas natalinas
  • Troca de presentes
  • Arrecadação de dinheiro
  • Fantasia de Papai Noel


A religião muçulmana é maioria no país e cresce desde que o Tajiquistão se separou da União Soviética em 1991.

Outros países

Em Brunei, no sudeste asiático, proibiu-se o uso em público de gorros de Papai Noel ou qualquer outro tipo de indumentária relacionada. As pessoas não muçulmanas são autorizadas a celebrar o Natal, desde que não em público.

O Islã é a religião oficial do país e o sultão é o chefe religioso neste reino, que faz fronteira com a Malásia.

Como ocorre anualmente, a Arábia Saudita emitiu uma regulamentação anual que proíbe "sinais visíveis" da celebração do Natal.

Tanto muçulmanos como visitantes não podem participar da celebração. O governo determina que todos devem se orientar pelo calendário lunar e não pelo gregoriano.

Na Arábia Saudita também é proibida a celebração do Dia das Bruxas.

Em 2012, 41 cristãos foram detidos pela polícia religiosa árabe acusados de "conspirar para celebrar o Natal".

Enquanto isso, na China, onde convivem a abertura ao capitalismo de mercado e a proteção das tradições, há zonas onde as festividades natalinas seguem vetadas.

Uma das cidades onde a celebração é proibida é Wenzhou (na China oriental), cuja prefeitura vetou todas as celebrações natalinas nas escolas e nos centros comunitários.

Natal entre refugiados

O Natal é celebrado com moderação no Iraque e na Síria, locais onde aumentaram os ataques a centros de culto cristãos desde que a guerra civil se agravou. Um grupo de voluntários chegou a ir ao Iraque para celebrar com os cristãos que vivem em campos de refugiados.



sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Cesária Évora canta "Hoje é Natal"


A grande dama da música de Cabo Verde, Cesária Évora (1941-2011), cantou "Hoje é Natal" num concerto especial realizado pela televisão italiana na ilha de Malta em 2010, pouco antes dela falecer.

Felizmente, a apresentação ficou registrada no vídeo abaixo, que hoje compartilhamos com os nossos leitores, porque a música de Cesária é um presente para todos os dias, inclusive no Natal. Desfrute-a!

A canção é bem simples, no dialeto cabo-verdiano, que Cesária nem sempre respeitava ao pé da letra, dada a variedade de suas plateias mundo afora:


Hoje é Natal irmão
Noite di paz e ligria
Dia di nascimento di nosso irmão
Dia di festa e harmonia

Cristo Jesus
Fidje di Deus e Virgem Maria
Ki trazem luz amor e sabedoria
Oh aleluia, aleluia fidje di David
Alegria, boas festas pa tud familia




quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Natal na visão das outras religiões


A matéria foi publicada no portal EBC em 19/12/12:

Quem não comemora o Natal?

Guilherme Strozi

Nem todas as pessoas comemoram o Natal no dia 25 de dezembro. Algumas culturas, nem sequer comemoram o Natal, como referência ao nascimento de Jesus Cristo (ou Jesus de Nazaré).

Natal é um feriado e festival religioso cristão originalmente destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno e adaptado pela Igreja Católica, no terceiro século d.C., pelo imperador Constantino para comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.

Porém, nem todas as culturas absorveram a tradição de celebrar o dia 25 de dezembro, seja como uma homenagem ao nascimento de Jesus, ou, pela adoração da passagem do sol ao redor da Terra.

O Portal EBC separou algumas culturas que não comemoram o Natal como uma data primordial em seu calendário:

Islamismo

Ao contrário das religiões cristãs - para as quais Jesus é o Messias, o enviado de Deus - o islamismo dá maior relevância aos ensinamentos de Mohamad, profeta posterior a Jesus (que teria vivido entre os anos 570 e 632 d.C.), pois este teria vindo ao mundo completar a mensagem de Jesus e dos demais profetas.

Em relação à celebração do Natal, os muçulmanos mantêm uma relação de respeito, apesar de a data não ser considerada sagrado para o seu credo.

Para os muçulmanos, existem apenas duas festas religiosas: o Eid El Fitr, que é a comemoração após o término do mês de jejum (Ramadan) e o Eid Al Adha, onde comemoram a obediência do Profeta Abraão a Deus.

Judaísmo

Os judeus não comemorem o Natal e o Ano Novo na mesma época que a grande maioria dos povos, mas para eles, o mês de dezembro também é de festa. Apesar de acreditarem que Jesus existiu, os judeus não mantêm uma relação de divindade com ele.

Na noite do mesmo dia 24 de dezembro os judeus comemoram o Hanukah, que do hebraico significa festa das luzes. Esta data marca a vitória do povo judeus sobre os gregos conquistada, há dois mil anos, em uma batalha pela liberdade de poder seguir sua religião.

Apesar de não ser tão famosa no Brasil, a festa de Hanukah, que, tradicionalmente, dura 8 dias, em outros países é tão "pop" como o Natal. Em Nova Iorque, por exemplo, as lojas que vendem enfeites de Natal também vendem o menorah (candelabro de 8 velas considerado o símbolo da festividade judaica). "Para cada um dos 8 dias acendemos uma vela até que o candelabro todo esteja aceso no último dia de festa", explica o rabino.

O peru e bacalhau típicos do Natal católico são substituídos por panquecas de batata e bolinhos fritos em azeite. E em vez de desembrulharem presentes à meia-noite, as crianças recebem habitualmente dinheiro.

Budismo

Não há envolvimento do budista com a característica particular da comemoração do Natal do mundo ocidental, ou seja, da comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Mas, os budistas admiraram as qualidades daqueles que lutam pela humanidade e, por isso, respeitam a tradição já estabelecida, respeitando a figura de Jesus Cristo, que para eles é considerado um “Bodhisattva” – um santo ou aquele que ama a humanidade a ponto de se sacrificar por ela. Para os budistas ocidentais, o dia 25 de Dezembro tem um cunho não cristão, mas sim, espiritual.

Protestantismo

Embora seja uma religião cristã, é subdividida em diversas “visões” da Bíblia. Algumas comemoram o Natal como os católicos, outros buscam na Bíblia e no histórico religioso, cuja data de nascimento de Cristo é discutida, um fundamento para não comemorar a data tal como é comemorada no catolicismo. É o caso das testemunhas de Jeová, por exemplo. Já a Assembleia de Deus e a Presbiteriana comemoram o Natal com o simbolismo da presença de Cristo entre os homens, onde a finalidade é levar a uma instância reflexiva a respeito de Cristo. Festejar condignamente o Natal é uma bênção e inspiração para todos quantos nasceram do Espírito ao tornarem-se filhos de Deus pela fé em Cristo, para os evangélicos.

Afro-Brasileiras (Candomblé e Umbanda)

Yemanjá, Yansã e Oxum são entidades comemoradas ao longo do ano nas religiões afro-brasileiras, que têm no mês de dezembro um simbolismo todo especial. Mas para os umbandistas a comemoração do natal cristão é algo mais natural, porque a maioria dos seus seguidores e médiuns praticantes veio da religião cristã. A umbanda encontrou um lugar para Cristo no rol de suas divindades – ele é associado a Oxalá, considerado o maior Orixá de todos. No dia 25 de dezembro, os umbandistas agradecem à entidade que, segundo a sua crença, comanda todas as forças da natureza.

Alguns terreiros de Candomblé também oferecem algum ritual especial à data, mas a prática não configura uma passagem obrigatória em todos os centros.

Hinduísmo

As mais importantes celebrações do hinduísmo são ocorridas na Índia, por meio da Durga Puja, o Dasara, o Ganesh Puja, o Rama Navami, o Krishna Janmashtami, o Diwali, o Holi e o Baishakhi. O Durga Puja é a festa da energia divina. Já o festival de Ganesh é celebrado nos estados do sul da Índia, com danças alegres e cantos. O Diwali é o “festival das luzes” em que em cada casa, em cada templo são colocadas milhares e milhares de luzes, acesas toda a noite. O significado destas festas é adorar a Energia Divina.

Taoísmo

O taoísmo, religião majoritariamente vista na China, não tem qualquer celebração no Natal. No entanto, a religião tem inúmeras datas onde se comemora o nascimento de grandes mestres ou sua ascensão. O Ano Novo Chinês, assim como no budismo, é a data mais comemorada para os taoístas. Nesse dia se celebra o Senhor do Princípio Inicial.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Muçulmanos moderados procuram o seu papa João XXIII


A matéria é do IHU:

Se o Islã está em busca do "seu" Angelo Roncalli

“Estou buscando um Angelo Roncalli muçulmano”: precisamos uma autoridade, um líder islâmico, capaz de colocar o Islã no caminho da renovação e aggiornamento, semelhante aquele seguido por João XXIII com o Concílio Vaticano II. Só assim as minorias extremistas e radicais poderão ser vencidas definitivamente.

A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por La Stampa-Vatican Insider, 10-12-2015. A tradução é de Ramiro Mincato.

Esta é a surpreendente afirmação de Mohammad Sammak, Secretário Geral da “Islamic Spiritual Summit” (do qual fazem parte sunitas, xiitas e alauitas) do Lebanon’s National Committee for Christian-Muslin dialogue”, também membro de outros organismos internacionais dedicados ao diálogo inter-religioso. Mas não só, o muçulmano Sammak participou de dois Sínodos dos Bispos no Vaticano: aquele de 1995, sobre o Líbano, convocado por João Paulo II, e, mais recentemente, do Sínodo sobre o Oriente Médio, conclamado pelo Papa Bento XVI, em 2010. Neste último participou como conselheiro político do grão-mufti do Líbano. Sammak é um personagem, há tempo empenhado no fronte do diálogo entre cristianismo e Islã, conhecedor da problemática ligada à transformação e à crise do mundo islâmico. Em Roma, deu importante contribuição à iniciativa ocorrida dia 07 de dezembro com o título “Cristãos e muçulmanos pelo Jubileu”, promovida pela “Associação Jornalistas Amigos do Padre dall’Oglio” e pela FNSI, Federação Nacional de Imprensa. Com ele se confrontou o intelectual e cientista cristão libanês Antoine Courban. Participaram também padre Antonio Spadaro, da Civiltà Cattolica, o professor Paolo Branca e diversos outros oradores, tanto cristãos como muçulmanos.

O discurso de Sammak, com título significativo - “O que os muçulmanos podem aprender da Declaração Nostra Aetate” -, seguiu duas linhas de pensamento: por um lado, traçou o perfil de Roncalli e de seu percurso de vida do ponto de vista muçulmano, e por outro, o ataque terrorista foi definido em termos de confronto interno no Islã, do qual o Islã deverá assumir a responsabilidade. O futuro “papa buono”, na descrição feita por Sammak, é o homem que como capelão militar descobriu a tragédia da Primeira Guerra Mundial, depois a carreira diplomática que o levou a Grécia, Bulgária, em seguida Istambul. Nestes países descobriu o cristianismo Ortodoxo e o mundo muçulmano, e então, no segundo pós-guerra, tornou-se Núncio na França, país onde o comunismo e o secularismo avançavam enormemente. Este é o retrato de um homem capaz de confrontar-se com culturas, fé e ideologias distantes, que aprende a conhecer outros mundos.

Abrir as portas

Da convocação do Concílio, depois, como Papa João XXIII, o expoente muçulmano lembrou, em primeiro lugar, a Declaração sobre o Diálogo Inter-Religioso Nostra Aetate, que reconciliou a Igreja Católica com os Ortodoxos e com os Evangélicos: “nisto os muçulmanos podem aprender a construir pontes com outras confissões muçulmanas”. Nostra Aetate, além do mais, refletiu-se na vida da Igreja, “abriu as portas ao laicato” e, agora, o papa Francisco está abrindo novas portas”. Ainda, recordou Sammak, a Declaração cancelou a condenação de “todos os hebreus até o fim dos tempos pela crucifixão de Jesus Cristo”, e, em tal modo, o documento tornou-se a “carta magna das relações hebraico-cristãs”. O texto Conciliar afirmou, além disso, “que os muçulmanos são crentes em Deus e respeitam Jesus e a Virgem Maria: por mais que não creiam que ele seja Deus, creem que ele é um profeta”. Depois do Vaticano II e sobre estas bases, continuou, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI dirigiram-se aos muçulmanos como irmãos. Do mesmo modo o papa Francisco. Não são poucas as lições para os muçulmanos do século XXI”.

Os muçulmanos sigam o exemplo do Concílio

Em seguida Sammak observou: “Ora, para nós muçulmanos, seguirmos o exemplo do Vaticano II, como indicado na Declaração Nostra Aetate, exige um líder religioso como o Papa João XXIII, que acredite na humanidade” entendida como única família humana, um líder “que respeite e creia em todas as religiões. Afinal de contas, ser muçulmano quer dizer crer em todas as mensagens de Deus, crer em todos os seus mensageiros, aqueles citados no Santo Corão e aqueles que não são”. Porque “crer no Islã é também crer na pluralidade humana, e nas diferenças humanas como manifestações da glória de Deus”. “Eu não sei, acrescentou, “quem teria a autoridade moral e religiosa de João XXIII para reunir 2450 eruditos e imanes de todo o mundo islâmico, convencê-los a permanecer reunidos e discutir até que consigam uma interpretação unitária dos princípios islâmicos do XXI século, confrontando-se com os desafios humanos contemporâneos”. “Todavia, explicou o estudioso, existem vários documentos produzidos nestes anos, de várias instituições muçulmanas que encaram bem o tema da relação do Islã com a modernidade. O ponto é, explicou, fazer de modo que se produza uma massa crítica suficiente para começar a mudança.

Quanto ao extremismo islâmico, de acordo com Sammak, "deveria e pode ser derrotado de dentro, simplesmente porque é contra o Islã, e porque os extremistas são uma pequena minoria, uma minoria muito pequena no mundo islâmico de um bilhão seiscentos milhões de fiéis". "Isso - observou - não significa excluir a cooperação internacional. Pelo contrário. Esta cooperação não só é necessária, é um dever, para erradicar as gangues de extremistas que cometem crimes contra a humanidade em nome do Islã".

Guerras santas são guerras identitárias

De acordo com Antoine Courban, da Universidade de Saint John de Beirute, fundada pelos jesuítas, que dialogou com Sammak, "o mundo atual está dividido verticalmente em dois campos: de um lado os radicais niilistas e violentos, doutro, os moderados anônimos, que são maioria, cuja voz é abafada pelos gritos de ódio". "Esta divisão - disse - é particularmente evidente entre as duas margens do Mediterrâneo, porque o nosso mar é o espaço de contato (encontro) privilegiado entre as culturas das religiões monoteístas". Neste contexto, observou o professor, "as guerras santas modernas são guerras mais entre redes identitárias do que entre poderes políticos tradicionais. O drama sírio e de todo o Levante é a fotografia mais trágica disso”. Em tal sentido, "guerras santas (sagradas) são o resultado do vazio criado pela remoção da autonomia do político e da soberania garantida pelo Estado".

A atual crise contemporânea explicou Courban, coloca em confronto dois conceitos: identidade e cidadania. Então, disse ele: "Nós estamos assistindo a uma islamização do radicalismo e não a uma radicalização do Islã. Cabe aos próprios muçulmanos encontrar uma solução para este problema urgente".

O sonho do Papa no Oriente

Quanto ao terrorismo, "não se deve fazer distinção entre terrorismo ‘laico’ ", como o praticado por ditaduras quais o regime sírio, um terrorismo "islamista", como o praticado pelo Daesh, um terror ‘islamófobo’, que pretende defender os cristãos do Ocidente e do Oriente, ou até mesmo um terror nacionalista praticado pelos colonos israelenses". "A resposta a este tipo de terror globalizado - acrescentou Courban - deve ser obtido por uma ação conjunta conduzida pelos moderados de ambos os lados do Mediterrâneo. Os moderados como nós, são a maioria, mas não coordenam sua ação, enquanto os radicais violentos estão organizados".

O professor então expressou uma esperança, quase um sonho: "Espero que nós possamos ver o papa de Roma - disse ele - com outros primazes das Igrejas Cristãs e os grandes rabinos do judaísmo, na companhia do guardião dos lugares santos do Islã, os reitores das grandes escolas islâmicas, os Aiatolás de Qom e os clérigos de Najaf, reunidos em nossa terra do Oriente, que viu nascer nossas civilizações e religiões".



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

TJSP pede que MP investigue "esterilização generalizada" de pastores da Universal


No dia 16 de dezembro de 2015, o Tribunal de Justiça de São Paulo (2ª instância) julgou os recursos interpostos pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e seus três adversários na causa, que são um ex-pastor, sua esposa e o filho do casal, que era menor de idade à época dos fatos narrados a seguir.

Consta do acórdão do TJSP que a origem do processo (1ª instância) se deu na Comarca de Campinas (SP), o que leva a crer que o pastor em questão exercia seu ministério em uma das igrejas Universal da região.

No dia 8 de dezembro de 2005, ainda segundo o acórdão, o bispo Romualdo da IURD fez uma reunião com o ex-pastor, acusando-o de haver desviado dinheiro da instituição religiosa e, logo após, ele, a esposa e o filho foram agredidos verbalmente e imediatamente expulsos do imóvel que a IURD locava para residência da família pastoral.

O ex-pastor ainda entrou com reclamação trabalhista contra a IURD, requerendo o reconhecimento de vínculo empregatício, mas o TJSP entendeu que a ação civil podia ter sido proposta concomitantemente, como de fato foi, por tratar de responsabilidade civil em virtude de danos morais e materiais sofridos pela família pastoral.

O Desembargador Erickson Gavazza Marques, Relator da Apelação nº 0076052-11.2008.8.26.0114, que decidiu o caso no TJSP, reportou-se à Sentença do Juiz de 1ª instância, que destaca:
"relevante enfatizar que, durante todos os episódios ocorridos nestes autos nunca se cogitou do elementar cuidado de se recorrer à Autoridade Judicial para apuração de eventual responsabilidade no âmbito criminal. Tudo ocorreu ao arrepio das mais elementares cautelas, para não mencionar em flagrante violação a preceito de inafastabilidade de jurisdição e de garantia do contraditório e da ampla defesa. Tais fatos, isoladamente ou em conjunto, dão pleno ensejo ao dever de indenizar no âmbito dos danos morais.”
Em seguida, o referido Desembargador toca num ponto bastante discutido sobre a alegada imposição de esterilização pela IURD aos seus pastores:
Ademais, entendo que a absurda imposição de realização de vasectomia, como condição da ré para que o autor Jeziel pudesse exercer o ministério religioso, também enseja reparação, uma vez que tal exigência constitui verdadeira violação a direito fundamental, consubstanciado no fato de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (artigo 5º, inciso II, Constituição Federal).
Na Sentença de 1ª instância, o Juiz de Campinas (SP) havia arbitrado o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) a título de indenização por danos morais para cada uma das partes contrárias à IURD na ação, mas na 2ª instância, o Desembargador Gavazza Marques entendeu que este montante era excessivo, reduzindo-o para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um.

Em tese, ainda cabe recurso da decisão do TJSP, mas chama a atenção o dispositivo final do Acórdão, em que o Relator decretou:
Por fim, determino a remessa de cópia integral destes autos ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça, Doutor Márcio Fernando Elias Rosa, para apuração de eventual prática de crimes supostamente perpetrados pela requerida, não só em relação ao autor, mas também no tocante à notícia constante nos autos, de possível prática de esterilização generalizada.
Certamente, é essa possível investigação, pelo Ministério Público, da "possível prática de esterilização generalizada", que vai incomodar mais a IURD do que a indenização arbitrada.

Quem viver, verá...

Os dados do processo são públicos e a íntegra do Acórdão está disponível em .pdf no sítio do TJSP.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Bancada evangélica teme se perder no inferno político de Eduardo Cunha


A matéria é do HuffPost Brasil:

Com Cunha em risco, Bancada Bíblia Boi e Bala teme perder espaço na Câmara

O iminente afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixou os aliados das bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala em alerta.

Foi na gestão Cunha que essas frentes mais cresceram, e a possível ausência dele tem feito que os parlamentares se movimentem para aprovar as pautas pendentes.

Oficialmente, os deputados preferem não falar em preocupação, mas assumem que já se articulam para emplacar um presidente aliados com as causas dos grupos no comando da Casa.

Presidente da comissão que aprovou o estatuto que define família apenas como a união entre homem e mulher, o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), avalia que a eventual saída de Cunha será contornada.

“Mesmo que ele saia, quem vai assumir não será um governista. Isto eu posso te garantir”, disse ao HuffPost Brasil.

O deputado Laudívio Carvalho (PMDB-MG), relator do Estatuto do Desarmamento, diz que a saída de Eduardo Cunha não preocupa. O parlamentar, porém, admite pressa.

“Está tudo pronto para ser votado. Tenho a esperança de que o projeto vá ao plenário ainda no primeiro semestre de 2016. Não tem motivo para não ir, estamos trabalhando nisso”, afirma.

A bancada ruralista também atua em conjunto com a da bala e a evangélica para colocar em votação suas pautas pendentes.

É ao atual presidente da Casa que a Frente do Agronegócio agradece a comissão da PEC 215, que transfere ao Legislativo da função de demarcar terras indígenas, a retirada do rótulo de alimento transgênico e a aprovação da terceirização para todas as atividades.

Aos colegas, o presidente da frente, Marcos Montes (PSD-MG) tem afirmado que “nenhum outro presidente teve coragem de colocar projetos que precisavam ser discutidos em votação como fez Eduardo Cunha.”

Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), as bancadas se movimentam com medo de perder espaço e de serem atingidas pelo "fora Cunha".

Ela fez uma análise desse novo cenário ao HuffPost Brasil:
“O primeiro projeto polêmico deles já foi até esquecido. Na Câmara, ninguém mais fala do 5069, que dificulta o atendimento às vítimas de estupro. Eles viram que as mulheres foram às ruas contra o Cunha e esse projeto. Eles viram que, com a queda do Cunha, eles já começaram a perder espaço. Isto os preocupa. Tenho certeza de que vamos conseguir enterrar muitas pautas que afrontam os direitos humanos.”
Saiba o que está em jogo:

1) Estatuto da Família

Projeto que restringe a família a união entre homens e mulheres está pronto para ser votado em plenário. A proposta dos autores do texto era de que ele tivesse sido aprovado em outubro, na semana da família.

2) Estatuto do Desarmamento

O projeto que revoga o Estatuto do Desarmamento, facilitando o acesso às armas, foi aprovado em outubro e aguarda apreciação em plenário para seguir para o Senado Federal.

3) PEC 215

No fim de outubro, a comissão especial aprovou a PEC 215, que transfere para o Legislativo a responsabilidade de demarcar terras indígenas e quilombolas. O texto enfrenta resistência na Casa e deverá ser decidido no voto em plenário.

4) PL 5069/2013

Pronto para seguir para o plenário, o PL 5069 sumiu do discurso dos parlamentares. Ele dificulta o atendimento às vítimas de estupro, exige que a mulher comprove que foi vítima com o retorno da obrigatoriedade do exame de corpo de delito.



domingo, 20 de dezembro de 2015

Guerra nas Estrelas e a viagem dos jedis entre filosofia e religião


Matéria publicada no BBC Brasil:

Jedaísmo: A 'filosofia' que mobiliza os fãs de 'Star Wars'

André Bernardo

O gaúcho Kelvin Oliveira da Silva tinha apenas seis anos quando o pai o levou para assistir a O Ataque dos Clones (2002), o quinto episódio da franquia Star Wars. Até hoje, ele não se esquece da cena em que Yoda trava um combate de sabre de luz contra Conde Dooku.

Hoje, aos 20, Kelvin procura seguir os preceitos filosóficos ensinados pelo Mestre Jedi. Um de seus favoritos é "O medo é o caminho para o lado negro", proferido em A Vingança dos Sith (2005).

"A vida é um constante teste que exige o enfrentamento de nossos medos. Na medida do possível, procuro sempre enfrentar os meus", admite Kelvin, que garantiu com dois meses de antecedência seu ingresso para assistir a O Despertar da Força, que estreia nesta quinta-feira.

Estudante do 2º ano de História da PUC do Rio Grande do Sul, Kelvin Oliveira da Silva se considera um jedaísta. O termo ganhou força em 2001, pouco antes da estreia de O Ataque dos Clones, quando um censo realizado no Reino Unido revelou a existência de 390 mil adeptos do Jedaísmo (ou Jediísmo).

Em linhas gerais, os jedaístas (ou jediístas) dizem acreditam na Força como uma espécie de divindade. Ou, como diria Obi-Wan Kenobi em Uma Nova Esperança (1977), "um campo de energia criado por todos os seres vivos, que nos envolve e conecta, e mantém a Galáxia unida".

"Star Wars faz sucesso porque mescla elementos das mais diferentes mitologias e religiões. Temos desde o mito grego de Édipo ao conceito taoísta do Yin-Yang", afirma Kelvin.

Galáxia melhor

O fascínio pela saga criada pelo cineasta americano George Lucas é tão grande que, em alguns países, ganhou status de movimento religioso.

Segundo estimativas não oficiais, o número de adeptos do Jedaísmo chega a 9 mil no Canadá, 15 mil na República Tcheca e 65 mil na Austrália. No Reino Unido, o número de Jedi caiu para 176 mil em 2011, mas, ao longo de 2015, segundo dados da Igreja Jedi (Jedi Church, no original), subiu para 250 mil.

"Star Wars oferece a cada espectador o que ele quer ver. Para uns, é entretenimento da melhor qualidade. A história é cativante e os personagens, inesquecíveis. Para outros, é um amálgama de correntes filosóficas e doutrinas religiosas. Tanto cristãos quanto budistas podem se identificar com os princípios Jedi", opina Hermes Barreto Neto, 44 anos, de Brasília.

O maquiador e figurinista conhecido como Hermes 3º explica que, mais do que uma franquia cinematográfica, Guerra nas Estrelas virou uma filosofia de vida pautada por valores como manter a ordem e fazer o bem ao próximo.

"Gosto muito quando Mestre Yoda vira-se para Luke Skywalker e diz: 'Faça. Ou não faça. Tentativa não há'. Às vezes, pensamos muito e agimos pouco", afirma.

Doutrina Jedi

No Brasil, mais do que caráter religioso, o Jedaísmo adquiriu viés filosófico. É o que explica o carioca Rodrigo Alves Coelho, 31 anos.

Em 2002, ele ajudou a fundar o Pilar, grupo de estudos que se reunia todas as semanas no Bosque da Barra, Zona Oeste do Rio. Paralelamente ao grupo, criou um blog, o Filosofia Jedi, no qual debatia os mais variados assuntos à luz da doutrina dos guardiões do lado luminoso da Força.

"Ao longo de dois anos, estudei tudo o que dizia respeito a Star Wars: de ordens monásticas da Europa medieval, que teriam inspirado Lucas a criar a Ordem Jedi, à milenar técnica de combate Kenjutsu, que teria dado origem às lutas com sabre de luz", exemplifica Rodrigo, que assistiu a Uma Nova Esperança, ainda garoto, em companhia do pai.

O grupo Pilar teve 20 integrantes fixos – a maioria deles com curso superior e idades entre 17 e 36 anos. Mas, em algumas ocasiões, chegou a reunir mais de 150 pessoas. Alguns membros, mais fanáticos, logo sugeriram a Rodrigo que transformasse o grupo em seita religiosa. Na ocasião, chegaram a propor a fundação de um Templo Jedi. Foi quando Rodrigo, em 2004, decidiu se afastar.

"Percebi que o negócio estava indo longe demais quando recebi convites para ministrar 'cultos Jedi'", recorda. "Sempre fui e sempre serei um jedaísta. Mas, veja bem, não entendo George Lucas como um profeta, nem Star Wars como algo messiânico. Vejo o Jedaísmo como um caminho a ser trilhado”, explica Rodrigo, que tem em Obi-Wan Kenobi sua principal referência.

Cultura de massa

O Jedaísmo também virou tema de estudos acadêmicos. É o caso de Um Novo Movimento Religioso Contemporâneo: Uma Análise da Prática no Brasil, monografia do estudante Mauro Thiago da Silva Giovanetti, do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Nela, Giovanetti traça um paralelo entre o grupo Pilar, de Rodrigo Alves Coelho, e o Jedi Church, de Daniel Jones, um britânico aficionado por Star Wars que se autointitula Mestre Morda Hehol.

"A última vez que ouvi falar do Daniel foi em 2009. Soube que ele estava processando um supermercado do País de Gales que, por medida de segurança, não o deixou entrar usando capuz. Para Daniel, tudo não passou de discriminação religiosa", afirma Mauro.

A atitude de Daniel Jones não causa espanto a Ademir Luiz da Silva. Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás, ele explica que o fenômeno do Jedaísmo é recorrente na cultura de massa.

E cita o exemplo de J. R. R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis.

"Quem poderia imaginar que, nos anos 1960, um respeitável acadêmico de cabelos brancos se tornaria alvo da devoção de hippies, que desejavam viver como hobbits?", indaga.

Meio século depois, a história se repete. Dessa vez, são internautas que sonham viver como Jedi.

"Enquanto fenômeno cultural, o Jedaísmo é inofensivo. Não tem caráter de contestação social ou religiosa. Para muitos, pode até não ser uma brincadeira, mas, certamente, não contesta o 'status quo', uma vez que se alimenta dele", analisa o historiador.



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