sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O dízimo da corrupção

Os piedosos homens da Assembleia de Deus Madureira precisam se explicar

A denúncia do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, contra o deputado evangélico Eduardo Cunha, é uma peça jurídica de 85 páginas, das quais surgem informações aterradoras quanto ao uso de uma igreja da Assembleia de Deus à qual o parlamentar é ligado. Confira:
Por fim, uma vez já consumados os delitos de corrupção ativa, o denunciado EDUARDO CUNHA ocultou e dissimulou a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes, direta e indiretamente, do crime contra a Administração acima mencionado, mediante o recebimento fracionado de valores no exterior, em contas de empresas offshore e por meio de empresas de fachada, mediante simulação de contratos de prestação de serviços e, ainda, pagamento de propina sob a falsa alegação de doações para Igreja. (pág. 5)
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Em razão da pressão exercida, os pagamentos foram retomados, por volta de setembro de 2011, após reunião pessoal entre FERNANDO SOARES, JÚLIO CAMARGO e o denunciado EDUARDO CUNHA, ocorrida no Rio de Janeiro, em 18 de setembro de 2011. O valor restante – cerca de dez milhões de dólares – foi pago por meio de pagamentos no exterior, entregas em dinheiro em espécie, simulação de contratos de consultoria, com emissão de notas frias, e transferências para Igreja vinculada ao denunciado EDUARDO CUNHA, sob a falsa alegação de que se tratava de doações religiosas. (pág. 8)
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Os valores foram transferidos por meio de quatro processos distintos de lavagem: (i) transferências para a conta da empresa RFY IMPORT EXPORT LIMITED e DGX IMP. EXP. LTD. no exterior; (ii) simulação de prestação de serviços e transferência de valores para as empresas HAWK EYES ADMINISTRAÇÃO DE BENS LTDA e TECHINIS PLANEJAMENTO E GESTÃO EM NEGÓCIOS LTDA, ambas de FERNANDO SOARES; (iii) transferências para a conta da empresa GFD INVESTIMENTOS no Brasil (de propriedade de ALBERTO YOUSSEF); (iv) transferências para Igreja Evangélica, a pedido de EDUARDO CUNHA. (págs. 72/73)
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Por fim, ainda no ano de 2012, FERNANDO SOARES ainda procurou JÚLIO CAMARGO, afirmando que faltava uma quantia a ser paga ao Deputado Federal EDUARDO CUNHA.
FERNANDO SOARES, por orientação do Deputado Federal EDUARDO CUNHA, indicou a JÚLIO CAMARGO que deveria realizar o pagamento desses valores à IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS. Segundo FERNANDO SOARES, pessoas dessa igreja iriam entrar em contato com o declarante, o que realmente ocorreu. Repassados os dados bancários da IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS para fins de efetivação dos pagamentos, foram feitas duas transferências para a IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS (CNPJ 44595395/0001-98): a) uma no valor de R$ 125.000,00 da empresa PIEMONTE em 31 de agosto de 2012; b) uma outra no mesmo valor de R$ 125.000,00 da empresa TREVISO na mesma data de 31 de agosto de 2012, em valor total de R$ 250.000,00, ambas com a falsa justificativa de “pagamentos a fornecedores”.
No e-mail em que foi solicitado o pagamento, datado de 31 de agosto de 2012, os dados são encaminhados como se se tratasse de uma “doação”. Porém, não há dúvidas de que referidas transferências foram feitas por indicação de EDUARDO CUNHA, para pagamento de parte do valor residual da propina referente às sondas.
É notória a vinculação de EDUARDO CUNHA com a referida Igreja. O Diretor da referida Igreja perante a Receita Federal é SAMUEL CASSIO FERREIRA, irmão de ABNER FERREIRA, Pastor da Igreja Assembleia de Deus Madureira, no Rio de Janeiro, que o denunciado frequenta. Foi nela inclusive que EDUARDO CUNHA celebrou a eleição para Presidência da Câmara dos Deputados, conforme amplamente divulgado na imprensa.
É digno que nota que JÚLIO CAMARGO nunca havia feito anteriormente doações para a IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS, nunca frequentou referida Igreja e professa a religião católica (Igreja Católica Apostólica Romana).
Assim, o valor total da propina residual foi paga ao denunciado EDUARDO CUNHA, bem como a FERNANDO SOARES, conforme solicitado. Tanto assim que, além de não ter havido qualquer tipo de reclamação, as pressões direcionadas a JÚLIO CAMARGO cessaram. Inclusive, este último, em outra oportunidade, encontrou o denunciado EDUARDO CUNHA em Hotel no Rio de Janeiro, ocasião em que o denunciado não apenas cumprimentou JÚLIO CAMARGO de maneira efusiva, como se colocou à disposição para qualquer outro assunto. (fls. 79/81)
A notícia do envolvimento da Assembleia de Deus já tinha circulado no fim do último mês de julho e a divulgamos aqui com o valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) que teriam sido desviados para a instituição religiosa.

Agora, a denúncia consolidada da Procuradoria Geral da República atualiza os valores para R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), conforme destacamos acima, em duas parcelas de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), uma repassada pela empresa PIEMONTE e outra pela empresa TREVISO.

Eduardo Cunha, que é presidente da Câmara dos Deputados no Congresso Nacional, se defende partindo para o ataque, dizendo que está sendo vítima de perseguição pelo governo.

Seu amigo Silas Malafaia tentou se desvincular do nobre deputado, a quem apoiava ostensivamente até outro dia, desconversando e tentando fazer parecer que a coisa não é bem assim:



No que foi prontamente ironizado pelo Twitter mesmo:



De qualquer maneira, é mais um escândalo envolvendo o bom nome que os "evangélicos" um dia, num passado remoto, tiveram no Brasil, antes que "pastores" boquirrotos tentassem representá-los.

Agora, cá entre nós, do que será que Malafaia tá com medo, hein?

A íntegra da denúncia pode ser baixada clicando aqui.




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