domingo, 6 de setembro de 2015

É possível meditar caminhando...


Artigo publicado no Brasil Post:

Dicas práticas para transformar uma simples caminhada numa meditação completa

Amy Packham

Mindfulness - a arte de trazer toda a sua atenção para o momento presente - é uma forma de desenvolver a paz e a felicidade em nossas vidas, de acordo com Thich Nhat Hanh.

Hanh é líder espiritual e já publicou mais de 100 títulos sobre meditação e mindfulness, e o seu livro mais recente - Silence (Silêncio, em tradução livre) - foca em como permanecer em silêncio em um mundo barulhento.

No capítulo Mindfulness Means Reclaiming Attention (“Mindfulness Significa Recuperar a Atenção”) Hanh explica como praticar a meditação através de caminhadas, incentivando aqueles que não acreditam que consigam meditar e que na verdade é sim muito fácil.

Ele dá orientações sobre como se concentrar quando sua mente está cheia de pensamentos e também mostra como é possível meditar em qualquer lugar e a qualquer hora.

O seguinte trecho foi retirado do livro Silence de Thich Nhat Hanh:

Não-pensar é uma arte e, como qualquer arte, requer paciência e prática. Recuperar a atenção e manter a sua mente e o seu corpo juntos, mesmo que por dez respirações, pode ser muito difícil no começo.

Mas com prática contínua você pode recuperar a sua capacidade de estar presente e aprender a apenas ser. Encontrar alguns minutos no seu dia para sentar-se calmamente é a maneira mais fácil de começar a treinar e abandonar sua habitual forma de pensar.

Quando você se senta calmamente, você consegue observar como seus pensamentos vão surgindo acelerados e você pode praticar não ruminá-los e, em vez disso, deixá-los ir e vir concentrando-se na sua respiração e no silêncio interior.

Eu conheci uma mulher que decidiu que nunca meditaria porque "não dava certo".

Então eu a chamei para uma caminhada comigo.

Eu não chamaria de "caminhada de meditação", mas nós andamos lentamente com consciência, apreciando o ar e a sensação dos nossos pés no chão.

Quando voltamos os seus olhos estavam brilhantes e ela parecia revigorada e livre.

Se você puder tirar apenas alguns minutos para si mesmo e acalmar desta forma o seu corpo, seus sentimentos, suas percepções, a alegria torna-se possível.

Caminhar é uma ótima maneira de limpar a mente sem tentar limpar a mente. Você não diz: "Agora eu vou meditar!" ou ainda "Agora vou parar de pensar!" Você apenas anda e quando você está se concentrando na caminhada, a alegria e a atenção plena vêm naturalmente.

Para poder aproveitar bem os passos que você dá ao caminhar, permita que sua mente se esvazie completamente de planos ou preocupações. Você não precisa gastar muito tempo e esforço para se preparar em parar de pensar. Com uma inspiração você já parou.

Você respira e dá um passo.

Você pode dar um passo a cada inspiração e um a para cada expiração. Se a sua atenção divagar, gentilmente volte a se concentrar na respiração.

10 ou 20 segundos não é muito tempo. Um impulso nervoso, uma ação em potencial, precisa de apenas um milésimo de segundo. Se quiser você pode se dar ainda mais tempo. Nesse curto tempo você pode sentir a alegria, o prazer, a felicidade de parar.

Durante esse tempo de parada o seu corpo é capaz de curar a si mesmo. A sua mente também tem a capacidade de curar a si mesma. Não há nada, nem ninguém, para impedi-lo de continuar a sentir a alegria que você produziu com um segundo passo, uma segunda respiração.

Os seus passos e a sua respiração estão sempre lá para ajudá-lo a curar-se.

Ao caminhar é possível ver a sua mente sendo empurrada e puxada pelo velho e arraigado hábito de sentir a energia da raiva ou do desejo.

Quando você reconhecer isso, simplesmente sorria e dê a esse impulso um bom banho de atenção plena e de acolhedor e amplo silêncio.

O silêncio não significa apenas não falar.

Grande parte do barulho que ouvimos é a conversa agitada dentro da nossa própria mente. Pensamos e repensamos demais, em círculos.

É por isso que no início de cada refeição devemos nos lembrar de comer apenas a nossa comida e não os nossos pensamentos. Nós praticamos dar atenção plena ao ato de comer. Não há pensamentos; nós apenas focamos toda a nossa atenção para a comida e para as pessoas que estão próximas de nós.

Isso não significa que nunca devemos pensar ou reprimir nossos pensamentos. Significa apenas que ao caminhar nós nos damos o presente de pausar o nosso pensamento, mantendo a nossa atenção em nossa respiração e em nossos passos. 
Se realmente precisamos pensar em algo nós podemos parar de andar e pensar na questão dando a ela toda a nossa atenção.

Não falar, por si só, já pode nos trazer um grau significativo de paz. Se pudermos também oferecer a nós mesmos o silêncio mais profundo de não pensar, poderemos encontrar nesse silêncio uma maravilhosa leveza e liberdade.

Deslocar a atenção para longe dos nossos pensamentos e voltar para casa para o que está realmente acontecendo no presente, é uma prática básica de mindfulness.

Podemos fazer isso a qualquer momento, em qualquer lugar, e encontrarmos mais prazer na vida. Seja cozinhando, trabalhando, escovando os dentes, lavando as roupas ou comendo, nós podemos desfrutar desse silenciamento revigorante dos nossos pensamentos e de nosso discurso.

A verdadeira prática de mindfulness não requer estar sentado meditando nem observando formas exteriores de prática. Implica olhar profundamente e encontrar a calma interior. Se não pudermos fazer isso, não poderemos tratar as energias de violência, medo, covardia e ódio em nós.

Quando nossa mente está a mil e barulhenta, a calma externa é apenas uma pretensão. Mas quando podemos encontrar espaço e calma interior, em seguida, sem nenhum esforço irradiamos paz e alegria.

Nós temos a capacidade de ajudar os outros e criar um ambiente de cura ao nosso redor sem dizer uma única palavra.

Extraído do Silence de Thich Nhat Hanh

(Tradução: Simone Palma)



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