domingo, 2 de outubro de 2016

Nossa democracia é mesmo representativa?


Não sabemos ainda qual é a mensagem que sairá triunfal das urnas nas eleições municipais gerais de hoje, se é que há algo a ser comemorado.

É muito provável que levemos muito tempo para encontrar uma resposta adequada às nossas inquietações quanto ao futuro do país, se é que vamos encontrá-la.

Independentemente de qual partido resulte ungido pelo voto popular, talvez seja a hora de nos perguntarmos até que ponto nossa democracia é realmente representativa.

Claro que não moramos todos numa pequena Atenas e podemos nos reunir em praça pública para discutir e resolver os problemas de nossa comunidade.

Nem mesmo o conceito (datado) de "aldeia global" de McLuhan nos ajuda muito, visto que a televisão ainda não perdeu - substancialmente - o poder de controle de massa que tinha na década de 1960, por mais que a internet e as redes sociais tenham se mostrado uma alternativa viável.

Basta um olhar detido para o pouco que se conhece da representatividade nacional no Congresso para perceber que há algo errado.

As bancadas pluripartidárias que dizem representar o agronegócio, as igrejas, os sindicatos patronais e de trabalhadores, etc., parecem ser muito maiores do que a sua base de eleitores, que é - em tese - a fonte primária do poder de que são investidos.

Por outro lado, a representatividade de gênero e de etnias parece significativamente desproporcional no sentido reduzido do termo. Uma pergunta é suficiente: quantos deputados e senadores afrodescendentes ou mulheres você conhece nem que seja de ouvir falar?

Recém-saídos que somos de uma crise política muito mal conduzida, para dizer o mínimo (tentando não despertar paixões clubísticas e ideológicas avassaladoras), parece que uma eleição geral tem o mesmo potencial para o mal que para o bem num momento crítico como esse.

Matéria do portal Congresso em Foco mostra que esse desequilíbrio permanece na base de candidatos para 2016. Somente 32% de candidatAs, por exemplo.

Curiosamente, aqueles que se identificam como "negros" e "pardos" equivalem a 47,76% dos candidatos, o que chega perto das estatísticas do país e provavelmente muitos deles serão eleitos, fenômeno que estranhamente não se repete nas eleições proporcionais para os Legislativos estadual e nacional.

Talvez a expressão local da votação dilua o preconceito, algo difícil de acontecer quando o candidato afrodescendente não pertence à comunidade.

A solução para esse descompasso?

As saídas para essa falta de representatividade na nossa democracia esbarram em duas reformas que, há décadas, todos os candidatos prometem mas nenhum governo entrega: a política e a educacional.

Não esta educacional que o atual presidente, cuja legitimidade se discute, tenta impor ao país por medida provisória, mas um investimento maciço em educação e ensino em período integral de qualidade que, finalmente, faça as pessoas pensarem, sem essa baboseira de ideologia ou não, já que não existe educação isenta e não ideológica, o que está se pregando é a proibição da ideologia do outro, desde que a minha seja pregada.

Não menosprezem nossas crianças, elas são muito mais inteligentes do que seus pais e os políticos pensam.

A reforma política parece muito mais distante que a educacional. 

Ninguém, em sã consciência, acredita que os políticos brasileiros legislem contra seus próprios interesses e mamatas para permitir que haja uma proporção maior de gente honesta no seu meio.

Isso não quer dizer - obviamente - que a reforma política não seja necessária e urgente. Ela é para ontem, e se não for feita o quanto antes, o risco de aparecer um "salvador da pátria" que afunde de vez o país no buraco não é desprezível. Os candidatos a "messias brasileiro" já estão por aí...




Uma reforma não pode vir sem a outra. A educação impede, por exemplo, que "justiçamento" seja confundido com "justiça", e a política é o filtro (não infalível e necessário) para que a barbárie coletiva não se transforme em lei.

A exemplo dos controles constitucionais que funcionam como pesos e contrapesos, a política turbinada pela educação fornece a balança imperfeita onde os erros podem ser evitados e os acertos priorizados.

Faltam-nos, entretanto, os homens e mulheres que - representativamente - vão operar com sabedoria, humildade, qualidade e decência os ponteiros dessa balança para ajustar a nossa trajetória comum.

Voltando ao nosso caminho atual, some-se a isso tudo a crise econômica sem luz no fim do túnel em que vivemos, e o quadro é desolador.

Depois de mais de 30 anos do retorno à democracia, não soubemos minimamente nos organizar. 

Instituições que imaginávamos sólidas hoje ditam seu protagonismo em busca de 15 minutos de fama e ao sabor dos ventos ideológicos de ocasião.

Nosso projeto de país, reconheçamos, é um fracasso total.

Há esperança?

Sim, talvez ainda estejamos nos estertores da nossa ruína, respirando por aparelhos.

Quando tivermos a capacidade de conversar civilizadamente sobre essas questões fundamentais para o país, talvez possamos resolvê-las.

Embora devamos reconhecer que, um ano atrás, a revista americana Forbes vaticinava que "os políticos brasileiros estão cavando a sepultura do país".

É triste reconhecer isto, mas parece que a "profecia" se realizou.

Queira Deus que as eleições de hoje nos desmintam fragorosamente...




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