segunda-feira, 31 de julho de 2017

Bolsonaro confirma "banana" aos fãs evangélicos

Conforme havíamos repercutido aqui em novembro de 2016, parece que o deputado federal Jair Bolsonaro escolherá outro partido que não o evangélico PSC para se candidatar às eleições presidenciais do ex-país que um dia foi conhecido como Brasil, em 2018, se é que o calendário eleitoral será respeitado nesta ex-nação ou se o ex-Brasil chegará até lá.

Resta saber como ficarão seus "adoradores" evangélicos, ou melhor, como ficará o seu atual partido, o PSC, já que o eleitorado gospel certamente se bandeará para o candidato paradoxalmente defensor da tortura e contrário ao aborto por respeitar o "dom da vida".

O puro e santo evangelho de Jesus Cristo, este sim - não se preocupe-, passará bem longe de mais essa empreitada dita "evangélica".

De qualquer maneira, haverá viúvas na política, do PSC ou do mundinho varonil gospel. Até o Eymael (o "democrata cristão") rejeitou o Bolsonaro, vocês acreditam?

A saída, então, é ressuscitar o Enéas ("meu nome é Enéas!") e seu Prona.

Basta um polpudo fundo partidário para que milagres assim aconteçam...

A matéria é do Congresso em Foco:

Bolsonaro acerta filiação ao PEN para disputar a Presidência

Pré-candidato à Presidência, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) acertou sua transferência para o Partido Ecológico Nacional (PEN). Os três filhos dele com mandato político – o também deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), o deputado estadual Flávio Bolsonaro e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro – devem seguir o mesmo caminho. A filiação deve ser assinada em duas semanas, segundo dirigentes da legenda.

Para se adequar ao perfil mais conservador do eleitorado de Bolsonaro, o PEN prepara mudança de nome. A tendência é que ressuscite o Prona, partido do recordista de votos na Câmara, Enéas Carneiro (SP), eleito em 2002 com o apoio de 1,57 milhão de eleitores. Enéas também disputou a Presidência três vezes (1989, 1994 e 1998). Outras denominações são estudadas pelo PEN, como Partido da Defesa Nacional ou Pátria Amada Brasil.

A saída de Bolsonaro do PSC foi antecipada em novembro do ano passado pelo Congresso em Foco. A relação do parlamentar com o presidente da sigla, Pastor Everaldo, que disputou a eleição presidencial em 2014, estava desgastada. Everaldo resistia a garantir ao deputado legenda para concorrer ao Planalto em 2018. Bolsonaro também estava contrariado com a coligação do PSC com o PCdoB e o PT em alguns municípios em 2016.

O deputado confirmou o acerto com o PEN em entrevista ao site O Antagonista. “Houve (o acerto). É verdade”, declarou. “É igual a um noivado. Você marcou a data do casamento. Em 99% das vezes, você casa”, emendou. Os números do PEN, por enquanto, são discretos: tem três deputados federais, 14 prefeitos e 13 deputados estaduais. Como mostra a nova edição da Revista Congresso em Foco, o deputado também tem produção legislativa pífia em seus 26 anos de mandato na Câmara.

Registrado em 2012, o PEN tem forte ligação com os evangélicos e chegou a oferecer abrigo à ex-senadora Marina Silva quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a criação da Rede a tempo de ela disputar a eleição presidencial de 2014. Marina optou pelo PSB, em aliança com o então candidato Eduardo Campos (PSB), falecido em agosto daquele ano em um desastre aéreo. Com a morte de Campos, ela deixou a condição de vice para assumir a vaga dele e terminou a disputa na terceira colocação.

Há duas semanas Bolsonaro disse que namorava alguns partidos e que seu provável destino seria o PSDC, presidido por José Maria Eymael, que disputou a Presidência da República quatro vezes (1994, 2006, 2010 e 2014). Mas o flerte não foi correspondido. Por meio nota, a Executiva do Diretório Nacional da legenda negou que tivesse interesse na filiação do deputado: “Não existem esses entendimentos e não há interesse da Democracia Cristã”. Além disso, o partido afirma que terá candidato próprio nas eleições de 2018 e que a escolha se dará “entre os seus atuais filiados”, que será indicado no 7º congresso nacional da sigla a ser realizado em agosto.



domingo, 30 de julho de 2017

Cerveja brasileira incomoda fundamentalistas hindus


A matéria é do Diário de Notícias de Portugal:

Hindus pedem que cerveja brasileira Brahma mude de nome

Brahma é o nome de um deus hindu

Um grupo de hindus pediu a mudança da marca de cerveja brasileira Brahma, propriedade da multinacional cervejeira Anheuser-Busch InBev, com sede em Lovaina, na Bélgica, argumentando que é inapropriado uma bebida alcoólica ter o nome que um deus hindu.

O líder norte-americano/hindu Rajan Zed, numa declaração feita na quarta-feira no estado do Nevada, nos Estados Unidos, disse que no hinduísmo Brahma, Vishnu e Shiva formam a grande tríade das suas divindades.

De acordo com Zed, ligar o deus Brahma com uma bebida alcoólica é muito desrespeitoso.

O uso inadequado das divindades, conceitos ou símbolos hindus para o comércio ou outros fins não é aceitável e fere a sensibilidade dos devotos, de acordo com Zed, que é presidente da Sociedade Universal do Hinduísmo.

"O hinduísmo é a terceira maior religião do mundo com cerca de 1,1 mil milhões de seguidores e um vasto pensamento filosófico e não deveria ser encarada de modo frívolo. Símbolos de qualquer fé, maior ou menor, não devem ser desrespeitados", de acordo com Rajan Zed.

"Além disso, o caráter sagrado de (divindade) Brahma não fica bem em propagandas e anúncios da cerveja Brahma, declarou Rajan Zed.

Celebridades de Hollywood, como Megan Fox e Jennifer Lopez, já atuaram em anúncios da cerveja Brahma.

A Anheuser-Busch InBevtem mais de 500 marcas de cerveja em cerca de 150 países, entre as quais as brasileiras Brahma e Skol, e outras como a Budweiser e Corona.



sábado, 29 de julho de 2017

Na Flip, uma voz denuncia o racismo endêmico do Brasil

 
Menino brasileiro com a ama de leite, 1860.

Você não precisa concordar com tudo o que a professora negra Diva Guimarães fala na Flip, a Feira Literária Internacional de Parati, versão 2017, na mesa "A Pele que Habito", sob coordenação do ator Lázaro Ramos, mas seria interessante parar para ouvir o que ela tem a dizer sobre o que é ser afrodescendente no Brasil.

Talvez você se convença de que há algo de errado (ou faltando) na sua percepção do racismo neste nosso país (hoje à beira de se tornar um ex-país) extremamente injusto.

Indague-se no vídeo abaixo:




sexta-feira, 28 de julho de 2017

Igrejas evangélicas pegam fogo (literalmente) no Chile


Um templo da Assembleia de Deus foi consumido pelo fogo na localidade chilena de Vilcún, na província de Cautín da IX Região da Araucanía, na tarde do dia 25 de julho de 2017.

Ao que tudo indica, se trata de um incêndio criminoso, já que no local havia panfletos com a inscrição "Liberdade para os presos políticos mapuches".

Os mapuches são o povo aborígene nativo da Patagônia chilena e argentina, no cone sul do continente sulamericano, cuja história é marcada pela violência que foi cometida contra eles pelos colonizadores espanhóis e as repúblicas independentes que os seguiram.

Até hoje, os mapuches chilenos estão constantemente envolvidos em militância política na qual confrontam o poder estabelecido no Chile, exigindo direitos para seu povo, sua terra e sua cultura.

No caso incendiário de Vilcún, quando os bombeiros chegaram já não havia nada mais a fazer, visto que as chamas tinham consumido o templo.

Apesar dos indícios criminosos, o incidente ainda está sob investigação.

Outro incêndio havia ocorrido a 90 km dali, em Ercilla, também na região da Araucanía, alguns meses atrás (mais precisamente no início de abril), que arrasou o templo do Centro Evangélico Misionero.

Apesar dos disparos ouvidos no início do incêndio de abril, as investigações da polícia chilena chegaram à conclusão de que a verdadeira causa do fogo foi o mau funcionamento da calefação a lenha que servia a humilde instalação, segundo noticiou o portal biobiochile.

Independentemente disso, os ânimos continuam exaltados na região da Araucanía, e o bispo católico de Temuco, D. Hector Vargas, vem insistindo num chamado à paz para todas as comunidades ali representadas.

Fontes: Religión Digital, La Tercera, MSN Chile (com vídeo).



quarta-feira, 26 de julho de 2017

A dor da jovem que foi escrava sexual do Estado Islâmico


A matéria é da BBC Brasil:

'Fui estuprada todos os dias por 6 meses': o inferno de jovem transformada em escrava sexual pelo Estado Islâmico

Ekhlas, uma jovem iraquiana da minoria yazidi, vive hoje em um hospital psiquiátrico na Alemanha. Não é o ideal, mas pelo menos mais seguro do que seu último destino, no norte do Iraque.

"Minha vida era bonita, mas duas horas a mudaram completamente", contou ela a Fiona Lamdin, do programa Victoria Derbyshire, da BBC.

"Eles vieram com sua bandeira negra. Mataram os homens e estupraram as meninas."

Em agosto de 2014, a aldeia de Ekhlas foi atacada por militantes do grupo que se autodenomina Estado Islâmico. Muitos homens foram mortos. Mulheres e crianças, capturadas.

Ela, então com 14 anos, e sua família tentaram escapar pelas montanhas, mas não chegaram muito longe.

"Mataram meu pai diante dos meus olhos. Vi o sangue dele em suas mãos."

Sequestro e estupro

Quando capturaram sua família, os militantes do Estado Islâmico separaram Ekhlas da mãe e a colocaram em uma prisão.

"Tudo o que escutava eram gritos, choro. Todos estávamos com fome, eles não alimentavam ninguém", disse ela.

"Vi um homem de mais ou menos 40 anos sobre uma menina de 10. A menina gritava."

"Nunca me esqueci desses gritos. Ela dizia 'mamãe, mamãe...', mas não conseguimos fazer nada."

A jovem foi escolhida por um militante entre um grupo com 150 adolescentes.

"Era tão feio, como um monstro, com cabelos compridos. Cheirava tão mal... tinha tanto medo que não conseguia olhá-lo."

"Me estuprou todos os dias, durante seis meses. Tentei me matar", relatou a adolescente ao programa da BBC.

"Como consigo contar tudo isso sem chorar? Fiquei sem lágrimas", concluiu.

Na Alemanha

Um dia, aproveitando que seu sequestrador estava no campo de batalha, Ekhlas conseguiu escapar. Foi levada a um campo de refugiados e lá conheceu Jaqueline Isaac, uma advogada americana encarregada de realocar jovens em países da União Europeia.

"Quando a conheci, não fazia contato visual", relata a advogada.

Atualmente, entre 2 mil e 4 mil jovens yazidis estão em poder do EI.

Quase três anos após ser sequestrada, Ekhlas está hoje em um centro de apoio psiquiátrico. Frequenta a escola e participa de terapia em grupo para crianças e adolescentes refugiados.

"Focamos em certas emoções, como amor, paz e felicidade, para lidar com o medo, a ansiedade e outras emoções negativas", diz um dos terapeutas que faz parte da equipe multicultural e disciplinar que atende os jovens.

Uma das meninas que frequenta a instituição, de 13 anos, também foi sequestrada pelo Estado Islâmico. Hoje só se comunica por meio de desenhos e sinais e não sabe se seus pais estão vivos.

Outro tinha apenas sete anos quando seus pais foram sequestrados. Desde então já se passaram três anos.

Sua mãe foi vista há alguns meses em um campo no Iraque, depois de escapar do cativeiro.

Durante sua última sessão de meditação, ele imaginou que todos os seus familiares estavam livres e que comemorava com a mãe o fato de estarem todos novamente reunidos. Ekhlas, por sua vez, voltou a olhar as pessoas nos olhos, canta e quer ser advogada.

"Você pode pensar que sou forte como uma pedra, mas quero que saiba que estou ferida por dentro. Minha dor é como a de cem mortes."



segunda-feira, 24 de julho de 2017

Justiça de MG é criticada por querer "controlar" candomblé

Parece que Xangô, o orixá da justiça, está tendo problemas com a Justiça mineira...

A matéria é do portal Justificando:


Para Juristas, decisão que cerceia candomblé é inconstitucional e se vale de racismo

O caso de repressão e intolerância religiosa sofrido por uma casa de candomblé localizada em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte/MG, em que a Justiça estipulou um conjunto de regras para a realização dos cultos gerou revolta nas redes sociais e levantou críticas de juristas acerca da laicidade do Estado brasileiro.

Na última terça-feira (18), os representantes da religião realizaram um protesto na cidade contra a imposição que determinava que a casa de candomblé poderia executar as atividades somente nas quartas-feiras e em um único sábado do mês, utilizando apenas um atabaque. Em caso de descumprimento das regras, o estabelecimento está sujeito a multa diária de R$100. Vestidos de branco, os representantes se posicionaram em frente ao Ministério Público e pediram por respeito às tradições da cultura afro-brasileira.

Para a desembargadora do TJ-SP, Kenarik Boujikian, o caso configura uma “violência gigantesca”. “Nem sei o que dizer (…) não dá pra ter juiz que não sabe o básico do Estado brasileiro. Ler a Constituição Federal é o mínimo” completou.

A Iyaloríxa do Ile Aiye Orisha Yemanja, Winnie Bueno, formada em Direito e colunista do Justificando, já escreveu em sua coluna sobre a criminalização das religiões de matriz africana. Na ocasião, Winnie afirmou que “a criminalização das tradições religiosas de matriz africana é uma permanência das consequências do processo de colonialismo e escravização que originou a conformação que hoje conhecemos do Estado brasileiro”.

O Just conversou novamente com Winnie sobre o caso específico de Minas Gerais. A Iyaloríxa explicou que “o caso está relacionado com uma regulação que, aparentemente, é jurídica. Trata-se de uma tentativa de suprimir a liberdade religiosa e o livre direito ao culto para essas expressões. [Os códigos das religiões de matriz africana] não são aceitos em sua plenitude pelas epistemologias dominantes e, automaticamente, pelo pensamento jurídico dominante”.

Para o mestre em Direito e doutorando em Ciências Sociais Fábio Mariano a imposição da Justiça mineira é “inconstitucional”. “A norma que fere um princípio fundamental que é do de liberdade de culto num estado laico. Fere a dignidade da pessoa que é limitada ao exercício da sua religião e de seus dogmas de maneira descabida e desproporcional num claro ato de preconceito e racismo, já que é uma religião ancestral”.



domingo, 23 de julho de 2017

Sobre magia, auto-ajuda e graça de Deus

Coluna de Leandro Karnal publicada no Estadão de 19/07/17:

A magia do amor

A política absorveu parte do que era a teologia antiga na promessa da felicidade

Existe um livro extraordinário de Sir Keith Thomas: Religião e o Declínio da Magia – Crenças Populares na Inglaterra, Séculos XVI e XVII (Companhia das Letras, 1991). A pergunta básica do professor de Oxford ao lançar o livro, em 1971, foi saber por qual motivo a crença no pensamento mágico declinou na Idade Moderna. O livro é repleto de trechos memoráveis e é daquelas leituras que lamentamos terminar. Qual o motivo para um livro tão fundamental estar esgotado há mais de 25 anos? Trata-se de insondável mistério editorial brasileiro.

Após examinar astrologia, bruxas, fantasmas e outros, ele encerra a obra com um capítulo sobre o recuo das crenças mágicas. Por qual motivo ocorreu o declínio mágico? Para o autor, o avanço do pensamento científico, dos seguros (que diminuem a insegurança) e da própria reforma protestante colaborou para o processo. Porém, uma nova atitude pessoal de confiança em si foi anterior ao processo de crescimento científico. Para Thomas, a magia declinou um pouco antes de um domínio real do pensamento científico. “Na medicina, como em outras áreas, as teorias sobrenaturais saíram de cena antes que entrassem técnicas eficazes” (pág. 537); “Somos, portanto, forçados a concluir que os homens se emanciparam das crenças mágicas sem terem, necessariamente, criado quaisquer tecnologias eficazes para pôr no lugar delas” (pág. 540).

Há, na primeira modernidade, a ascensão de um modelo de confiança e segurança do valor de cada um, que excede o campo do avanço técnico. Os séculos 18 e 19 viram emergir a crença otimista no indivíduo, que tem uma ponta, simbólica, no Iluminismo. Keith Thomas trata do tema da autoajuda, da ideia de autonomia de cada consciência de promover uma melhora efetiva na sua vida e no seu meio. Com certos recuos, a curva ascensional da autoajuda é o sintoma do mundo que substituiu ou transformou as crenças mágicas.

Vejamos três exemplos. Um dos grandes sucessos editoriais do século 19 foi o livro Self-Help, de Samuel Smiles (1812-1904). O livro do escocês é do mesmo ano da Origem das Espécies, de Charles Darwin: 1859. O texto é um louvor ao modelo do empreendedor, citando grandes nomes dos negócios e dando conselhos muito úteis sobre o uso de dinheiro e progresso. Acima de tudo, espalha a ideia de que você é gestor da sua vida. O tímido igarapé de Samuel Smiles viraria um caudaloso rio no mundo atual. Até a morte do autor, o livro tinha atingido a cifra de quase um quarto de milhão de exemplares vendidos e era admirado por quase todos no Império Britânico.

O processo de ascensão do realizador individual que se orienta rumo ao sucesso cresceu. Ele é contemporâneo de duas outras criações. O segundo exemplo é o crescimento da questão do amor materno e da certeza do amor incondicional. A Idade Moderna é a lenta ascensão da figura da mãe e da devoção aos filhos que aparecem no Emílio (1762) de Rousseau ou nas pinturas de madame Vigée LeBrun (1755-1842). O século 19 é o triunfo da criança e do amor materno, consagrado, no início do 20, com a instituição do Dia das Mães.

O amor materno torna-se incondicional e assim será representado. A mãe desnaturada é um monstro e a literatura vai torná-la uma caricatura. As crianças passam a ouvir que são lindas, que podem contar sempre com o auxílio materno e que tudo será perdoado. Mudamos a psicologia do indivíduo ocidental.

O último ponto a transformar é a customização do Deus do Juízo Final, do deus vingativo do Dies Irae e do capítulo 25 de Mateus para um deus de pleno amor e inesgotável perdão. O deus definido como amor (como no apóstolo João) substituiu o Deus do afresco de Michelangelo. Nada de um Jesus juiz, mas um Jesus todo amor. A ascensão do culto católico ao Sagrado Coração, sempre aberto e receptivo, sempre acolhedor e que me ama incondicionalmente é um salto imagético. Os protestantes, com mau humor, chamaram o culto ao Coração de Jesus como “idolatria cardíaca católica”.

Um Deus julgador e terrível condenando almas ao inferno aparece nas visões das crianças de Fátima, mas representam uma voz camponesa e pouco culta de um mundo antigo. A vitória era do misericordioso coração do qual emanam graças incessantes sobre todos. Claro que o tema de Deus-amor é bíblico e a misericórdia divina é milenar. Porém, basta comparar um catecismo antigo cheio de pecados e punições com um atual, cheio da beleza de um Deus sorridente e amigão.

Livros de autoajuda, mães incondicionais e Deus misericordioso expondo seu coração a uma humanidade pecadora são três exemplos (há centenas) de uma nova concepção de um indivíduo otimista e feliz, cheio da ideia de que o mundo o ama e que deve estar à sua disposição. A nova crença em si substituiu (ou sublimou) a crença mágica de outrora. A política absorveu parte do que era a teologia antiga na promessa da felicidade. Relendo a obra de Keith Thomas, interrompia o livro para pensar nos novos deuses humanos, o Homo Deus de Yuval Harari. Terminei o livro no sábado pensando: acho que ainda teremos saudades do pensamento mágico que colocava o mal em bruxas que podiam ser queimadas. O novo homem feliz e realizado é um deus terrível. Boa semana a todos!



sábado, 22 de julho de 2017

14 mortes em 1 mês levantam suspeitas sobre abrigo católico da Grande SP


A notícia foi publicada no Estadão em 19/07/17:

Sob investigação há 6 anos, abrigo a 76 km de SP tem 14 mortes em um mês

9 delas apresentavam quadros de diarreia e vômito, acompanhados de desnutrição; vítimas moravam em sítios da Missão Belém

Fabiana Cambricoli e Luiz Fernando Toledo

SÃO PAULO - Ao menos 14 pessoas que viviam em um centro de acolhida de uma missão ligada à Igreja Católica, que recebe usuários de drogas e moradores de rua em Jarinu, no interior paulista, morreram nos últimos 30 dias. Pelo menos nove delas apresentavam quadros de diarreia e vômito, acompanhados de desnutrição, desidratação ou intoxicação alimentar. Outros 19 foram internados com esses sintomas, mas sobreviveram. As causas dos óbitos ainda estão sendo investigadas.

As vítimas moravam nos sítios da Missão Belém, a 76 km da capital. O espaço recebe, em sua maioria, dependentes vindos da Cracolândia. A entidade, fundada pelo padre Gianpietro Carraro em 2005, atua no Brasil, na Itália e no Haiti e atende 2 mil pessoas. Só nas quatro propriedades de Jarinu, são 850.

Segundo informações dos boletins de ocorrência dos óbitos, aos quais o Estado teve acesso, metade das vítimas eram idosas e a maioria vivia nos sítios da Missão Belém há anos. Eram ex-dependentes químicos, ex-moradores de rua ou pacientes com problemas psiquiátricos rejeitados pela família.

A primeira das 14 mortes aconteceu no dia 18 de junho. A vítima, de 56 anos, teve um mal súbito após receber medicações. Três dias depois, mais um óbito foi registrado, desta vez de um homem de 50 anos internado há oito em Jarinu. Ele foi o primeiro hospitalizado a apresentar diarreia e vômito.

Nas semanas seguintes, casos do tipo aumentaram. Do dia 3 de julho até esta terça-feira, 18, o Hospital de Clínicas de Campo Limpo Paulista, município vizinho de Jarinu, recebeu 25 internos da Missão Belém, dos quais 6 morreram. De acordo com a Prefeitura do município, a maioria dos pacientes chegou ao local “em avançado estado de desidratação, desnutrição e intoxicação alimentar, em alguns casos associados a doenças crônicas, HIV e sequelas de acidente vascular cerebral (AVC)”.

A Vigilância Municipal de Jarinu, órgão vinculado à Prefeitura, diz ter feito fiscalizações no local antes e depois das mortes, mas afirma não ter encontrado sinais aparentes de contaminação. Segundo a Prefeitura, o órgão espera resultados de análises de amostras de água e fezes enviadas ao Instituto Adolfo Lutz e a contaminação por rotavírus já foi descartada pelo órgão. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), toda a cidade de Jarinu - com cerca de 28 mil habitantes - tem média de 14,4 óbitos por mês.

Regulamentação

Desde 2011, a Missão Belém é alvo de investigação do Ministério Público e da Prefeitura de Jarinu. Segundo a promotora Aline Morgado da Rocha, o local funciona, na prática, como uma comunidade terapêutica, mas não tem licença para desempenhar tal atividade. O estabelecimento não tem nem licença de funcionamento da prefeitura.

Norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prevê que espaços que recebam usuários de drogas em regime de residência devem ter licença segundo as leis municipais. Também precisam contar com responsável técnico de nível superior e mecanismos de encaminhamento à rede de saúde.

Para o psicólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Marcos Garcia, há um “limbo legal” no oferecimento deste tipo de serviço. “Alguns têm cadastro como assistência social ou equipamento de saúde, mesmo não seguindo as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).”

‘Se Deus levou, não temos culpa’, diz coordenador

O coordenador da Missão Belém, Marcio Antonio dos Santos, afirmou que muitos dos abrigados já chegam ao local doentes e observou que nem sempre é possível reverter seus problemas de saúde. Os boletins de ocorrência dos óbitos mostram, porém, que parte deles já vivia no local há anos.

“Tem uns que sobrevivem e outros não conseguem. O que fazemos de melhor é não deixar ele morrer na rua, como indigente e sem nada. Mas se Deus decide levar, já não é problema nosso. Se Deus levou, não temos culpa”, disse.

O coordenador alegou que os efeitos do crack podem ser os responsáveis pelas mortes e não houve registro de intoxicação alimentar, embora o Hospital de Campo Limpo Paulista tenha confirmado a informação à reportagem. “(As vítimas) estavam com problemas cardiovasculares, problemas ligados ao longo uso de bebida e outros”, diz ele.

O Estado procurou o padre Gianpietro Carraro, fundador do grupo, mas o religioso respondeu por mensagem que não poderia dar entrevista por estar em missão no Haiti. A assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo informou que a Missão Belém é independente juridicamente e, por isso, não irá se manifestar.

VÍTIMAS E DATA DE REGISTRO
  • Edson Luiz Ambrozio, de 56 anos, em 18 de junho.
  • Marco Cesar de Moraes, de 50, em 22 de junho
  • Ismael Francisco Nunes, de 53 anos, em 28 de junho
  • Natal Aparecido de Moraes Funck, de 63, em 1º de julho
  • Nicodemos Dias Soares, de 78 anos, em 3 de julho
  • Jamilton José Cerqueira da Silva, de 50, em 4 de julho
  • Gonçalo Galdino da Silva, de 55 anos, em 5 de julho
  • Otaviano Gomes da Silva, de 81, em 6 de julho
  • Nivaldo Santoja, de 56, no dia 7
  • João Crisostomo da Luz Neto, de 75 anos, em 10 de julho
  • Luiz Carlos Vieira, de 62, anos, em 12 de julho
  • Iolando da Silva, de 70, no dia 12 de julho
  • Wlademir Picoralle, de 64 anos, no dia 13 de julho
  • Um desconhecido, nesta terça, 18 de julho




sexta-feira, 21 de julho de 2017

Professor de Direito de RR aplica prova com resultado religioso


A informação é do G1 Roraima:

Juiz aplica caça-palavras como prova a alunos de Direito em RR e resposta certa é: 'Deus é fiel sempre'

'Foi uma perda de conhecimento', diz estudante. Professor afirma que exame não foi avaliação e que deu nota baseada em frequência dos alunos.

Emily Costa

O juiz federal Hélder Girão Barreto surpreendeu alunos de uma faculdade privada de Boa Vista ao aplicar um caça-palavras como prova da disciplina de Direito Constitucional. No exame, ele pediu que alunos encontrassem a resposta certa do teste, que foi a frase “Deus é fiel sempre”.

A prova foi aplicada para alunos do 3º semestre de Direito da Faculdade Cathedral na tarde do dia 9 deste mês mas acabou não valendo como nota. Mesmo assim, a avaliação aplicada na disciplina de Direito Constitucional II, gerou críticas por parte dos universitários.

O exame não tinha uma pergunta específica. Abaixo do caça-palavras havia apenas a orientação 'encontre a resposta certa e escreva abaixo'.

“No final, o que valeu os quatro 'pontos' dessa prova foi a presença no dia do exame e em todas as outras aulas do professor”, explicou uma estudante que fez a prova. Ela não quis ter o nome divulgado. Outro aluno emendou: "Acho que essa, apesar da nota não ter contado, a prova causou uma perda de conhecimento, porque não mediu o que aprendemos ao longo do bimestre".

Procurado pelo G1, o juiz afirmou por telefone que a avaliação foi uma ‘pegadinha’. Ele negou ter dado nota aos estudantes com base na prova.

"Meus alunos foram avaliados de várias formas, e essa não foi uma avaliação, essa na realidade foi uma pegadinha, uma pegadinha que fiz com eles. A avaliação foi feita pela presença, pela frequência nas aulas", declarou o magistrado, reafirmando que aplicou o caça-palavras e a resposta certa foi 'Deus é fiel sempre'. "Quem tem Deus como direção da sua vida sabe que ele é fiel sempre".

O juiz também disse que é de total competência do professor a escolha de como avaliar os estudantes. Ele pontuou que as críticas ao exame foram feitas por alunos que faltaram às aulas e que se consideraram prejudicados pela avaliação baseada na frequência.

“O professor avalia os alunos da forma como acha conveniente [...] Eu não participo de uma coisa chamada pacto de mediocridade, que é quando uma instituição faz de conta que paga bem, o professor faz de conta que dá aula e os alunos fazem de conta que aprendem. Nas minhas aulas eu passo todas as matérias, com critério, conteúdo e cobrança de frequência", declarou.

Em nota, a assessoria da Faculdade Cathedral informou que os professores têm autonomia para elaborar exames a partir do conteúdo didático dado aos acadêmicos. A instituição confirmou que o teste não valeu como nota. (veja nota na íntegra ao fim da reportagem).

De acordo com a estudante que fez o exame, antes de aplicar a prova, o professor entrou sorrindo na sala e disse que passaria uma avaliação diferente. “Ele disse que o exame não seria consultado, e, depois de distribuir as folhas com o caça-palavras para a turma, nos avisou que deveríamos entregar o exame à líder da classe, e foi embora”, conta a estudante.

Ao perceberem que a resposta certa era 'Deus é fiel sempre", os alunos se surpreenderam. "Ele é um professor rígido, que cobra mesmo. Por isso quando encontrei a frase fiquei até surpreso como todo mundo, pois ninguém esperava isso", avaliou outro estudante que também não quis ter a identidade divulgada.

Veja a íntegra da resposta da faculdade:


A Faculdade Cathedral esclarece que conta com três sistemas de avaliação próprio, como sistemática, continuada e bimestral, em que o professor aplica a prova de acordo com o conteúdo ministrado em sala de aula. 


Dentro da avaliação continuada, o professor pode usar critérios que considerar pertinentes para estimular a criatividade e o raciocínio do aluno. Ressaltamos que o professor tem autonomia para elaborar os exames a partir do conteúdo didático dados aos acadêmicos. A sala de aula é um espaço democrático no caso em questão, o teste aplicado não foi para atestar nota e sim, frequência.




quinta-feira, 20 de julho de 2017

Ter menos filhos talvez seja a melhor medida contra o aquecimento global


É esta a conclusão a que chegou um grupo de pesquisadores suecos, que também sugerem o vegetarianismo como opção.

No fundo, a imagem que passam, curiosa e contraditoriamente, é a do cobertor curto que não aquece ninguém em tempos gelados como os atuais.

Leia a matéria abaixo da BBC Brasil e nos diga se você concorda ou não:

Ter menos filhos é ação mais eficaz contra aquecimento global, diz estudo

Fernando Duarte

Um estudo publicado neste mês na Suécia prega que ter menos filhos é a ação que pode ter mais impacto no combate às mudanças climáticas.

Mas os pesquisadores da Universidade Lund recomendam tal controle da natalidade apenas em países desenvolvidos, usando como argumento o fato de que nações como os EUA, por exemplo, são responsáveis pelas maiores emissões de carbono na atmosfera (16 toneladas por ano de CO2 per capita) e, por isso, teriam que fazer cortes mais drásticos para atingir "níveis seguros de emissões".

De acordo com os termos do Acordo Climático de Paris, assinado em 2015, 195 países se comprometem a limitar a média global de aumento da temperatura em menos de dois graus Celsius.

Para isso, cientistas estimam que, até o ano de 2050, o volume de emissões per capita não possa ultrapassar 2,1 toneladas de carbono (no Brasil, segundo dados do Banco Mundial, a emissão é de 2,5 toneladas).

Seth Wynes e Kimberly Nicholas afirmam que a redução não poderá ser obtida sem que famílias ou indivíduos tenham um filho a menos, apesar desta não ser a única medida recomendada.

"Não estamos sugerindo que isso vire lei ou coisa parecida. Sabemos que a decisão de ter ou não filhos é talvez a maior que alguém pode ter na vida, e que muitas pessoas não têm o clima como fator preponderante. Vejo isso mais como uma questão pessoal do que de política pública", afirmou Nicholas, em entrevista à BBC Brasil.

"Apenas quisemos mostrar o impacto que decisões pessoais podem ter nos esforços de prevenção de mudanças climáticas. É importante que as pessoas saibam dessas coisas em suas vidas. Especialmente quando mostramos que ações como a reciclagem ou o uso de lâmpadas LED", completa a especialista.

As conclusões são derivadas de análises e cálculos que, segundo os pesquisadores, levam em conta uma gama de ações individuais, das mais complexas como o controle da natalidade às mais simplórias como a reciclagem de lixo.

Wynes e Nicholas concluem, por exemplo, que ter um filho a menos contribuiria para uma redução média de 58,6 toneladas de CO2 na atmosfera por ano, uma quantidade muito maior que as outras três principais alternativas recomendadas: viver sem carro (2,4 toneladas), evitar viagens de avião (1,6) e adotar uma dieta vegetariana (0,8).

O impacto da opção por menos filhos teve como base de cálculo o total estimado de emissões dos filhos e demais descendentes divididos pela expectativa de vida dos pais.

A questão do crescimento populacional já faz parte dos debates sobre impacto humano no meio ambiente e, na última semana, um estudo publicado por acadêmicos da Universidade Stanford (EUA) culpou humanos pelo que classificou como "aniquilação biológica" - a extinção em massa de bilhões de espécies por causa da superpopulação e do consumo.

Segundo Nicholas, não há um número "mágico" de filhos a ser tidos ou evitados para obter um melhor resultado ambiental. Para Wynes, que também falou à BBC Brasil, as características de desenvolvimento dos países deve ser levado em conta no cálculo. No caso do Brasil, um país ainda em desenvolvimento, o consumo de carne e a quantidade de emissão per capita é muito inferior ao dos habitantes dos países altamente desenvolvidos. Por isso, as emissões são menores por pessoa e a diminuição no número de filhos não seria tão significativa.

"Nosso estudo se limitou a avaliar as grandes oportunidades de redução individual de emissões em países em que há as maiores taxas per capita desse tipo de poluição. Naturalmente, escolher ter famílias menores tem um impacto menor no Brasil. Nos países mais prósperos, o consumo de carne é mais alto, e isso aumenta o gasto de água, a necessidade de pastagens e também a liberação de gases. Daí que ter um membro a menos na família em países como os Estados Unidos é relevante para o meio ambiente", diz Wynes.

Em conjunto com a redução do número de filhos, a adoção em massa de uma dieta baseada em vegetais é uma medida importante no combate ao aquecimento global, aponta Wynes. "Queremos chamar a atenção para um fator que terá influência justamente sobre o futuro das próximas gerações, que herdarão o mundo. E não mostramos apenas a questão populacional, mas também o impacto de uma dieta vegetariana e de uma vida sem carro. Elas também têm impacto positivo", conclui Nicholas.



quinta-feira, 13 de julho de 2017

Jornal destaca MMA da igreja Renascer na periferia de SP


A matéria foi publicada no Estadão em 10/07/17:

Pancadaria e orações entre os lutadores de Deus

Igreja Renascer em Cristo de São Mateus tem time de artes marciais cujo treinador também é pastor

Gonçalo Junior

Os 70 fiéis que acompanham o culto das oito na igreja Renascer em Cristo de São Mateus não estranham a pancadaria que rola no andar de cima do prédio. O pastor Jefferson Paiva não interrompe sequer as orações. Às segundas e às quartas-feiras, virou rotina a boa convivência entre os cultos no térreo e as aulas de MMA, oferecidas pela própria igreja, no primeiro andar. A Renascer tem até uma equipe de artes marciais mistas, chamada Reborn Team.

Luta e oração se misturam em alguns momentos. O pastor e treinador Roberto Pedroso interrompe a sequência de chutes e socos para pregar. Isso acontece no início, no meio e no fim dos treinos.

Mesmo esbaforido e pingando suor, Walker Araújo Mendes, aluno há quatro meses, fecha os olhos e ouve o pastor falar que todos enfrentam diversas lutas, mas uma delas é a mais importante: ter uma vida espiritual bem treinada. Que é preciso exercício para ficar longe da maldade e que cada um precisa vencer também dentro do seu octógono espiritual. Todos respondem “Glória a Deus” e a porrada volta. “Pastor, eu tenho de chutar quantas vezes?”, pergunta Angel Hayashida, de 17 anos apenas, apontando para o protetor que a companheira segura com dentes cerrados.




“Todo esporte combina com a igreja. Alguns gostam de futebol. Nós gostamos de luta. Quando tem luva, é esporte. Quando não tem luva, é violência”, diz Pedroso, mais conhecido como pastor Giraia. “Unimos a disciplina da arte marcial e a verdade da palavra de Deus”.

Quem tem mais de 30 anos sabe de onde vem o apelido Giraia. Para os mais jovens, Jiraiya – essa é a grafia oriental – foi o um seriado japonês de TV dos anos 1990. É da família do Jaspion. Como Roberto tinha cabelos longos e seus olhos são meio puxados, o apelido pegou.

Foi ele que ampliou a prática da luta na Renascer a partir de 2009, quando surgiu uma equipe para disputar torneios dentro e fora da igreja. O time é abençoado. O grupo fez crescer a ideia inicial de oferecer uma atividade esportiva para atrair mais jovens e hoje conta com atletas de todas as idades. Em oito anos, mais de seis mil pessoas já passaram por ali. O MMA começou na Vila Industrial, zona leste, chegou a São Mateus e hoje está em dezenas de unidades da terceira maior igreja neopentecostal do Brasil.

Fundada em 1986 por Estevam Hernandes e Sônia Hernandes, a Renascer possui cerca de 600 templos, mas não divulga o número dos fiéis seguidores.

Tirando as orações e a proibição de palavrões, o treino é idêntico ao de uma academia tradicional. Puxado. Tem condicionamento físico, trabalho técnico e muscular. Na primeira aula, quase todos perguntam se é preciso frequentar a igreja. Não é. O espaço recebe amadores, gente que quer aprender a lutar, emagrecer ou melhorar o condicionamento, e também oito profissionais, aqueles que vivem do esporte. Ou deveriam viver.


Zé Reborn é o cara...

Zé Reborn é o principal lutador do ‘time de Deus’. Ele já atuou no Jungle Fight, grande competição brasileira de MMA, mas precisa de um patrocínio para se dedicar só aos treinos. Juntando vários torneios, soma 31 lutas com dez derrotas e hoje atua na categoria até 57 kg. “Eu queria me dedicar só aos treinos. Mas tenho de sustentar meus filhos. Sem patrocínio, não dá”, diz o alagoano de 29 anos que se chama, na verdade, José Alexandre e trabalha na área de limpeza de condomínios. “Chamar só Zé não tem graça para um lutador, né? Zé Reborn traz o nome da igreja e é mais chamativo”.



quarta-feira, 12 de julho de 2017

Jogador do Bahia enfrenta preconceito ao se declarar adepto do candomblé


Segunda-feira passada, comentamos aqui sobre a iniciativa do novo técnico do Santos F. C., Levir Culpi, em barrar as manifestações religiosas dentro de campo, que - a seu ver - estavam prejudicando o bom desempenho do time.

Agora é a vez de Feijão, volante do E. C. Bahia de Salvador (BA), ser perseguido nas redes sociais por não esconder sua condição de seguidor do candomblé.

A matéria é da ESPN Brasil:

Adepto do candomblé, volante do Bahia sofre preconceito e rebate: 'Tenho muito orgulho e espero que respeitem'

Marcus Alves

Um dos xodós da torcida, o volante Feijão, do Bahia, sofreu preconceito por causa de sua religião.

Adepto do candomblé, o prata da casa de 23 anos foi criticado nas redes sociais após publicar foto recente e fazer referência ao orixá Ogum. Uma das principais lideranças dentro do vestiário tricolor, ele retrucou ao ser chamado de “macumbeiro” por um usuário e pediu respeito. Os crimes resultantes de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional preveem reclusão de um a três anos e multa.

A princípio, o atleta não pretende levar o caso adiante.

Procurado pelo ESPN.com.br, ele se manifestou sobre o assunto.

“O cara confundiu as coisas, confundem muito religião com futebol. Nada contra nenhuma religião. Respeito todas as religiões. Espero que respeitem a minha. Sou candomblé, tenho muito orgulho. Tem várias outras pessoas também do candomblé. Agora, espero que tenha coragem de chegar e falar na minha frente. Falar em rede social é muito fácil”, afirmou, através da assessoria de imprensa do clube.

“Querem fazer tumulto, principalmente, comigo, que sou prata da casa, um dos líderes do grupo. Reagi normalmente. Vida que segue. É tranquilidade”, completou.

Entre as religiões, o candomblé e umbanda - colocadas na mesma categoria em censo realizado pelo IBGE em 2010 - estão na quarta posição entre as mais populares da Bahia, atrás da católica, da evangélica e da espírita.

O Rio Grande do Sul é o Estado que reúne o maior número de seguidores da religião brasileira de matriz africana.

“Que diabo de Ogum, por isso que não vai pra frente”, escreveu o suposto torcedor para Feijão, em sua conta no Instagram.

“Ô (sic) seu macumbeiro não venha pra cá tirar sua onda não que eu não como regue (sic) de você sua carniça. Saia do Bahia miséria (sic)”, prosseguiu, após réplica inicial do volante.

“Sou macumbeiro não tenho vergonha não pai quem é você para min (sic) manda embora do bahia também não tenho medo de você não pai vamos si (sic) bater em salvador um dia!”, respondeu o jogador do Bahia.

Em pesquisa realizada pelo jornal Correio* em 2015, nenhum jogador da dupla Ba-Vi se declarou adepto do candomblé na ocasião.

O resultado provocou estranheza porque, especialmente nos anos 80, os dois estiveram representados por Lourinho, torcedor símbolo do Bahia famoso por fazer despachos que teriam ‘amarrado’ adversários na campanha do título de 1988, e Carcaça, massagista do Vitória.

O Bahia volta a campo contra o Fluminense, no próximo domingo, às 16h (de Brasília), na Arena Fonte Nova, em Salvador.



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