quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Arte cristã de Bernini sobreviveria aos "cristãos" brasileiros de 2017?


A "crentaiada" pudica que se associa ao que há de pior no fascismo brasileiro é uma ameaça a todas as liberdades civis que a humanidade conquistou - a duras penas - nos últimos séculos.

A indecência não está na mostra de arte X ou Y que afronta este ou aquele símbolo cristão. Vai lá quem quer, já sabendo de antemão se vai se ofender ou não.

Eu jamais entraria numa exposição (seja do que for) que ofende meu sistema de crenças ou simplesmente o meu - acho eu - bom gosto, mas nem por isso vou tentar impedir que quem quer que seja exiba ou queira apreciar aquilo que eles chamam de "arte". Ou uma dobradinha. É um problema deles, simples assim. 

Eu prefiro poupar meu precioso tempo e meu suado dinheirinho, se é que me entende...

Não por acaso, antes da 2ª guerra e mesmo durante o conflito, Hitler fazia questão de rodar pela Alemanha com a sua mostra de "arte degenerada", segundo os seus dizeres.

Aquilo que hoje consideramos "arte moderna" é o que Hitler, fanzoca da arte clássica greco-romana e renascentista, chamava de "arte degenerada", mas - incrível para os padrões fascistas atuais - Hitler promovia um tour de deboche pela Alemanha mostrando o que era aceitável ou não do ponto de vista nazista no quesito "arte".

Nem isso os boçais radicais brasileiros são capazes de fazer.

Os "compenetrados" Himmler, Goebbels e - ali na frente - Hitler observam a "arte degenerada" em Munique, 1937.
Nossos censores militontos decidem o que é ruim e fazem campanha para exterminá-lo. 

Hoje, o gosto artístico de Hitler é lembrado apenas para ridicularizá-lo.

Entretanto, perceba o contraponto: Hitler aproveitava o que chamava de "arte degenerada" - principalmente o moderno expressionismo - para contrapô-la ao seu ideal "artístico" e promover sua política da eugenia, ou seja, o extermínio de tudo e todos que fogem à "normalidade" genética ou cultural da estética nazista.

Tudo termina, para o fascista, em extermínio...

O expressionismo foi o grande inimigo da "estética nazista"
Sim... "estética" nazista. É incrível como os fascistas de ontem e de hoje continuam preocupados com a "beleza", mas na verdade há outro nome para isso, bem nu e cru: fetiche!

Seguindo seu profeta mal humorado de um tal Movimento Brasil Livre, de "Kinta Katiguria", os "cristãos" brasileiros se esquecem do conselho bíblico de que "o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe" (Efésios 5:12) e se põem a divulgar o que dizem condenar, atuando mais como promotores do que censores da libido alheia.

E, para tanto, se valem do discurso pornográfico, tão afeto ao fanatismo, conforme já tivemos oportunidade de comentar aqui no blog.

Se realmente lessem a Bíblia, não divulgariam nem se importariam com essas coisas, mas não: -  é preciso militar, proibir, divulgar e coibir.

Isso, sim, tem nome: fetiche!

Os que se dizem cristãos se esquecem - convenientemente - de que Jesus veio ao mundo em carne e osso num período em que orgias de todos os tipos eram patrocinadas pelos palácios imperiais e nem por isso Ele deixou de colocar seus sacrossantos e ensanguentados pés empoeirados nas mansões de Herodes e Pilatos, para - sobretudo e sobre todos - pregar o evangelho que transformou o mundo.

Fico imaginando o que os que se dizem "cristãos" atualmente diriam quando o gênio do barroco italiano Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), responsável "só" pelo conjunto arquitetônico da Praça e da Basílica de São Pedro, no Vaticano, entre tantas outras obras, quisesse exibir seus monumentos "O Êxtase de Santa Teresa" e o tumular "Beata Ludovica Albertoni", só para citar dois deles.

Indubitavelmente, Bernini seria apedrejado na Praça da Sé de São Paulo em 2017 como tarado.

Confira você mesmo, prezado fascista com mente poluída, o que há de errado, primeiro com a "Beata Ludovica Albertoni":


Esse olhar perdido e lânguido da beata, meu Pai do Céu, como é que pode?


E depois, se os seus olhos ainda puderem ver tamanha afronta à sua "fé", horrorize-se com "O Êxtase de Santa Teresa":


Esse "êxtase", esse anjo com cara de safado, essa flecha, sei não...


Que horror, oh, que horror...

Mas, poxa, Bernini, e esse "Rapto de Prosepina" que fica na Galleria Borghese de Roma?



E a Santa Bibiana com seus raios dourados na igreja que lhe é dedicada em Roma, hein, Bernini?



Ah, Bernini, seu tarado! Como ousas ofender nossos sacrossantos olhos castos?

Ai, minha Santa Rita do Passa Quatro, dá um "passa moleque!" nesse tarado que só pensa naquilo...

E, por gentileza, mal humorados de plantão, nos poupem dos seus comentários supostamente indignados.

Aos "cristãos" que queiram discutir a questão de maneira mais apaixonada e aprofundadamente teológica, recomendamos o excelente ensaio crítico de Mario Persona, no seu blog "O que respondi?", intitulado "Devo protestar contra a exposição de arte LGBT?".

E não se esqueçam de atirar a primeira pedra, ok?!



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