quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Celebrando os 500 anos da Reforma com Lutero - parte 5

Gravura imagina como teria sido o casamento de Martinho Lutero com Katharina von Bora em 1525.

O CASAMENTO

Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua esposa. 
(Gênesis 2:24)

Cristo e Paulo aplicam isso também como regra geral a nossos casamentos depois que se perdeu a inocência. Por isso, se Adão tivesse permanecido na inocência, os filhos também teriam se casado e então, depois de abandonarem a mesa e a coabitação dos pais, teriam tido suas próprias árvores, sob as quais teriam vivido separados dos pais. Às vezes, teriam vindo até seu pai Adão, cantado um hino, louvado a Deus e, depois, voltado para suas casas. Agora, depois do pecado, embora tenha havido mudanças em outros sentidos, permanece esse vínculo estreito entre os cônjuges, de modo que o homem abandona o pai e a mãe antes da esposa. Mas quando acontece de forma diferente, quando, por exemplo, cônjuges se abandonam mutuamente, isso não só contraria este mandamento, mas também é sinal de uma horrorosa degeneração, que sobreveio aos seres humanos por causa do pecado e é incrementada por Satanás, o pai de todas as discórdias.

Também os pagãos viram que nada era mais conveniente e útil do que este costume dos cônjuges. Por isso, dizem que se concluiu, segundo a lei natural, que a esposa é necessária e deve manter a relação inseparável até a morte. Cristo também diz que Moisés concedeu o divórcio por causa da dureza do coração dos judeus, mas que não foi assim desde o começo. Essas dificuldades surgiram posteriormente através do pecado, como adultérios, envenenamentos etc., que acontecem, algumas vezes, entre cônjuges. Por isso, não se conservou nem a milésima parte daquela primeira instituição. No entanto, por causa da prole, marido e mulher continuam tendo seu próprio ninho até hoje, de acordo com esta afirmação [bíblica] pela qual este modo de vida é ordenado gloriosa e esplendidamente pelo primeiro Pai, sim, por Deus mesmo, como declara Cristo.

Além disso, “deixar” não deve ser entendido como se os filhos casados não tivessem absolutamente visitado seus pais. O fato de os filhos casados terem seu próprio ninho só se refere à coabitação. Entre os incômodos do pecado também está, hoje, que os filhos são obrigados a sustentar os pais debilitados pela velhice e em necessidade. No paraíso, porém, nossa condição teria sido diferente e melhor, mas, mesmo assim, teria sido preservado o [que preceitua a ordem original]: que, por amor à esposa, o marido teria escolhido seu próprio pequeno ninho e abandonado a coabitação dos pais, como costumam fazer as avezinhas.

Esta é uma afirmação profética. Pois [, na época,] ainda não existiam nem pais, nem mães, nem filhos; no entanto, Adão profetiza, através do Espírito Santo, dessa maneira sobre a vida dos cônjuges, sobre sua própria casa, sobre a divisão do domínio no mundo todo, de modo que cada família haveria de ter [um espaço] como se fosse seu próprio pequeno ninho.

(LUTERO, Martinho. Textos Selecionados da Preleção sobre Gênesis. MARTINHO LUTERO, Obras Selecionadas. 1535-1545. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia. Canoas: Ulbra, 2014, vol. 12, tradução de Geraldo Korndörfer, págs. 164-165)



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