terça-feira, 31 de dezembro de 2013

10 antigas tradições de Ano Novo


Chega ao fim o ano de 2013, ano de conquistas e derrotas, alegrias e tristezas, umas mais, outras menos, como acontece com todos os seres humanos do planeta.

Vem aí 2014! Novos planos e antigas esperanças o aguardam, e por isso cada um de nós tem uma maneira de dar-lhe as boas vindas, embora a maneira como isso ocorre esteja padronizada mundo afora, com algumas pequenas diferenças rituais e culturais.

Hoje é um dia propício, portanto, para relembrar como antigas civilizações comemoravam o Ano Novo segundo seus costumes ancestrais.

O portal Listverse cita 10 dessas antigas tradições:

O deus babilônico
Marduque
1 - AKITU BABILÔNICO

Na antiga Babilônia, a chegada do Ano Novo era comemorada com dois eventos que ocorriam na entrada de cada semestre do calendário sumério, quando se celebrava o festival Akitu, em honra do deus supremo de sua religião, Marduque.

Akitu, em antigo sumério, significava literalmente "corte da cevada", ou "semeadura da cevada", conforme o início do semestre correspondente às etapas do seu cultivo.

Conforme você percebe, o povão bebe cerveja desde priscas eras, e a festa popular em torno do Akitu durava duas semanas.

Ao rei cabia um papel mais cerimonial, indo ao templo de Nabu onde recebia dos sacerdotes um cetro real com o qual participava de vários rituais, sendo o mais importante aquele que representava a Criação segundo as tradições religiosas sumérias.

2 - FESTIVAL EGÍPCIO DA BEBEDEIRA

De novo, o álcool. Muitos beberrões atuais se identificariam com essa festa, não é mesmo?

Na antiga mitologia egípcia, o deus-com-cabeça-de-leão Sekhmet havia decidido destruir a humanidade, no que foi impedido pelo deus-sol Rá, que lhe fez beber uma quantidade gigantesca de uma cerveja de cor vermelha, como se fosse sangue humano.

Com essa bizarra inspiração, cada Ano Novo egípcio era comemorado com uma bebedeira coletiva, em que o povo agradecia a Rá pelo estratagema utilizado para o proteger de Sekhmet.

Não era um porre, digamos, "leve". Tratava-se praticamente de um coma alcoólico, já que quando mais se bebesse, mais o indivíduo, a nação e a humanidade seriam salvos da extinção decretada por Sekhmet.

Alguns poucos egípcios permaneciam sóbrios para, no dia seguinte, acudirem e acordarem os bêbados que jaziam pelas casas, ruas e praças das cidades.

3 - NORUZ DA PÉRSIA

"Noruz" (نوروز em farsi, significando literalmente "Novo Dia") é a festa de Ano Novo da antiga Pérsia, que vem sendo comemorada há milênios, e há quem diga que em 2013 foi comemorado o 5774º Noruz da História.

Perceba que, não por acaso, o calendário judaico, contado a partir da Criação, também está no ano 5774.

O Ano Novo persa ocorre no dia 21 de março, ou na data do equinócio da primavera do hemisfério Norte, que é em torno desse dia, e se tornou uma festa muito ligada ao zoroastrismo e à fé Bahá'í.

A celebração dura 13 dias, durante os quais a primavera recomeça a cobrir a terra com vegetação e flores, simbolizando um renascimento.

Até hoje, o Noruz é muito celebrado mundo afora, especialmente no Irã, onde vive boa parte dos seguidores das religiões que o festejam.

4 - FESTA DA CIRCUNCISÃO

A festa da circuncisão era uma tradição da Igreja cristã primitiva, uma espécie de continuação do Natal.

Como a lei judaica mandava circuncidar os meninos ao oitavo dia do nascimento, quando começou a tradição de se comemorar o Natal em 25 de dezembro, em seguida veio a ideia de se celebrar o dia da circuncisão do menino Jesus.

Por isso mesmo, o dia 1º de janeiro, instituído como início do Ano Novo por Júlio César em seu calendário juliano de 46 a. C., passou a ser coincidente com a festa da circuncisão, que ainda é celebrada em comunidades ortodoxas orientais, luteranas e anglicanas ao redor do mundo.

A tradição foi se perdendo na igreja católica até que, em 1974, o papa Paulo VI decretou o dia 1º de janeiro como o "Dia Mundial da Paz".

5 - HOGMANAY DA ESCÓCIA

Hogmanay é uma antiga tradição escocesa de se celebrar com fogueiras o último dia do ano e a virada para o ano seguinte.

O registro mais antigo da festa é de 1604, mas há quem diga que o Hogmanay remonta às eras pagãs da Escócia, antes do advento do cristianismo em terras britânicas.

O fogo é o grande personagem do evento, sendo conduzido em tochas e bolas pelas ruas, simbolizando o retorno do Sol, e continua a ser comemorada na Escócia.

6 - FESTA ROMANA DE JANO

Jano (ou Janus), era o deus romano de duas caras, associado às transições da vida, entre passado e futuro.

Como o próprio nome indica, o nome "janeiro" para o primeiro mês do ano deriva da palavra "Jano".

Não por acaso, portanto, o primeiro dia de janeiro era dedicado ao deus Jano.

Os antigos romanos acreditavam que tudo o que se semeava naquele dia duraria o ano todo.

Por isso mesmo, era um costume deles dar presentes e comida, abster-se de ações e pensamentos maus, e ser cordial uns para com os outros.

7 - CRIOS E IASION DA GRÉCIA

Crios e Iasion eram associados à chegada do Ano Novo na antiga Grécia.

Crios era um dos doze titãs clássicos da mitologia grega, vinculado à constelação de Áries, a primeira que aparecia no céu quando começava a primavera, o que remetia o imaginário popular à entrada em uma nova estação.

Iasion era um semideus, filho de Zeus com uma de suas muitas amantes. Iasion era amante também de Deméter, a deusa grega da agricultura e das estações do ano.

A depravação dos deuses gregos era tanta que Deméter teve uma filha com seu irmão Zeus: Perséfone. 

Isso explica porque Zeus teria matado Iasion, fazendo com que o povo passasse a celebrar a tragédia romântica de Iasion e Deméter na chegada da primavera.

8 - A LENDA CHINESA DE NIAN

Todas as grandes cidades do mundo onde há uma comunidade chinesa relevante sabem o que é celebrar o Ano Novo chinês, que segue seu calendário próprio.

Trata-se de uma festa onde a cor vermelha predomina e se celebra a lenda de Nian, que seria um monstro submarino que, todo dia de Ano Novo, vinha ao continente para devorar pessoas e animais.

Os antigos chineses então se refugiavam nas montanhas, onde esperavam estar a salvo de Nian, que em chinês significa "Ano".

Um dia, entretanto, um velhinho de barbas apareceu numa vila na noite de Ano Novo, pedindo comida e abrigo, e só uma viúva também já idosa o acolheu em meio ao caos.

Em retribuição ao gesto caridoso da viúva, o velhinho prometeu que Nian jamais voltaria e decorou a vila toda com velas e lanternas vermelhas, preparando ainda fogos de artifício para "recepcionar" o monstro quando ele aparecesse.

Todo aquele rebuliço de cores, luzes e sons fizeram com que o monstro se assustasse e sumisse, mas a tradição deveria ser repetida a cada virada de ano.

9 - NEMONTEMI E QUAHUITLEHUA DOS AZTECAS

Os antigos aztecas, povo aborígene do território onde hoje está o México, tinham duas datas específicas para marcar o último e o primeiro dia do ano.

Havia um intervalo de 5 dias entre o último e o primeiro dia do ano. Esse interstício se chamava Nemontemi, e correspondia a um período considerado peculiarmente azarado e perigoso, já que os maus espíritos varriam a terra buscando a quem tragar.

Os aztecas então se recolhiam a suas habitações, fazendo o máximo de silêncio para não atrair as assombrações.

Findo o Nemontemi, começava o primeiro mês do ano para os aztecas, chamado de Quahuitlehua, que correspondia ao final da estação seca e ao início do plantio das novas culturas.

Aí começava também um ritual bárbaro. Para assegurar o favor dos deuses da chuva, que regaria suas plantações, os aztecas sacrificavam crianças por afogamento, dentro do ritual a que chamavam Atlchualco, ou "compra da água".

Ainda bem que certos costumes foram extintos.

10 - DIA DA SENHORA NA INGLATERRA

Até 1752, o dia 25 de março marcava o início do Ano Novo na Grã-Bretanha, com exceção da Escócia, que tinha a sua própria tradição das fogueiras, acima descrita.

Também conhecido como o "Dia da Anunciação", o Dia da Senhora ("Lady Day") tinha inspiração cristã e marcava o dia em que o arcanjo Gabriel visitara Maria para avisá-la do nascimento de Jesus Cristo, exatos 9 meses depois, no Natal.

A tradição se alargou tanto que o dia passou a marcar também o "aniversário" da expulsão de Adão e Eva do paraíso, do assassinato de Abel por Caim, do "sacrifício" de Isaque por Abraão, da decapitação de João Batista e Tiago e da libertação de Pedro da prisão.

A superstição era tal envolvendo o "Lady Day" que alguns "profetas do fim-do-mundo" do século X predisseram que o mundo acabaria na data em que o Dia da Senhora coincidisse com a Sexta-Feira Santa, o que veio a acontecer no ano 970, mas o mundo continua de pé desde então.

Até hoje, 31 de dezembro de 2013. Feliz 2014!



segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Jogador uruguaio paga promessa cavalgando 170 km por classificação à Copa 2014

Vem cá, vamos combinar: quem pagou a promessa foi o cavalo, né não?

A notícia foi publicada no Terra:

Jogador do Uruguai cavalga 170 km e paga promessa por vaga na Copa

O meia Cristian Rodríguez cavalgou nesta sexta-feira 170 km para deixar uma camisa do Uruguai e uma chupeta de sua filha recém-nascida na capela de San Cono e cumprir, assim, uma promessa que havia feito pela classificação de sua seleção à Copa do Mundo de 2014.

"Não tenho autorização da minha equipe (Atlético de Madrid) para andar a cavalo, mas tinha que cumprir a promessa", afirmou o jogador em entrevista à emissora uruguaia Canal 10.

Rodríguez, que tem paixão pelos cavalos e tem vários em sua propriedade rural no departamento de Colônia, começou a cavalgada em sua cidade natal, Juan Lacaze, e foi até Flórida, completando um percurso total de 170 km. Acompanhado por mais de 20 amigos, o jogador teve que fazer paradas a cada 30 km para descansar devido ao forte calor - a temperatura chegou a passar de 35° C

O meia disse que fez a promessa quando as chances de classificação do Uruguai nas Eliminatórias Sul-Americanas estavam seriamente ameaçadas e a possibilidade de chegar à Copa parecia distante.

"Prometi trazer a San Cono uma camisa do Uruguai e a chupeta da minha filha recém-nascida e acabo de cumprir a promessa", acrescentou o jogador na capela, enquanto era saudado efusivamente por outros devotos do santo. "Se o Uruguai for campeão do mundo, virei a cavalo do Brasil até San Cono", afirmou. v A cidade de Flórida, onde fica a capela de San Cono, está a 400 km da fronteira com o Brasil e a 2.528 km de Belo Horizonte, onde o Uruguai montará seu "quartel-general" durante a primeira fase da Copa do Mundo.

De repente, o cavalo de Cristián Rodríguez se tornou o maior torcedor contra um novo Maracanazo.
É que seu dono prometeu cavalgar do Rio de Janeiro a San Cono se o Uruguai ganhar a Copa 2014.
São só 2.400 km de distância. Nem a pau, Juvenal!




domingo, 29 de dezembro de 2013

Natal em família de juristas


Toda pessoa que tem uma família de juristas (aí compreendidos advogados, promotores, juízes, professores de Direito, etc.) conhece bem a dificuldade que é suportar uma festa familiar com aquele bando de juridiquês sendo falado de mesa em mesa entre uma e outra coxa de peru (ou coxinha) sendo atacada a dentadas.

O artigo abaixo, do Procurador de Justiça gaúcho Lenio Luiz Streck, conseguiu captar a agrura que é, mesmo para um jurista de bom coração, participar dessas reuniões familiares estendidas e entediantes.

O relato é longo e divertidíssimo, embora os assim chamados "profissionais do Direito" sejam os destinatários naturais do texto (e os leitores que o entenderão melhor), e foi publicado no ConJur:

16 facadas e morreu envenenada? O Natal e a prova da OAB

Por Lenio Luiz Streck


Natal é época em que se reúnem parentes chatos e não chatos, advogados e não advogados, juízes e não juízes, promotores e não promotores, estudantes de qualquer coisa e o sobrinho que está fazendo a “escola” (que deve ser a dos juízes, do MP, da OAB ou algo assim, mas ele diz, com a boca cheia de panetone: “a escola”).

É tempo de discussões. O parente juiz conta como mandou o advogado se calar na audiência do dia anterior. Já o juiz dos juizados especiais relata como o juiz leigo coloca a malta em um corredor polonês. E acha engraçado. Todos riem. Menos um tio, que, lá do fundo, pragueja, dizendo que teve que ir no “foro” só para ouvir a Companhia Telefônica, que lhe passou a perna, dizer que não fazia acordo. Antes disso, teve que ouvir o meirinho gritar: “Quem quer fazer acordo, fique à minha direita; quem não quer, à minha esquerda”. Aliás, desconfio de que a cultura da conciliação termina sendo, para as concessionárias de serviços públicos e as grandes corporações, a obliteração da prévia efetivação de direitos coletivos. Paradoxalmente, os maiores violadores são, também, os maiores conciliadores... Bingo! Eis o paradoxo!

O parente promotor de justiça conta que, quando não vai à audiência, o juiz “faz tudo por ele”. Há casos em que “nem pedi a condenação e o juiz assim mesmo tascou uma pena dura no meliante”. Quieto em meu canto, pergunto-me: Será que um juiz que age assim faz tudo pela Constituição? Ou melhor dizendo, o que ele faz da Constituição? A velha tia diz: “ meu filho, esse juiz é dos bons, não? Tem de dar duro nessa gente”. E o velho tio, já na terceira dose, pergunta: “mas você concorda com isso? Quem é o promotor? Você ou o juiz?”. E o sobrinho promotor responde: “meu tio, tem uma coisa que você não conhece, chamada verdade real... Com ela, tudo se resolve”. E assim a conversa vai fluindo, na véspera da comemoração da chegada do Papai Noel. Deixei de acreditar em Papai Noel aos sete anos. Mas tem muito adulto por aí ainda acreditando na “verdade real”. Mas se a fantástica história de Papai Noel culmina em inocentes presentes, a única verdade da “verdade real” está nos abusos que causa ao Estado Democrático de Direito.

Outro advogado da família fala das agruras do processo eletrônico. Não se sabe se o processo foi enviado “via sistema”. Em tempos de Natal, imagino a virtualização como o rebento que nasceu para ser uma espécie de Messias da prática forense —o salvador de um Judiciário que não dá conta da demanda — mas que nunca chega. Pelo contrário, o “sistema” não avisa. Tem de pegar o carro e ir ao tribunal para verificar. Assim, o sistema é virtual, mas as dificuldades continuam bem reais... Realíssimas. O CNJ legisla. Para além do CPC. Para além da CLT. Para além da Constituição. Pelo desespero, parece ser o único sujeito sensato da festa.

E a conversa muda de rumo. Acabara de chegar a sobrinha gordinha, que chumbou em concurso para defensoria pública em Estado vizinho. Ficou por uma questão, que indagava se se transformar, por intermédio de operação plástica, em lagarto, com dinheiro do SUS, era um direito fundamental... Coitada. Respondeu que não. Perdeu! Cansada, traz uma sacola cheia de livros. Chega a estar com um ombro mais baixo que o outro. Mesmo na noite de Natal, diz que continuará a estudar, porque está inscrita para o concurso da AGU, MPU, TCU, CGU... Ela até já fez o cursinho de um professor (fácil de achar no Youtube) que ensina como se deve estudar direito para concursos. Começa confessando que chumbou em 20 concursos. E só depois passou. Hum, hum. Na verdade, com tantos concursos chumbados, deve ter passado por usucapião... Mas, enfim, lá vem a gordinha. Coloca em uma mesinha o seu material de batalha: manuais, manuaizinhos, resumos, resumões, resumos plastificados, direitos facilitados, simplificados e a grande inovação: direito em rimas... Ela acabou de comprar. Sim, direito ri-ma-dôo! Direito penal é lê-e-gal. Penso, rimando: afinal, qual é o busílis de terrae brasilis? Tem chance de dar certo? Muita flambagem. Como o personagem estudante de chinês do livro Reprodução, de Bernardo Carvalho, ela, a sobrinha, fala sobre o direito por intermédio de drops, siglas, palavras-chaves. Não há espaço para a reflexão. Só flexão. Ajoelhar-se diante dos pretensos doutrina-dores, que não fazem mais do repetir lugares comuns e chavões, tudo com a profundidade dos calcares de uma formiga anã. Ela parece um ser de outro mundo. Incrível: os concurseiros criaram uma novilíngua. Como em 1984, do G. Orwell. Ela lê o mundo por intermédio desse material. Some-se a isso os blogs, como o do concurseiro solitário (sic), com dicas “valiosas”, como a de não ler grandes doutrinas e se dedicar às apostilas, além de material do “ponto de concursos” (que deve ser sei-lá-o-que-de-concursos). Tem também os blogs com música de concurseiro, para decorar o Direito. E, para não esquecer, repito: tem também agora o direito rimado. Penso comigo: o mundo vai acabar. Sem chance. Meu bunker está pronto. Só falta cavar o fosso e colocar os jacarés. E vou estocar comida.

Um pouco atrasado, chega outro convidado, um magistrado de tribunal de segunda instância. Diz-se um pragmático. Não gosta de ler. Diz que “Direito é bom senso” (o dele, é claro). Só faltou dizer o clássico chavão do solipsista: o de que “sentença vem de sentire”. E eu, o que sinto? Sinto muito, Constituição... Para ele, qualquer coisa que ultrapasse cinco linhas é filigrana e firula. É idealizador do projeto sentença 60 linhas ou algo desse quilate (incluindo a assinatura, é claro). Seu sonho é dar sentenças via Twitter, intimando da mesma forma ou pelo Facebook. Idolatra Richard Posner, o rei dos pragmatistas. Posner é um Deus, ele diz, mascando três nozes ao mesmo tempo e golejando um espumante (já) com pouca perlaje. Claro, não conhece o Posner envergonhado do The crisis of capitalist democracy — no qual reconheceu (depois do fiasco de 2008) suas falhas em imaginar um mercado autorregulável — e nem o abandono da maximização da riqueza como fundamento eficiente do Direito.

Junto com ele veio outro, da área cível. Julga causas de dano moral. Conta que julga as causas de acordo com a cara do “freguês”. Diz que apurou com o tempo o seu “sentirômetro” (sentença não vem de “sentire”?). O pragmático lhe dá um tapa nas costas, do tipo “esse é o cara”. “Ele bota o olho e já sabe...”. Fico pensando, cá com minhas pestanas: foi para isso que fizemos a Constituição? E, para homenagear (de novo) o direito rimado: qual será o busílis de terrae brasilis?

Também foi convidado um professor que dá aula em mestrado e doutorado. Publica dezenas de coletâneas de livros por ano. Tudo eletrônico, porque é a pós-modernidade. Custa R$ 10 a página. Os alunos é que pagam. Ele é o “cara das publicações”. Ninguém lê esses “livros”. Nem se sabe se o professor leu o que os alunos escreveram e ele colocou seu nome junto. Mas ele tem muitas publicações. Dezenas. Portanto, ele fala “de cadeira”. Desde logo, alia-se na discussão entabulada pelo magistrado pragmatista sobre a efetividade da justiça. “A culpa da morosidade da Justiça é da falta de gestão. Falta pós-graduação em gestão”. Para ele, o juiz não é mais do que o gerente de uma sucursal judiciária. E já se juntam em um canto, para propor uma especialização em gestão. Eles adoram isso. Penso com meus botões: Esse papo está me dando é indigestão... Onde está meu vidro de Olina, aquele composto de ervas bem gaúcho? Enquanto isso, olho para o tio, aquele: já está roncando baixinho num canto da sala.

Há também o mais novo namorado da mais velha filha do dono da casa. O tipo é metido a filósofo. Na verdade, apresenta-se como sendo “o filósofo da família”. De fato, cursou dois ou três semestres da faculdade de Filosofia, mas, vá lá. Começa a falar em um bolinho de gente. Ele fala cuspindo restos de panetone. Em pouco tempo, fica-se sabendo que a filosofia de Heidegger é “nazista”, que Gadamer “não escreveu nada de útil sobre o Direito” e que Habermas “não é um filósofo”. Também, que, “na Alemanha, ninguém lê essa gente”. O sujeito tem uma unha enorme: “Não há como levar Dworkin a sério”, diz, também, misturando gravidade e um ar blasé em doses equilibradas. Hum, hum. Sei. Quem presta, então? Ah, ninguém que eu conheça, claro! Sua dica? “Que os juristas estudem... Direito.” E que deixemos a filosofia para quem manja do riscado, como... ele. Chega o garçom e salva a festa. Eu estava pronto para pegar-lhe pelo pescoço. Mais uma dose? Claro, claro...

Outro professor na festa. Escreveu até hoje um fonograma e um texto em um site jurídico. Não conhece os conceitos da filosofia no Direito e se mete “de pato a ganso”. Não consegue escrever duas frases sem citar um autor... americano. Para ele, o Brasil é ruim. Aqui nada se produz. Sofre da síndrome de caramuru. E do complexo de vira-lata. Junto com ele veio para a festa outro jurista... Também não gosta do Brasil. Quando alguém escreve algo, diz: “não é por aí...”. Mesmo que muitos nativos já tenham escrito sobre determinado assunto, ele faz um texto “grau zero”. De todo modo, eles não se enturmam na festa. Ficam sozinhos, se auto louvando. Traço comum dos dois e tantos desse jaez: sempre estudando e viajando às custas da Viúva.

Ah, também veio um estagiário, que trabalha em uma Câmara de Tribunal. Diz, de boca cheia: “na nossa Câmara, decidimos desse modo... e blá, blá, blá”. “Faço dez acórdãos por semana”, acrescenta, orgulhoso. “Somos uma Câmara dura em Direito Penal... Não adianta o advogado vir com muita churumela. Advogado que argumenta muito, enchendo linguiça com princípios, teorias etc., não tem argumento. Ou ele cita os clássicos ou nem lemos...” (os clássicos que ele cita vocês já imaginam). E o tio, que acabara de acordar, pergunta: “nossa Câmara? Nós quem cara pálida?” Ouço aquilo e ligo para o meu fornecedor de jacarés: vou dobrar o número de Melanosuchus niger do fosso do meu bunker. Melhor me prevenir. Com um bom estoque de comida. E discos do Frank Sinatra.

Quem está faltando na festa? O professor de universidade pública, presidente de banca de concurso no qual os membros externos se negaram a assinar a ata. Já na chegada, um sobrinho, estudante de Direito, dá-lhe de presente um livro de Raymundo Faoro, Os Donos do Poder. Começa um bate-boca. Os contendores são retirados para a biblioteca da casa,de mala e cuia. Ô noite de Natal agitada.

Logo depois chegou o primo em segundo grau do tio do dono da casa. Ele é professor de Direito (mais um; afinal, quem não é?). Ele é daquelas figuras que aparecem nos programas de TV com gel no cabelo e sapatos grandes, bicudos, com iPad na mão, ensinando “coisas geniais” como agressão atual é a que está a-com-te-cen-do. Também dá aula sobre a complexa matéria chamada “direito de vizinhança”. Mas também já falou em Direito Marítimo. Esse não era ele? Sei lá. Todos são tão parecidos... Sabe(m) tudo, ele(s). Professor Totalflex. É amigão do pragmatista. Odeia que se fale em teoria, porque, para ele, na prática a teoria é outra. Gênio(s) da raça. É autor e coautor de literatura fofinha, flambada, dúctil, simplificatio-facilitatio. Nem tem tempo para começar a falar, porque o peru já está sendo servido. Alvíssaras. Finalmente o peru.

Ainda no meio da ceia chegou um professor que fez parte da banca que elaborou a última prova da OAB. Logo foi indagado por um recém bacharel acerca da questão 11, que perquiria sobre o utilitarismo. Eu, escutando, fico meditando, entre um gole e outro de John[1] Daniels... Quem teria sido o gênio que fez essa pergunta? Antifundacionalismo? Que coisa mais “brega”, filosoficamente falando. O utilitarismo era antifundacionalista? Sim? E daí? Para a prova da OAB? Hum, hum. E a pergunta sobre o estupro (59)? Bráulio (que nome mais cri-a-ti-vo, não? Vejam no Google os “bons tempos do Bráulio” — ver aqui) encontra moça em show de rock. Pratica sexo com ela, de forma consentida. Depois se descobre que ela tinha 13 anos... Ai, ai, ai. Céus. Onde estão meus jacarés? Pego meu celular. “Alô? Mande-me mais seis, agora da espécie Crocodylus niloticus e mais seis da 'marca' Crocodylus acutus.” Melhor ainda foi a questão 63: Paula desfere 16 facadas no peito de Maria... Esta morre duas horas depois. E se descobre que foi por envenenamento, porque tinha tendências suicidas. Parem as máquinas! Rufem os tambores! Pausa para que eu me role de rir. Farfalhar. Tomo dois goles de Olina. Agora, ligo para o meu fornecedor de óleo quente. Sim, além dos jacarés e crocodilos, colocarei tinas de óleo fervente para me proteger contra a barbárie. Paro por aqui. É Natal, batem os sinos... E o réu não se ajuda.

Os presentes que Papai Noel trouxe

Ho! Ho! Ho! Chega Papai Noel, finalmente, com um saco de livros (reais e imaginários) para distribuir. Para o sobrinho juiz, dois livros: o Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht e o recém lançado, em alemão: Warum sollte Ich nicht autoritärsein (a versão em espanhol parece que é Las razones por las que no debo ser un déspota) do professor Fritz Selbstsüchtiger, da Universidade de Hinterden Hügeln). Para o promotor, dois livros: Como cumprir seu dever, de L. L. Sohannson e um sobre a verdade: As mentiras da verdade, de Llosa. Para o sobrinho que está fazendo a “Escola”, Machado de Assis (os contos A Teoria do Medalhão, no qual o pai Janjão ensina ao filho como se tornar um medalhão, exatamente porque o filho sofre de inópia mental e o conto Ideias de Canário).

Para o professor (o do concurso e da ata), dois livros: a Nau dos Insensatos e o recém lançado Why should not behave this way more, do professor Puller Ears, da University of Redneck, campus Behindthe Hills (lembremos que alguém já lhe dera o do Faoro). Para o professor de pós, os livros Como se Faz uma Tese (do Eco) e Publish or Perish, do professor holandês radicado nos EUA, Heeft Weinig, da University of Larceny, publicado pela PublisherBehindBackyard.

Para o advogado irritado com o processo eletrônico, vai minha solidariedade. Do Papai Noel ele recebeu o livro O Otimista, de Voltaire. Já para a sobrinha gordinha, além de Reprodução (B. Carvalho), o lançamento em alemão Warum sollte „Recht für Dummies“ nicht lesen (em português, a versão é Porque não devo ler “direito para ingênuos ou bobos”, publicada pela Editora Fondo di Casa). Para o magistrado de segundo grau (o do “bom senso” e pragmatista), o livro do Dworkin (A Justiça de Toga) em que ele assim qualifica Posner: "Um juiz preguiçoso, que escreve um livro antes do café-da-manhã, decide vários casos antes do meio-dia, passa a tarde dando aulas na Faculdade de Direito de Chicago e faz cirurgia do cérebro depois do jantar". Para o colega dele, aquele do “dano moral no olhômetro”, Santa Claus dá o livro O Idiota, de Dostoyevsky, com comentários do professor Nicht Nutzlos, da Faculdade de Scheizwald. E também um exemplar do livro O que é Isto – Decido Conforme Minha Consciência.

Para o sobrinho neo-proto-filósofo, Papai Noel dá o livro El Curioso Impertinente, de Cervantes. E outro, recém lançado, chamado Wie Philosophen kann langweilig sein, da Faculdade de Rammenschnitzel (a versão em espanhol é Cómo filósofos puedem ser aburridos, da Editora Fondo de la Casa, subsidiária da Editora Fondo di Casa). Também leva o livro Como Falar dos Livros que Não Lemos, de Pierre Bayard. Para a dupla que ficou em um canto (os que sofrem da síndrome de caramuru), Pai Natal dá dois livros: What is this - the academic silipsismo do professor Kleinnefuss Großen Nagel, radicado nos EUA (a versão em português é O que é isto – o solipsismo acadêmico, da Editora Fondo Di Casa (é italiana, recém instalada em Pindorama); e um em alemão: Wenn Sie aus dem Ausland kommen, ist es am besten (a versão espanhola parece que é assim: Se vem do estrangeiro, é melhor, da editora Burgo-Iuspostulandum, de Burgos, conveniada com a Editora Fondo de la Casa).

Para o professor dos cursinhos-que-dão-aulas-pela-TV-e-que-usam-sapatos-bicudos, o presente é a coleção completa das Seleções do Reader’s Digest, para aprimorar as piadinhas nas aulas e contar os “flagrantes da vida real”, uma seção especial dessa sofisticada revista. De lambuja, a coleção do Almanaque Biotonico Fontoura (se não sabe o que é, veja no Google — be a bá, be e bé, be e bi...o-to-ni-co Fontoura)! Eu adorava tomar o tal biotônico; mas minha tia Ana,[2] que pesava 120 kg, não deixava; ela dizia: nein, nein, mein Kleine, es sieht aus wie Pferdepisse; du must Emulsão Scott trinken — não, não, meu pequeno, isso parece urina de cavalo; tu deves tomar Emulsão Scott — que, registre-se, não tinha um gosto bom; o Biotônico é que era gostoso).

Aos demais que não estudaram o ano todo, que não sabem o que é (in)diferença ontológica e acreditam em ponderação (e a pregam) etc., por não terem se comportado, levarão um vale-presente do meu novo livro Os Alquimistas da Hermenêutica, no prelo (inspirado no mago Paul Rabbit). Não se comporte e Papai Noel, no próximo Natal, dar-lhe-á, além desta mesóclise, um kit (o livro mais uma vara de marmelo). Ah: o professor da prova da OAB recebe dois livros: Porque é feio fazer perguntas utilizando exemplos bizarros: uma releitura neoconstitucional(ista) e Porque Não Devo Fazer Perguntas Com Base em Resumos Plastificados, ambos escritos pelo catedrático Exnunco Abovo, da Editora Fondo Di Casa (que publica qualquer coisa a dez “real” a “foia”).

Pronto. Parece que Papai Noel fez uma boa distribuições de livros. Boas leituras. E Boas Festas para os meus leitores. Esta coluna já passou do 100. A propósito: Que livro você gostaria de ganhar? Comente aqui na ConJur e/ou no Facebook (Lenio Streck oficial). Está aberta a votação. Feliz Natal e Venturosíssimo Ano Novo a todos os leitores.




[1] Como no filme Perfume de Mulher, John é em face de minha amizade íntima com a família Jack Daniels, dos EUA profundos.

[2] Registro natalino: minha tia Ana é a mesma que tentava matar meu porquinho Bolão, cuja história já contei dia desses em uma coluna falando dos direitos dos animais. Ela era sogra de minha tia-madrinha Norma. Ou seja, a “norma” é algo que trago comigo de infância. Por isso é que “norma” só tem vontade quando diz “farei bolinhos de chuva para você, meu afilhado”. Lembram quando eu falo que “norma só tem vontade quando...”? E os juristas ainda falam em vontade da norma e do legislador...



sábado, 28 de dezembro de 2013

Ladrão denuncia pedófilo furtado por ele


O mais novo episódio do "bom ladrão" aconteceu na Espanha e O Globo noticiou em 19/12/13:

Ladrão encontra vídeos de pedofilia e denuncia crime na Espanha

Criminoso se chocou ao ver fitas de sexo com crianças numa câmera roubada e acionou a polícia

MADRI - O gesto inusitado de honestidade de um ladrão permitiu à polícia prender um suspeito de pedofilia na província de Jaén, na Andaluzia. O gatuno invadiu uma casa na capital da província e roubou uma câmera de vídeo e três fitas. Mas, ao ligar o aparelho, se assustou ao ver o dono da casa roubada tendo relações sexuais com crianças de cerca de 10 anos de idade. E não teve dúvidas: chamou a polícia.

O ladrão, cujo nome não foi revelado, acionou os policiais através de um telefone público e deixou debaixo de um carro na vizinhança um envelope com as fitas e o endereço do proprietário das fitas. “Eu tive a infelicidade de ter essas fitas nas minhas mãos e me sinto na obrigação de apresentá-las, deixando que vocês façam seu trabalho e possam prender essa pessoa.... pelo resto da vida”, escreveu o ladrão num bilhete anônimo deixado para os policiais.

Segundo o jornal “El País”, as investigações rapidamente levaram os agentes a identificar o autor das imagens, o local onde mora e o clube de futebol onde trabalha. O suspeito foi preso e enviado à cadeia.

Até agora foram identificadas quatro crianças vítimas de abuso e violência sexual, incluindo um menino de 16 anos que poderia ter sido violentado durante uma década. A tática do pedófilo era conquistar aos poucos a confiança dos menores no clube esportivo e convencê-los a ver filmes pornográficos. Posteriormente, segundo o inquérito policial, ele exortava as vítimas à masturbação e ao sexo forçado.

O curioso é que o detido havia dado queixa na polícia por roubo nove dias antes. Ele havia contado que entraram em sua casa pela janela e lhe roubaram vários aparelhos de pequeno porte. No entanto, ele não tinha incluído a câmera de vídeo e as fitas entre os artigos afanados pelo ladrão - e agora algoz.





sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Natal: a identidade perdida

Crônica de Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, no Terra:

Identidade perdida

Mudou o Natal. Já não é esperada com ansiedade a Missa do Galo, aquela realizada na noite de vinte e cinco de dezembro.

As famílias dirigiam-se piedosamente aos templos para assistir a cerimônia religiosa. Caminhavam com fé e ansiosas pela mesa farta que iriam encontrar no retorno aos lares.

Poucos, hoje, têm coragem de se apresentar nas ruas das grandes cidades brasileiras à meia noite. É tentativa de suicídio. No mínimo se sujeitará a um furto, quando não a um latrocínio.

As crianças – ponto essencial do Natal – já não se debruçam encantadas perante os presépios. A singeleza das pequenas figuras de terracota já não sensibilizam. Optam por um bom “game”.

É melancólico. Na internacionalização dos costumes, os valores autênticos de nosso passado foram superados. Venceram figuras estranhas. Alheias aos nossos antepassados.

Os meios de comunicação de massa produziram uma grande erosão nas tradições pátrias. As festas religiosas, na sua espontaneidade, foram substituídas por espetáculos de duvidosa qualidade.

Em resumo, “avacalharam” os bons e antigos hábitos do Natal brasileiro. Pode ser saudosismo. Talvez, seja. É preciso, contudo, apontar para a degradação do tempo presente.

Dirão ser as mudanças de costumes próprios das sociedades. Estas estão sempre em evolução. Esta, porém, deve ser para melhor. Não é certamente o que acontece com o Natal.

Tornou-se apenas um acontecimento comercial. A obrigação de presentear. A essência da comemoração foi inteiramente esquecida. Poucos se refugiam nos valores intrínsecos desta festa religiosa.

Retornou-se a velha Roma, nos tempos de Constantino, quando a Festa do Sol, comemorada pelo paganismo, por simbiose, converteu-se na Festa do Sol da Justiça, como se referia o profeta Malaquías ao nascimento do futuro Messias.

A vida contemporânea perdeu seus aspectos espirituais. Uns poucos conservam as práticas de seus ancestrais. A maioria – imensa maioria – encontra-se vocacionada para um materialismo sem causa.

É um materialismo sem qualquer especulação filosófica. É a mera transformação da pessoa em agente de consumo e da utilização do corpo para alcançar todas as formas de prazer.

Avança-se assim para o desenfreado consumo de drogas e bebidas alcoólicas. O corpo humano torna-se mero objeto de consumo. O bom é infringir todas as regras de comportamento.

Neste cenário, tudo se transforma em uma arena sem normas. Perderam-se os valores históricos. Foram transformados em simples hábitos de consumo.

É claro que os reflexos desta situação, na vida política do País, são inevitáveis. Os agentes públicos – com honrosas exceções – avançam sobre o erário sem qualquer escrúpulo.

Querem se locupletar. Ninguém mais pretende servir à comunidade. Os cargos públicos, antes lugar ocupado pelos homens de bem, agora, por vezes, neles se instalam malfeitores.

A situação preocupa. Não é só brasileira. Esta presente, em graus variados, em muitas sociedades. Aqui, pela perda da identidade comum, as coisas se agravam.

O Natal já não é mais o mesmo. Transformou-se em mero “shopping center” de consumidores paganizados.



Uma em cada 200 grávidas americanas é virgem


Hã?! Cuma?! Existem pais virgens também?! E por motivos religiosos?!

Não entendi... parem o mundo que eu quero descer!

Tente entender lendo a matéria abaixo do UOL:

Uma jovem em cada 200 fica grávida apesar de ser virgem, revela estudo

Uma jovem americana em cada 200 declara ter ficado grávida apesar de ainda ser virgem, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (17) no British Medical Journal (BMJ).

De um total de 7.870 mulheres que participaram de um estudo em nível nacional de longa duração (1995-2009) e confidencial, 45 delas, ou seja, 0,5%, afirmam ter concebido sem o menor contato sexual com penetração vaginal.

Nenhuma delas declarou ter recorrido a algum tipo de assistência médica para a procriação (inseminação artificial ou fecundação 'in vitro').

Quase um terço destas mulheres que afirmam ter ficado grávidas antes de sua estreia sexual fizeram voto de castidade antes do casamento (31%), algo muito comum entre os cristãos conservadores.

Os resultados se apoiam nas respostas a uma série de perguntas sobre o histórico de sua gravidez e o início de suas relações sexuais, embora as mulheres não tenham sido perguntadas diretamente se eram virgens no momento em que ficaram grávidas.

Apesar de todas as precauções tomadas pelos pesquisadores, não se descarta uma possível falta de compreensão das perguntas em alguns casos, admitem os autores do estudo.

Por sua vez, "há algumas semanas tentamos verificar se este fenômeno se limita apenas às mulheres", indicou Amy Herring (docente da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, Estados Unidos), líder deste trabalho.

"Também encontramos alguns pais 'virgens', algo que é ainda mais difícil de compreender", declarou com um sorriso.

Estes resultados trazem à tona algumas questões relativas à educação sexual, mas, sobretudo, à dificuldade para obter dados precisos sobre a vida sexual dos jovens, concluiu.



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Rainha Elizabeth perdoa Alan Turing, o fundador da computação moderna


Em 23 de junho de 2012, publicamos aqui no blog o artigo "Maçãs envenenadas", em que fizemos um resumo biográfico de Alan Turing, que - se vivo fosse - completaria 100 anos naquele dia.

Alan Turing, para quem não está familiarizado com o nome, é uma das pessoas, digamos, "anônimas" que mais contribuíram para o bem da humanidade no século XX.

Se você chegou até aqui navegando pela internet com toda a liberdade, isso se deve - em grande parte - a Alan Turing.

Primeiro, por ele ter ajudado a decifrar a criptografia nazista, o que foi decisivo na vitória aliada ao final da Segunda Guerra Mundial.

Segundo, por ter lançado as bases do que viria a ser a computação moderna.

Só que isto tudo foi feito debaixo do anonimato numa época em que o seu trabalho estava coberto pelo sigilo de Estado, e ele terminou se suicidando em 7 de junho de 1954, aos 41 anos de idade, após ter sido condenado por ser homossexual, que era crime na época e lhe rendeu uma castração química ordenada pela Justiça britânica.

Após uma grande campanha pela reabilitação do seu nome (penalmente falando), na véspera do último Natal a rainha Elizabeth finalmente emitiu o seu "perdão real" destinado a Alan Turing, o que, no Reino Unido, é algo raríssimo de acontecer.

O perdão majestático chegou tarde demais, mas os benefícios que ele trouxe para a humanidade, depois que foram finalmente conhecidos, já haviam se encarregado de reabilitar o seu nome perante todo o globo.

A matéria abaixo é do Terra:

Condenado por ser gay, homem que quebrou código nazista recebe perdão

Considerado o Pai da Computação, Alan Turing recebeu um perdão real póstumo

O britânico Alan Turing (1912-1954), que ajudou os aliados a vencer a 2ª Guerra Mundial ao quebrar o código secreto nazista, recebeu um perdão real póstumo.

Homossexual, Turing foi punido com a castração química por manter relações com pessoas do mesmo sexo.

Ao ser condenado, o especialista perdeu o acesso a informações sigilosas e teve de interromper o trabalho de quebra de códigos que se provou vital para os aliados durante a 2ª Guerra Mundial.

O perdão foi concedido sob a Real Prerrogativa do Perdão após uma solicitação do ministro da Justiça do Reino Unido, Chris Grayling.

Tratamento 'terrível'

"Alan Turing foi um homem excepcional com uma mente brilhante", afirmou Grayling. Ele disse que a pesquisa de Turing conduzida durante a guerra em Bletchley Park "encurtou o conflito" e "salvou milhares de vidas".

O trabalho de Turing ajudou os Aliados a ler as mensagens navais alemães cifradas com a máquina Enigma. Ele também contribuiu com um trabalho fundamental na quebra de códigos que só foi divulgado ao público em abril de 2012. "A sua vida foi ofuscada por sua condenação pela homossexualidade, algo que consideramos injusto e discriminatório e que agora foi finalmente revogada", afirmou Grayling.

"Turing merece ser lembrado e reconhecido por sua fantástica contribuição ao esforço de guerra e por seu legado à ciência. Um perdão da Rainha é uma homenagem justa a um homem excepcional."

O perdão passa a ter efeito nesta terça-feira, 24 de dezembro.

Morte

Turing morreu em junho 1954 por envenenamento por cianeto. Um inquérito aberto pela polícia concluiu que ele havia se suicidado. No entanto, biógrafos, amigos e outros alunos de sua vida contestam o laudo e sugerem que sua morte foi um acidente. Há anos, muitas pessoas vêm batalhando pela concessão de perdão a Turing. Em dezembro de 2011, um petição online foi criada no site do governo britânico reivindicando o perdão a Turing.

A campanha reuniu mais de 34 mil assinaturas, mas o pedido acabou negado por Tom McNally, então ministro de Estado no Ministério da Justiça britânico, para quem Turing havia sido "devidamente condenado" pelo que era considerado um crime na época. Antes disso, em agosto de 2009, uma petição havia sido criada para pedir o perdão a Turing. Na ocasião, o matemático ganhou um pedido de desculpas oficial do então primeiro-ministro Gordon Brown.

Brown definiu como "terrível" a maneira como Turing foi perseguido por sua homossexualidade.



Moradores de rua celebram Natal debaixo da ponte no RJ


Sim, ainda existe beleza nas cenas urbanas mais desprezadas e tristemente corriqueiras nas grandes cidades do Brasil.

Sim, ainda existe companheiros de infortúnio que, apesar de todas as adversidades da vida, consegue encontrar razões e amigos para celebrar o Natal.

A notícia é do Extra:

Moradores de Rua realizam ceia de Natal sob viaduto de Ramos, na Zona Norte do Rio

Já é Natal também sob o Viaduto São Cosme, em Ramos, na Zona Norte do Rio. É o que comprova, pelo menos, a cena registrada pelo leitor Harlisson Fabricio de Assis Pereira, na manhã desta quarta-feira, que mostra um grupo de pelo menos seis moradores de rua celebrando a data especial. E em grande estilo, com direito a ceia, refrigerante e panetone - isso sem falar na decoração, com sofá, poltrona, mesa de jantar e, claro, árvore de Natal.

- Passo por ali com frequência, e volta e meia vejo algumas dessas pessoas. Os outros, acho que foram convidados apenas para festejar o dia de hoje - brinca o oficial da Marinha, de 29 anos, que enviou o flagrante para o WhatsApp do EXTRA (21 99644-1263).

De acordo com Harlisson, a empolgação do grupo não é exclusividade do período natalino. Em outras ocasiões, o espaço sob o viaduto, na Rua Leopoldina Rêgo, virou palco de churrascos animados e outros tipos de festa.

- Eles são conhecidos do pessoal que mora na região, tem muita gente que os ajuda. E não roubam, nem nada do gênero, apenas estão desabrigados mesmo - conta Harlisson, que mora no bairro vizinho de Olaria.



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails