quarta-feira, 31 de outubro de 2012

De volta aos reformadores

1517-2012 
495 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE


Nesses tempos bicudos, em que vemos muitas pessoas se servindo da Igreja em vez de servir a Deus e ao próximo, não nos surpreende em nada encontrar nos reformadores quem se opusesse a esta mercantilização da religião. 

Pena que, na atual era dos "teólogos" profanos do utilitarismo, os reformadores sejam muito pouco lidos e respeitados, quando não espezinhados e rejeitados por aqueles que alegam seguir o caminho aberto por eles. 

Em 1519, Martinho Lutero escreveu o seu "Sermão sobre o Venerabilíssimo Sacramento do Santo e Verdadeiro Corpo de Cristo e sobre as Irmandades" (que pode ser lido na íntegra no e-cristianismo), em que fala sobre a Eucaristia, ainda numa visão mais próxima da Igreja Católica do que aquela que formularia ao longo do seu ministério. 

É preciso ler este Sermão levando em conta que Lutero ainda estava no início de sua separação do Vaticano. As 95 teses haviam sido pregadas na porta da Igreja de Wittenberg em 31 de outubro 1517 e  a Dieta de Worms se reuniria apenas em 1521 para julgá-lo, ano em que o papa o excomunga. 

Para Lutero, a eucaristia era um dos temas centrais da vida da Igreja, e ele enfatiza a questão da fé, da comunhão e do serviço cristãos, que, infelizmente, vêm sido esquecidos pela igreja evangélica brasileira em pleno século XXI:

13. Não é difícil encontrar pessoas que gostam de desfrutar, mas não querem contribuir. Isto é: gostam de ouvir que neste sacramento lhes é prometido e dado auxílio, comunhão e assistência de todos os santos. Elas, entretanto, não querem retribuir a comunhão, não querem ajudar o pobre, tolerar os pecadores, cuidar dos miseráveis, solidarizar-se com os que sofrem, interceder pelos outros. Também não querem apoiar a verdade, buscar o melhoramento da Igreja e de todos os cristãos empenhando seu corpo, seus bens e sua honra. Elas não o fazem porque temem o mundo, porque não querem ter que sofrer desfavor, prejuízo, vergonha ou morte, embora Deus queira que, por causa da verdade e do próximo, elas sejam deste modo impelidas a desejar tão grande graça e força desse sacramento. Estas são pessoas que buscam seu próprio proveito, às quais este sacramento de nada serve, assim como é insuportável o cidadão que quisesse ser apoiado, protegido e favorecido pela comunidade, mas que, em contrapartida, não servisse à comunidade e nada fizesse por ela. Nós, pelo contrário, precisamos deixar claro que os males dos outros também sejam nossos, se queremos que Cristo e seus santos assumam os nossos males; assim a comunhão se torna plena e se faz justiça ao sacramento. Pois onde o amor não cresce diariamente e transforma a pessoa de tal forma que ela participe da existência de todos, aí o fruto e o significado desse sacramento estão ausentes.
[...]
Entra aqui a terceira parte deste sacramento: a FÉ, que é o que importa. Pois não basta saber o que é e o que significa este sacramento. Não basta saberes que se trata de uma comunhão e de uma misericordiosa permuta ou mistura do nosso pecado e sofrimento com a justiça de Cristo e de seus santos. Tu também precisas desejá-lo e crer firmemente que o recebeste. É neste ponto que o diabo e a natureza mais se esforçam, para fazer com que a fé de modo algum persista. Algumas pessoas exercitam sua habilidade e sutileza tentando descobrir onde fica o pão ao ser transformado na carne de Cristo e o vinho [ao ser transformado] em seu sangue, e como, sob tão pequena porção de pão e vinho, pode estar encerrado todo o Cristo, sua carne e seu sangue. Não importa que tu não te preocupes com essas questões. É suficiente que saibas que é um sinal divino, no qual a carne e o sangue de Cristo estão verdadeiramente contidos; deixa o "como" e o "onde" por conta dele mesmo.
[...]
Por isso também é útil e necessário que o amor e a comunhão de Cristo e de todos os santos aconteçam ocultamente, de modo invisível e espiritual, e que nos seja dado apenas um sinal corporal, visível e exterior dos mesmos. É que se esse amor, comunhão e apoio fossem evidentes como a comunhão temporal das pessoas humanas, não seríamos fortalecidos nem exercitados no sentido de confiar nos bens invisíveis e eternos ou de desejá-los; antes, seríamos exercitados em confiar apenas nos bens temporais e visíveis, ficando tão habituados a eles que não abriríamos mão deles de bom grado e seguiríamos a Deus somente na medida em que nos precedessem coisas visíveis e palpáveis. Desta forma, seríamos impedidos de jamais chegar a Deus, pois, para chegarmos até ele, todas as coisas temporais e perceptíveis devem desaparecer e nós devemos nos desacostumar delas por completo.
(Martinho Lutero, in Obras SelecionadasOs primórdios – Escritos de 1517 a 1519, Eds. Sinodal/Ulbra/Concórdia, 2004, vol. 1, 2ª ed., pp. 425-444, tradução de Annemarie Höhn et al.)
De volta à Reforma, já!






terça-feira, 30 de outubro de 2012

Expulso homem que não ficou em pé para leitura da Bíblia na Câmara de Piracicaba

Confesso que nunca entendi a razão porque políticos gostam de fazer menção à Bíblia em público enquanto fazem negociatas às escondidas. O pecador secreto sempre lucra mais que o santarrão de fachada.

Não estou dizendo que este seja o caso da Câmara de Vereadores de Piracicaba (SP), até porque não os conheço, e seria leviandade de minha parte acusá-los de algo.

Agora, retirar alguém à força do recinto, com ajuda da Polícia Militar, só porque a pessoa não se levantou durante a leitura da Bíblia é uma afronta aos mais básicos princípios constitucionais.

Ou os próprios religiosos dão um basta a essa exploração barata da religião, ou sofreremos todos as consequências de um regime talibã gospel no Brasil.

Por isso mesmo combatemos tanto os "pastores" evangélicos que se metem em política rasteira aqui no blog. Ao fazer isso, eles passam à sociedade a ideia de que os evangélicos, como um todo, são um bando de aproveitadores que usam a Bíblia apenas para obter privilégios mediante uma aparência de santidade.

A notícia vem do G1 (com vídeo incluído no site):

Câmara de Piracicaba retira servidor público à força durante leitura bíblica

Funcionário do MP foi expulso do prédio por PM e por guarda municipal.
Segundo o presidente da OAB, ato foi 'exagerado' e desafia Constituição.


O funcionário do Ministério Público em Piracicaba (SP), Regis Montero, foi expulso do plenário da Câmara na noite desta segunda-feira (29) por não ficar em pé durante a leitura de um trecho da Bíblia. A sessão chegou a ser interrompida pelo presidente do Legislativo João Manuel dos Santos (PTB) para a retirada do servidor, que foi levado pelo braço por um policial militar e por um guarda municipal. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considera o ato inconstitucional.

Em imagens disponibilizadas no site da Câmara, o vereador André Bandeira (PSDB) começa a leitura da Bíblia quando foi interrompido pelo presidente da Casa. Santos pediu que o servidor que estava sentado ficasse em pé durante o ato ou que se retirasse. Após uma discussão, o manifestante foi expulso à força do prédio.

O presidente da Câmara afirmou que apenas cumpriu o Regimento Interno da Casa. Ele nega que o ato de retirar o servidor tenha sido inconstitucional. Já o diretor jurídico do Legislativo de Piracicaba, Robson Soares, disse que Montero fazia ‘baderna’ e que ‘tumultuava’ a sessão naquele dia. “O ato da leitura bíblica está no artigo n° 121 do Regimento Interno. É algo presente nas sessões desde a criação do Legislativo piracicabano. Não obrigamos ninguém a acompanhar a leitura, mas que essa pessoa respeite as regras da Casa ou que se retire”, afirmou Soares.

Ainda segundo o diretor jurídico, o homem desrespeitou os funcionários, os vereadores e os policiais durante a discussão. “Não é a questão constitucional que está em pauta, mas o desrespeito do homem com quem estava lá tentando trabalhar”, disse o funcionário.

Desrespeito de vereador

Segundo uma pessoa presente no plenário durante a confusão, e que pediu para não ser identificada, o movimento ‘Reaja Piracicaba’, que tem feito várias manifestações recentemente, está sendo responsabilizado pelos parlamentares pelo ocorrido na segunda-feira. “Já não basta o desrespeito do próprio vereador Trevisan Junior (PR) quando fala olhando para o plenário. Segundo o mesmo Regimento, quem utiliza a tribuna deve falar ao presidente”, afirmou.

Medida exagerada

O presidente da OAB de Piracicaba, Odinei Assarisse, afirmou que o acontecido na Câmara desafia o que está na Constituição Federal. “Acredito que é inconstitucional, pois o estado brasileiro é laico. Ninguém pode ser impedido de acompanhar a sessão na Câmara por não ser católico“, pontuou o advogado.

Ainda segundo Assarisse, a expulsão do homem foi uma ‘medida exagerada’ por parte dos vereadores. O presidente da OAB de Piracicaba também disse que cabe uma medida judicial por parte do homem retirado do prédio do Legislativo. ”Se o servidor se sentiu ofendido, cabe a ele tomar as atitudes necessárias. Não vejo motivo para a retirada dessa pessoa do plenário. Foi um exagero”, disse.

Posição da GM e da PM

A Guarda Municipal e a Polícia Militar de Piracicaba, por meio das respectivas assessorias de imprensa, afirmaram que apenas ‘cumpriam ordens’ do presidente da Câmara.

Posição do sevidor público

Montero informou que não descarta acionar a Câmara juridicamente pelo ato. "Já estive outras vezes no Legislativo e isso nunca havia acontecido", afirmou. Ele disse também não lembrar se havia ficado sentado nas sessões durante leitura da Bíblia em outras ocasiões. O servidor disse que faz parte do Movimento Reaja Piracicaba se for considerado que ele é contra o aumento do salário dos vereadores.



Inventário do invisível

Então... você acha que sabe tudo? Mad afinal, o que é o "invisível", por exemplo?

Essa é a pergunta que John Lloyd tenta responder de maneira absolutamente instigante, para deleite de todos aqueles que não se conformam em ver (e tentar entender) apenas a superfície das coisas.

O primeiro vídeo abaixo é a participação de John Lloyd na conferência TED, com legendas em português.

O segundo vídeo é um resumo muito bem humorado de sua preleção.






segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Papa envia bênção a Tite, técnico do Corinthians

Agora vai! O papa enviou uma bênção especial para o técnico do Corinthians, o Tite (na foto com o padre Marcelo Rossi), segundo informa o blog Notícias do Timão.

Agora, cá entre nós, que ninguém nos leia, pela foto não parece que o Padre Marcelo Rossi resolveu lutar MMA com o também corinthiano Anderson Silva e ficou com a cara inchada?

Em carta, Tite recebe bênção do Papa Bento XVI

Católico fervoroso, o técnico Tite ecebeu uma bênção do Papa Bento XVI, durante missa realizada na última sexta-feira, na igreja Santo Antônio de Lisboa, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

O treinador foi homenageado na celebração pela conquista da Taça Libertadores e recebeu o pergaminho das mãos do padre Denílson Geraldo, responsável por entrar em contato com o Vaticano.

– Foi um pergaminho enviado pelo Papa que chegou até mim – revelou o treinador, neste sábado, após a entrevista coletiva, no Pacaembu.

Tite frequenta sempre que possível a missa no Tatuapé. O treinador vai toda quinta-feira à celebração realizada pelo padre Marcelo Rossi, no santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, na zona sul da capital paulista.





Haddad arrebenta Malafaia em SP


Foi um desastre o apoio entusiasmado de Silas Malafaia ao candidato (do PSDB) José Serra à prefeitura de São Paulo.

A avaliação não vem de nenhum opositor do PSDB, mas do próprio coordenador da campanha tucana, o deputado federal Edson Aparecido, que constatou que o partido perdeu uma semana falando da repercussão do caso do "kit gay", e não teve mais tempo de retomar o caminho que o havia levado a vencer o 1º turno.

Na entrevista dada ao site Terra, o deputado tucano tenta fazer parecer que a entrada do pastor carioca na campanha de Serra foi assim, digamos, uma "casualidade", como se Malafaia estivesse passando na frente do comitê, entrou para tomar um café e terminou gravando um apoio desinteressado.

Como se Malafaia já não tivesse virado a casaca nas eleições presidenciais de 2010, trocando Marina Silva (então no PV) pelo mesmo Serra.

O fato é que o depoimento hidrófobo de Malafaia, dizendo que ia "arrebentar" o candidato do PT, Fernando Haddad, pegou muito mal e eliminou qualquer possibilidade de José Serra reverter a tendência de alta na sua já astronômica taxa de rejeição aferida pelas pesquisas.

Não fazia qualquer sentido um pastor carioca querer polarizar uma eleição paulistana com qualquer candidato. Passou a impressão de que José Serra não tinha capacidade (ou vontade) de defender as próprias ideias, ou - pior - havia delegado a um "estrangeiro" a tarefa de atacar posições pelas quais ele tinha alguma simpatia. 

Nem o recuo tucano na questão do kit gay, colocando Malafaia para escanteio quando ficou claro que o PSDB, na gestão Serra, já tinha distribuído material similar nas escolas, foi suficiente para dar ao candidato alguma sobrevida na eleição.

O estrago já estava feito.

E só agora o coordenador da campanha constata - ainda que não explicitamente - que o apoio de Malafaia foi um "abraço de afogado", afundando Serra na sua pregação do "arrebenta".

Ainda que tenha sido o grande prejudicado pelo apoio de Malafaia,  José Serra não foi a única vítima do controverso aliado. Ratinho Júnior, candidato a prefeito de Curitiba (PR), também sentiu os terríveis poderes do abraço do pastor carioca e viu sua eleição virar fumaça. 

Pelo menos, haverá um efeito pedagógico nessa tragédia anunciada: TODOS os partidos pensarão melhor antes de convocar um "pastor" qualquer para dar apoio aos seus candidatos.

O que o eleitorado de São Paulo mostrou foi que pastor ou igreja pode até tirar voto do adversário, mas pouco ou nada acrescenta a quem apoia. E, pior, dependendo do ranço e do ódio que transmita, pode terminar minando a base eleitoral do seu candidato.

Nas eleições proporcionais, uma denominação pode até eleger um vereador ou deputado (o que geralmente acontece), mas sua influência se dilui sensivelmente nas eleições majoritárias (para prefeito, governador, senador ou presidente).

E isso é uma péssima notícia para os "pastores" que estão sempre dispostos a negociar o apoio do seu rebanho em nome de um suposto capital político que acaba de ser desmentido pelas urnas paulistanas.

Resta saber se algum candidato vai buscar o apoio de Malafaia para as próximas eleições.

Depois do nocaute que ele recebeu de Fernando Haddad, vai ser difícil alguém querer tirar foto abraçado a ele.



domingo, 28 de outubro de 2012

A invasão grisalha

Quem diria que daqui a 10 anos o planeta terá um bilhão de idosos, e esse contingente exige uma nova atitude não só dos governos mas de toda a população mundial para enfrentar os enormes desafios que essa cifra traz, ao mesmo tempo que oferece ótimas oportunidades de melhorar a vida de todos.

O jornalista americano Ted C. Fishman escreveu o livro "Shock of Gray" (algo traduzido como "Choque do Grisalho"), que aborda o tema. Abaixo uma entrevista que ele concedeu ao Estadão e foi publicada no dia 07/10/12.

Trata-se de uma leitura espetacular (o adjetivo é esse mesmo, pode crer) não só para o seu domingão, mas para todo o resto da sua vida e a de sua família e seus amigos. Leia e aprenda sem moderação:

Invasão grisalha

Viver mais está dificultando o planejamento do mundo. A boa notícia é, justamente, que se vive mais

Mônica Manir

Como bom jornalista que é, Ted C. Fishman gosta de uma boa história. Daí que começa Shock of Gray com uma muito próxima, a dos próprios pais, para ilustrar duas faces do mesmo dominó: a velhice. Enquanto a mãe, na casa dos 80, ainda rebola num concerto tributo ao Led Zeppelin e nada no Lago Michigan, o pai muito antes disso entrou num processo degenerativo, que o deixou totalmente dependente da família.

Daí em diante Ted parte para o subtítulo do livro: o envelhecimento da população mundial e como ele coloca jovens contra velhos, filhos contra pais, trabalhadores contra patrões, empresas contra rivais e nações contra nações. Tem-se a impressão de que só virá pedreira. Mas não é assim. O jornalista, autor do best seller China S. A., também mostra como o choque grisalho traz expansões de civilidade, de círculos sociais e de investimentos na ciência em busca da expansão maior, a imortalidade.

Ted estava em Chicago, sua cidade natal, quando deu esta entrevista atualizando suas pesquisas. Shock of Gray foi lançado em 2010 e, na época, ainda não se cravava 1 bilhão de idosos em dez anos, dado que a ONU divulgou nessa semana. Um pouco antes da entrevista o jornalista havia feito uma palestra para 1.100 executivos da segurança pública sobre como a polícia, os bombeiros e outros serviços de emergência devem se adaptar a um mundo em que, a cada segundo, duas pessoas celebram o 60º aniversário. "O complicador da história é que esses profissionais estão enfrentando pressão para que reduzam suas pensões", diz. Funcionários públicos contra governo. Trabalhadores contra patrões, enfim.

Quem sofrerá e quem se beneficiará com 1 bilhão de idosos daqui a dez anos?

Ted C. Fishman - Um mundo de idosos implica enormes desafios em diferentes frentes. O envelhecimento da população se propalou por dois motivos: o prolongamento da vida em si e o fato de muitas famílias serem menores do que há uma ou duas gerações. Se continuarmos construindo redes de seguridade social nos moldes dos anos 1930, 50 ou 80, os países irão à bancarrota e todos os cidadãos vão sofrer. E, se não encontrarmos maneiras de cuidar do crescente e imenso grupo de pessoas que não tem filhos, então centenas de milhões no mundo se encontrarão sozinhos e isolados quando mais velhos. Acho, no entanto, que o aspecto mais importante de um mundo envelhecido é que o benefício é maior que o sofrimento. O fato de as pessoas estarem morrendo mais tarde significa que a humanidade está ganhando o maior tesouro de todos: mais vida. É o que sempre desejamos, desde que começamos a misturar ervas em tigelas e conversar com espíritos nas árvores. O economista Robert Fogel, Nobel de Economia, destacou que por 7 mil gerações não houve grandes alterações na longevidade. Isso começou a mudar a partir do século passado, e agora as pessoas normalmente vivem 40 anos mais. Isso é maravilhoso.

Mas ainda não alterou o tom pejorativo que cerca a palavra 'velho'.

Ted C. Fishman - "Velho" é uma expressão escorregadia, usada de forma diversa pelas diferentes culturas. Quando se pergunta a um americano com quantos anos ele se sente, ele geralmente se dá 15 anos a menos que a idade, porque a valorização da juventude é muito alta aqui. Já um japonês responde com dez anos a mais, porque eles veneram a velhice e sentem que, com ela, ganham sabedoria. Há também uma divergência sobre quem é velho ou não no trabalho e fora dele. Quando empregadores e estatísticos tratam de trabalhadores mais velhos, tendem a pensar naqueles com mais de 50. Mas, na maioria dos estilos de vida, os 50 anos se encaixam na meia-idade. Claro que, se você joga futebol ou precisa dar um sprint na Olimpíada, ter 30 anos é muito. Mas, se aspira a ser papa, ainda é jovem de tudo.

Como preparar nossa sociedade para mais idosos e menos carrinhos de bebê?

Ted C. Fishman - Um caminho é melhorar o condicionamento físico para que os mais velhos continuem ágeis. Além disso, com pessoas vivendo tanto, teremos que redesenhar o espaço físico das nossas comunidades para torná-las mais acessíveis. Em Shock of Gray eu descrevo um lugar em Tóquio chamado Sugamo, algo como a Broadway ou os Champs-Élysées, só que dirigido à faixa dos septuagenários. A maior parte dos consumidores exibe uma forma física notável e consegue se divertir muito. Para tanto, as ruas se tornaram mais "suaves", de tal forma que bengalas e andadores não se enrosquem nas calçadas, por exemplo. Os vendedores das lojas também foram treinados para lidar com uma clientela que tem dificuldade para ouvir e para enxergar de perto e que, às vezes, também parece um pouco desorientada. O transporte público é essencial em lugares assim, e criar meios de locomoção que os idosos possam usar confortavelmente e em segurança é essencial para ajudá-los no acesso os serviços e à interação social de que precisam para se manterem saudáveis e felizes. Obviamente, esses são benefícios que também atendem os pais com carrinhos de bebê. Ajustes que criam tensão entre gerações são aqueles que desviam recursos dos jovens, como dinheiro para a educação, para os mais velhos, como investimentos no sistema de saúde. Os orçamentos públicos terão de pesar prioridades para gerações que estão décadas distantes uma da outra.

A medicina convencional sabe como tratar os idosos?

Ted C. Fishman - Sim, os avanços na medicina são um ingrediente chave para a longevidade. Ainda assim, pessoas mais velhas podem sofrer de tratamento excessivo. Em geral, sintomas que parecem estar relacionados à idade são, na verdade, resultado da sobreposição de medicamentos. Um bom geriatra muitas vezes começa o tratamento de uma pessoa de idade tirando todos os remédios que ela vem tomando até então.

Estamos mais próximos da imortalidade? Ou mais perto de um infinito controle de doenças crônicas?

Ted C. Fishman - Nem uma coisa, nem outra. Mas, se você vai frequentemente a consultórios médicos, sabe que leva uma eternidade para ser atendido.

No Brasil, que tem cerca de 23,5 milhões de idosos, a previdência é identificada como o principal problema decorrente do envelhecimento da população. O processo todo foi pensado como se fôssemos viver, no máximo, até os 70. Como isso se dá nos EUA?

Ted C. Fishman - Nos EUA, pesquisas mostram que a insegurança quanto à aposentadoria é o grande medo dos americanos. O tema é tão complicado que os políticos evitam discuti-lo, então se prorroga o problema ad infinitum.

Ao mesmo tempo, mais da metade dos mais velhos no Brasil sustenta a família.

Ted C. Fishman - Existe uma grande desconexão em relação à forma como os recursos são transferidos entre as gerações. Na maior parte dos países industrializados, pensões e custos com o sistema de saúde transferem recursos dos trabalhadores mais jovens para os mais velhos e dependentes. No entanto, no seio das famílias, a transferência se dá dos mais velhos para os mais novos. Uma das razões para as pessoas estarem tão preocupadas quanto à previdência social, a ponto de sair às ruas para protestar a respeito, é que desejam o dinheiro para contribuir com a saúde e a educação dos netos. Uma vantagem das famílias menores, com uma ou duas crianças, é que o dinheiro dos pais e dos avós pode ser direcionado para uma educação mais completa, em vez de uma educação parcial para quatro, cinco ou seis crianças. É um gasto privado que ajuda os países a desenvolver seu capital humano.

Você afirma no livro que o envelhecimento da população mundial pode acelerar a globalização. Como isso acontece?

Ted C. Fishman - O envelhecimento acelera a globalização porque os empregos e o dinheiro investido migram para os países mais jovens, nos quais a mão de obra é barata e as populações rurais ainda estão indo para as cidades. Uma vez que essa migração se dê, o tamanho das famílias passa a diminuir, as crianças têm uma educação melhor, mulheres podem frequentar as escolas e conseguir melhores empregos e o valor do mercado e da mão de obra local crescem. A partir daí aquele país promissor começa a procurar lugares nos quais investir e conseguir mão de obra mais barata, e o ciclo inteiro se repete. Nesse sentido, um mundo envelhecido é um mundo mais próspero.

Nas suas pesquisas anteriores, a Espanha lidava com um contingente grande de imigrantes, entre eles muitos equatorianos que trabalhavam justamente como curadores de idosos e desguarneciam seu país de mão de obra jovem. Como está essa realidade agora, após a crise econômica?

Ted C. Fishman - A economia da Espanha se enfraqueceu muito desde aquelas minhas reportagens de dois anos atrás. O marcante é o desejo de permanência desses imigrantes, que hoje chegam a 5,5 milhões de estrangeiros residentes no país. Apesar das altas taxas de desemprego, o salário que um equatoriano receberia em um ano de trabalho na sua terra natal corresponde a dois meses na Espanha. Ou seja, eles preferem ficar por lá, apesar de o governador equatoriano ter criado o Welcome Home Program, chamando de volta a população jovem.

Um desafio da China é chegar à riqueza o mais rápido possível, antes que os seniores emperrem o crescimento. Os chineses vão ter sucesso nisso?

Ted C. Fishman - Devido à política do filho único, a China é hoje o país que envelhece mais rapidamente, mas ainda não é um país velho. Pelo contrário: está no ponto ideal do seu período de bônus demográfico. Os chineses também estão muito preocupados em educar a nova geração de trabalhadores para tirá-los dos escalões inferiores de trabalho. Acredito que, para centenas de milhões de chineses, essa fórmula funcionará e suas famílias serão capazes de se sustentar sozinhas ao longo das gerações. No entanto, para outras centenas de milhares essas mudanças não ocorrerão rápido o suficiente e seu futuro será marcado por pobreza e isolamento. É um cenário bem misto.

Está prevista sua vinda ao Brasil na semana que vem para um simpósio de economia global. O que já sabe do País quanto a sua demografia?

Ted C. Fishman - O que sei é que o Brasil pode tirar vantagem do tão famoso "dividendo demográfico". É quando o número de nascimentos está diminuindo ao mesmo tempo que a população de jovens está chegando ao seu clímax e seus pais ainda continuam saudáveis. Juntas, essas tendências significam que o país tem muitas pessoas em idade produtiva e relativamente poucas pessoas dependentes, sejam crianças ou idosos. Para muitas nações, isso simboliza o período de máximo crescimento. Em geral acontece uma única vez. O Brasil pode capitalizar isso ou então desperdiçar a oportunidade por causa da corrupção generalizada e do planejamento econômico politicamente popular, porém instável. Mas acho que não é de forma alguma o pior caso - e ainda pode vir a ser um dos mais bem-sucedidos.

Qual foi a história mais interessante que ouviu entre tantas que pesquisou para o seu livro?

Ted C. Fishman - Gostei da história de Sarasota, na Flórida, demograficamente a mais idosa do país. Ela se tornou um centro de inovação em serviços para as pessoas mais velhas. É como um Vale do Silício para um mundo em envelhecimento. A região é um ímã para aposentados ricos, que muitas vezes vivem em mansões ou condomínios de luxo e ali permanecem até não poderem mais gerenciar a casa. Quando isso acontece, eles se mudam para uma comunidade de aposentados que se assemelha a um hotel 4 estrelas. Mas, por Sarasota ser uma comunidade agradável à beira-mar, agrada a ricos e pobres. Muitos vivem em pequenas casas, outros em barracas ilegais na periferia da cidade. É uma comunidade maravilhosa, onde as pessoas mais velhas procuram ficar ativas e se engajar culturalmente. Mas há também tristeza lá. Muitas mulheres em cadeiras de rodas contam com a caridade para sobreviver. Gastaram a maior parte do seu dinheiro e de sua força física cuidando de um marido doente, que agora está morto.

Shock of Gray foi publicado há dois anos. Que capítulos você acrescentaria a uma nova edição?

Ted C. Fishman - Eu acrescentaria mais dados sobre a América Latina, vista como um bastião da juventude, mas que está envelhecendo mais rapidamente que os EUA, por exemplo.

E como está sua mãe? Viajando?

Ted C. Fishman - Minha mãe acaba de voltar da Índia, para onde foi pela primeira vez, e sozinha. Ela fará 85 anos em janeiro.



sábado, 27 de outubro de 2012

Tim Tebow registra patente do seu gesto de se ajoelhar

Tim Tebow é o jogador de futebol americano que foi a grande sensação da temporada passada da NFL (National Football League), não só por seu desempenho acima da média  no esporte como também por fazer questão de propagar a sua fé evangélica, como já comentamos aqui no começo deste ano.

A repercussão foi tamanha que o seu tradicional gesto de se ajoelhar com o cotovelo dobrado e o punho na testa (como na foto ao lado) foi profusamente imitado e ficou conhecido como "tebowing".

Até aí tudo bem. Cada um faz o que quer da sua vida e divulga a sua fé da maneira que lhe aprouver. Parece, entretanto, que a coisa foi um pouco mais longe do que se poderia imaginar.

Não é que Tim Tebow resolveu patentear o seu gesto, o tal "tebowing"?

Pois é exatamente isso o que você leu. Em abril, Tebow deu entrada com toda a documentação no órgão americano que cuida da propriedade industrial, e agora no começo de outubro finalmente teve a sua marca registrada.

O atleta declarou que "eu sei que era algo legal para mim no passado, mas não é algo que eu faça como 'tebowing'. É algo que eu faço como uma oração, e as coisas tomaram uma proporção e ficaram conhecidas como 'tebowing'. Então eu acho que é só para que eu possa controlar como isso está sendo usado, para ter certeza de que está sendo usado da maneira correta".

Tebow acrescentou ainda que não pretende ter nenhum ganho financeiro com o registro da patente e que, mesmo que venha a ganhar dinheiro com a marca no futuro, isto seria revertido para a instituição de caridade que leva o seu nome, a Tim Tebow Foundation.

Agora, não deixa de ser curioso que você tenha que pedir licença (e até pagar por isso) a alguém só porque se ajoelha de uma determinada maneira.

A fonte da notícia é o USA Today.



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

No jardim das feras

A vastíssima literatura histórica disponível sobre o nazismo se caracteriza, principalmente, pela biografia dos principais líderes (sendo Hitler o personagem mais retratado) e pela narrativa dos incidentes diplomáticos e das estratégias e batalhas militares.

É relevante, portanto, quando aparece uma abordagem um tanto quanto diferente desses batidos fatos históricos, com pontos de vista aparentemente periféricos, mas que não deixam de penetrar no âmago das trevas que cobriram a humanidade no começo do século XX.

É este o caso do livro “No Jardim das Feras” (“In the Garden of Beasts”), de Erik Larson, lançado nos Estados Unidos em 2011 e que teve – felizmente – rápidas tradução (por Berilo Vargas) e edição (pela Ed. Intrínseca) no Brasil em 2012.

O subtítulo “Intriga e Sedução na Alemanha de Hitler” (em inglês é “Love, terror, and na American family in Hitler’s Berlin”) sugere, de imediato, que se trata de uma narrativa que parte do indivíduo em direção à conjuntura que o cerca, e é exatamente isso o que Larson entrega ao leitor.

Tomando como personagens principais o embaixador americano em Berlim, William E. Dodd, e sua família (em especial a filha Martha), “No Jardim das Feras” traz uma perspectiva nauseante da “enfermidade” que começa a destruir uma sociedade então tida como moderna como a alemã, levando às mais extremas raias da loucura boa parte do que se entendia como “mundo” e “civilização” à época.

William E. Dodd era um pacato professor de origem sulista, que chegou ao cargo de diretor do Departamento de História da Universidade de Chicago, e que fizera seu Doutorado na Alemanha de 1897 a 1899, período em que desenvolveu enorme admiração pelo país europeu.

Em janeiro de 1933, Hitler chega finalmente ao poder com o cargo de chanceler, e, 5 meses depois, diante da recusa de outros nomes reconhecidamente mais preparados, o presidente americano Franklin D. Roosevelt convida Dodd para o posto até então vago de embaixador na Alemanha.

Os Dodd ainda sorrindo em 1933
Desta forma, a família Dodd desembarca em Hamburgo em 13 de julho de 1933, o pai William, a mãe Mattie e os filhos William Jr. (28 anos de idade) e Martha (24). Suas vidas nunca mais seriam as mesmas e pelos seus olhos o leitor começa a ver uma descida ao inferno sem fim.

O novo embaixador não era, digamos, “talhado” para as funções, seja do ponto de vista do temperamento que se esperava de um diplomata, seja quanto às suas posses, já que se esperava que quem ocupasse o cargo desenvolvesse uma vida social nababesca no novo país, o que não foi o caso de Dodd.

Intrigas com o corpo diplomático, portanto, não lhe faltaram. As “feras” do título do livro não eram só os nazistas, mas os próprios “colegas” americanos. Aos poucos Dodd vai se desgastando com os jogos de bastidores que se travavam à sua volta, interna e externamente, até que é “convidado” a voltar para casa em novembro de 1937, menos de 2 anos antes do estouro da Segunda Guerra Mundial, conflito este que ele já vaticinava (e reiteradamente alertava) enquanto estava em Berlim.

Nesses pouco mais de 4 anos à frente da embaixada americana em Berlim, a família Dodd testemunha a rápida e irreversível degeneração da alma alemã sob a batuta de Hitler. Pelos olhos deles, o leitor se sente parte de uma Berlim que, mesmo depois de atingir o fundo do poço da insanidade, consegue enlouquecer um pouco mais a cada dia que passa.

Pelos Dodd passam não só a nata do (então nascente) totalitarismo nazista, como Hitler, Göring e Himmler, mas toda uma casta de líderes, oficiais e suboficiais políticos, sociais, jornalistas, militares e diplomáticos que – mesmo que previssem o fim do mundo - foram incapazes de evitar a barbárie que se seguiu.

Lendo o livro se sabe, por exemplo, que Putzi Hanfstaengl, um dos próceres nazistas, achava que Hitler se “parecia com um cabeleireiro de subúrbio em dia de folga” (pág. 161).

É nessa rede de intrigas paralelas e imbricadas que o leitor acompanha um relato interessantíssimo de como uma sociedade se enferma, e leva algum tempo para que alguns (e somente alguns) se deem conta disso, mas aí já é tarde demais.

Os detalhes pitorescos e rocambolescos do livro ficam por conta de Martha Dodd, a filha esfuziante do embaixador que leva uma vida, digamos, livre demais (para não dizer “libertina”) para uma jovem dos anos 1930, ainda mais na posição que ela ocupava.

Pela cama de Martha passaram vários oficiais nazistas e diplomatas de outros países, além do futuro Prêmio Nobel de Medicina (1969) Max Delbrück. Sua verdadeira paixão parece que foi o russo Boris Winogradov, agente da embaixada soviética que pouco a pouco a enreda num roteiro (real) de filme de 007, até arregimentá-la como espiã, o que lhes trará (a ambos) sérias consequências para o resto da vida.

Um dos amantes de Martha, o chefe da Gestapo Rudolf Diels, a certa altura da narrativa (pág. 255), dá um depoimento muito interessante sobre a natureza do ser humano (e do mal em estado bruto):
Numa conversa com funcionários da embaixada britânica, mais ou menos nessa época, citada num memorando que depois foi enviado ao serviço exterior em Londres, Diels recitou um monólogo sobre seu próprio desconforto moral: “A imposição do castigo físico não é tarefa para qualquer um, e naturalmente ficávamos muito felizes de poder recrutar homens que estivessem preparados para não demonstrar escrúpulos em sua função. Infelizmente não sabíamos nada do aspecto freudiano do assunto, e só depois de alguns casos de chicotadas desnecessárias e de crueldades sem sentido compreendi que minha organização atraía, havia algum tempo, todos os sádicos da Alemanha e da Áustria sem o meu conhecimento. Atraía também sádicos inconscientes, ou seja, homens que não sabiam de suas tendências sádicas até participarem de um açoitamento. E, finalmente, ela na verdade criou sádicos. Pois parece que o castigo corporal acaba despertando tendências sádicas em homens e mulheres aparentemente normais. Freud teria explicado”.
O romance proibido de Martha e Boris dá um clima de suspense todo especial ao “Jardim das Feras”, e o leitor chega a torcer para que o estranho love affair do espião russo com a ninfomaníaca americana de alguma forma chegue a um final feliz.

Entretanto, como quase tudo que ocorreu àquela época, não há finais felizes para os personagens reais da trama, e talvez aí resida o maior mérito do livro, o de mostrar como seres humanos tidos como “normais” numa sociedade “convencional” podem estar muito mais perto do abismo do que eles jamais imaginaram.

Erik Larson escreveu um ótimo livro, fácil e gostoso de ler (apesar do tema mórbido), e felizmente os seus personagens deixaram farta documentação que o autor, mediante exaustiva pesquisa, conseguiu colecionar para tornar crível um roteiro que muitos poderiam pensar que se trata da mais alucinada ficção. Não por acaso já existe uma pré-produção do filme baseado no livro com Tom Hanks no papel de Dodd.

William E. Dodd foi um homem simples do Sul dos Estados Unidos que, por essas incríveis coincidências do destino, serviu como embaixador de seu país na Alemanha pouco antes da Segunda Guerra começar. Até certo ponto, foi um visionário que previu a guerra, mas seus alertas foram ignorados por seus superiores. Deixou, entretanto, uma observação da realidade alemã daqueles tempos que constata até que ponto a humanidade pode se degenerar (págs. 336-337): Na anotação que fez em seu diário no domingo, 5 de agosto de 1934, Dodd comentou um traço do povo alemão que ele observara em seus tempos de Leipzig, e que persistia mesmo sob Hitler: o amor aos animais, especialmente cavalos e cães.

“Numa época em que quase todos os alemães têm medo de trocar uma palavra com alguém que não seja um amigo íntimo, cavalos e cães são tão felizes que é como se quisessem falar”, escreveu ele. “Uma mulher capaz de denunciar um vizinho por deslealdade, e por a vida dele em risco, ou mesmo causar-lhe a morte, leva seu grande cão de aparência amistosa para um passeio no Tiergarten. Conversa com ele, afaga-o, sentada num banco, e ele atende às necessidades da natureza”.

Dodd tinha percebido que na Alemanha ninguém tratava mal um cachorro, e, por isso, os bichos não tinham medo dos homens, e eram sempre roliços e evidentemente bem cuidados. “Só os cavalos parecem igualmente felizes, nunca as crianças ou os jovens”, escreveu. “Quando vou para o trabalho, tenho o hábito de parar para dizer qualquer coisa a um par de lindos cavalos que esperam sua carroça ser descarregada. São tão limpos, tão gordos e tão felizes que parecem prestes a falar”. Era o que chamava de “felicidade equina’, fenômeno que tinha notado também em Nuremberg e Dresden. Sabia que essa felicidade era em parte fomentada pela lei alemã, que proibia a crueldade contra animais e punia os infratores com prisão – e era nisso que Dodd via uma profunda ironia. “Numa época em que centenas de homens são mortos sem julgamento ou nenhuma evidência de culpa, e em que a população literalmente treme de medo, os animais têm direitos garantidos que homens e mulheres nem sonham em ter”.

E acrescentava: “Pode-se facilmente desejar ser um cavalo!”.
Eles gostavam de animais...
Mal sabia Dodd que um ano depois, a milhares de quilômetros dali, no Brasil, o grande advogado (Heráclito Fontoura) Sobral Pinto invocaria a Lei de Proteção aos Animais brasileira para defender o líder comunista Luís Carlos Prestes e o militante alemão Arthur Ernest Ewert (conhecido pela alcunha de Harry Berger), então presos e torturados pela ditadura de Getúlio Vargas em repressão à Intentona Comunista de 1935.

O alemão Ewert foi tão barbaramente torturado por Filinto Müller que enlouqueceu, e mesmo assim ficou preso no Brasil até 1947, quando foi libertado e deportado para Alemanha, onde terminou seus dias num hospício em 1959. Curiosamente, Müller visitaria a Alemanha em 1937, onde fez questão de conhecer o facínora Heinrich Himmler, de quem era fã.

O fato é que, muitas vezes na história da humanidade, lá e cá, aqui e acolá, só os cães e os cavalos é que são felizes...



Hillsong Londres ataca de Dynamite e Gangnam Style

Comprovando a tese de que o negócio (ou "business") de muitas igrejas hoje em dia, lamentavelmente, é o entretenimento e não a pregação do evangelho da cruz de Cristo (com o qual, em geral, não têm nenhum compromisso), a Hillsong Church de Londres realizou um encontro embalado ao som (e à coreografia) dos hits batidões "Dynamite" (de Taio Cruz) e Gangnam Style (do rapper coreano PSY, mas sem o "sexy lady"), com uma pitadinha de "Stronger" da Kelly Clarkson no meio.

Ao que parece, a intenção da inusitada performance - registrada no vídeo abaixo - é promover a conferência da Hillsong prevista para 2013, com o título "This is Revival" ("Isto é Avivamento", curiosamente utilizando imagens de Billy Graham e do Cristo Redentor do Rio de Janeiro na propaganda institucional).

Entretanto, se o Gangnam Style for a ideia de "avivamento" da Hillsong, melhor pedir misericórdia a Deus para que Ele cuida bem do remanescente do seu povo que ainda sabe distinguir o sagrado do profano.



Pelo menos eles não tentaram criar uma versão gospel de Gangnam Style como aquela bizarra já produzida no Brasil:




quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Pastor ex-candidato a vereador deixa PSDB para apoiar Haddad do PT


Parece que os apelos do (agora sumido) Silas Malafaia a favor de José Serra não só não foram ouvidos, como muita gente, inclusive pastores filiados ao PSDB, tratou rapidamente de se afastar do "abraço de afogado" dos dois nominados.

É o caso do pastor Hideraldo Pagliarin, um dos líderes da família Pagliarin, que dirige a denominação evangélica conhecida como Comunidade Cristã Paz e Vida, muito atuante em São Paulo.

Pois foi na capital paulista que Hideraldo Pagliarin se candidatou a vereador pelo PSDB, que tem como candidato a prefeito José Serra, obtendo 16.137 votos, insuficientes entretanto para lhe assegurar uma cadeira na Câmara paulistana.

Ao lado de Luciano Gama, que também concorreu a vereador de São Paulo pelo PSDB com 12.154 votos, Pagliarin se desfiliou do partido fazendo severas críticas à cúpula tucana.

Luciano Gama assim se justificou ao portal R7:
Nós vemos um discurso intolerante e posturas extremadas na condução do processo político do PSDB e da campanha do candidato majoritário. Como não concordo, resolvi me retirar. Não se faz uma cidade justa e democrática para a população na base da porrada, do cassetete, da intolerância e do preconceito.
Ato contínuo, os dois ex-candidatos tucanos manifestaram o seu apoio a Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, aquele que Malafaia disse que iria "arrebentar" até que seu apoio raivoso começou a minar a candidatura de José Serra nas pesquisas eleitorais. E Malafaia sumiu enquanto Serra minguava...

E, para finalizar a matéria, nada melhor que um videoclip do pastor Hideraldo Pagliarin cantando animadíssimo com ritmo e gestos alucinantes:





quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Idosa desaparece durante visita a Aparecida

Vamos ajudar a divulgar essa notícia do Terra orando para que a família da dona Beatriz a encontre sã e salva:

vc repórter: idosa desaparece em visita ao Santuário de Aparecida

A família da aposentada Beatriz Joanna Von Hohendorff Winck, 77 anos, procura desde o último domingo, 21, por informações sobre a idosa, que desapareceu durante uma visita ao Santuário Nacional de Aparecida, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo.

Beatriz e o marido, Delmar Winck, 82 anos, partiram de Portão, cidade onde residem no Rio Grande do Sul, acompanhados de cerca de 30 pessoas que viajaram à Aparecida em uma caravana organizada pela agência Moratti Turismo.

Segundo o filho da idosa, João Carlos Winck, Beatriz sumiu por volta das 17h, sem deixar rastro. "Meus pais estavam em uma loja de velas, e minha mãe estava aguardando na porta da casa de velas enquanto ele efetuava o pagamento. Quando ele retornou para encontrá-la, ela já havia desaparecido", disse João.

Depois de procurar, sem sucesso, a mulher pelo Santuário, Delmar avisou o filho sobre o desaparecimento, ainda na noite de domingo. Desde segunda-feira, João e o cunhado estão hospedados com Delmar em um hotel da cidade, acompanhando as buscas por Beatriz.

Segundo João, um Boletim de Ocorrência foi feito na delegacia da cidade, e já foram feitas buscas no Instituto Médico Legal, hospitais e abrigos de Aparecida e cidades vizinhas, como Guaratinguetá e Potim. "Começamos a divulgar na mídia e no Facebook o desaparecimento dela, mas até o momento não apareceu nada. A Polícia Militar está fazendo buscas", disse.

A família da idosa afirma que ela não possui histórico de Mal de Alzheimer, mas confirma que ela já apresentou lapsos momentâneos de memória, e não descarta que alguma doença não diagnosticada possa ter afetado a memória de Beatriz.

Uma das hipóteses da família é que ela tenha se confundido, e entrado em um ônibus por engano, podendo estar em outra cidade, ou mesmo Estado. De acordo com a assessoria de imprensa do Santuário Nacional, no dia do desaparecimento, mais de 164 mil pessoas passaram pelo local.

A caravana que foi a Aparecida com Delmar e Beatriz seguiu para Holambra (SP) na terça-feira, e de lá passará por Poços de Caldas (MG), retornando no final de semana para o Rio Grande do Sul. A família da idosa permanece em um hotel de Aparecida, aguardando informações sobre dona Beatriz. Segundo João, a agência está prestando toda a assistência à família. Quem souber informações sobre o paradeiro de Beatriz, pode entrar em contato com a polícia, pelo 197.


O internauta Paulo Vargas, de Portão (RS), participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra.



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Atlântida teria sido encontrada no Triângulo das Bermudas

OK, OK... Tudo indica que seja mais uma dessas notícias sensacionalistas que se aproveitam dos grandes mistérios da história da humanidade para vender jornal (ou acessar os portais da internet), mas não custa delirar um pouquinho, não é mesmo?

Ainda mais quando se juntam duas grandes lendas que todo mundo já está cansado de ouvir falar, como o Triângulo das Bermudas e a cidade perdida de Atlântida.

Para quem não esteve no planeta nas últimas décadas, "Triângulo da Bermudas" é a região na confluência do Mar do Caribe com o Oceano Atlântico, de onde emanaria uma "energia" estranha que seria a causa de inúmeros desaparecimentos pra lá de misteriosos de navios e aviões.

Já Atlântida é um mito muito mais antigo, noticiado desde Platão na Grécia clássica, pelo qual um continente inteiro teria submergido no oceano 10.000 anos atrás.

A "novidade" é que um grupo de cientistas canadenses alega ter descoberto as ruínas de uma cidade submersa no Triângulo das Bermudas, que poderia ser a própria Atlântida.

Os líderes da expedição, Paul Winzweig e Pauline Zalitzki, utizaram um robô mergulhador que filmou as imagens registradas no vídeo abaixo, a 700 metros de profundidade, numa região ao Norte de Cuba.

Não tão ao norte, provavelmente, porque aí já seria Miami, né... até porque a descrição das imagens soa mais parecida com os hotéis faraônicos de Las Vegas.

As imagens mostram o que teria sobrado de construções monumentais, entre elas 4 pirâmides gigantes, sendo uma delas de cristal, além de uma esfinge e vários monolitos com estranhas inscrições.

Como a esmola parece ser muito grande, os pesquisadores já adiantaram que o complexo pertenceria a um período pré-clássico da história do Caribe, de uma região povoada por uma "civilização avançada, de cultura similar à de Teotihuacán [no México]".

Como a fonte da notícia é o jornal argentino La Nación, a gente tem até que dar um mísero voto de confiança. E só isso, nada mais!




Só que se você procurar um pouco mais na rede, verá que já havia uma entrevista com a tal Dra. Pauline Zalitski, feita por uma rádio cubana em 2008:



Ou seja, é ruim de acreditar nisso, hein...



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